Juras de Amor

Ultimamente, cada vez que ligo a SIC depois de jantar, tenho tido o desprazer de me deparar com o pior programa do momento transmitido por este canal. Sim, adivinharam, vou dizer mal, muito mal.

Imitando a versão ainda mais rasca da TVI, mais adulta, mais explícita e por isso mais picante, o programa da SIC pretende ser a versão Morangos com Açúcar do mesmo, um Fiel ou Infiel júnior, dedicado à faixa etária de adolescente a jovem adulto – claro que são jovens adultos com um grave atraso de desenvolvimento e demasiada infantilidade, verdadeiros atrasados mentais disfarçados de jovens “dinâmicos e empreendedores”*.

Começo pelas apresentadoras, as louríssimas Sara e Tristana, com ar de vamps oxigenadas, completamente ocas, muito longe da imagem que tinha delas no colégio, meninas lourinhas, cheínhas, matulonas, mas sem sobressair muito no meio dos uniformes. Penso que sendo filhas de quem são, não dignificam muito a família num programa de tão baixa qualidade e tão dado ao xinquilho. Imagino-me a chegar ao pé do meu pai, que não é figura pública nem escreve livros, e dizer: vou apresentar um programa em que contratamos actores para se insinuar descaradamente à vítima de desconfiança, montando-lhe uma armadilha, e assim testar a sua fidelidade à sua cara-metade, que assiste a tudo enquanto são filmados, para depois ser expostos em horário nobre. Acho que lhe daria no mínimo um desgosto, isso se ele sobrevivesse ao ataque cardíaco quando lhe fizesse o comunicado.

Sem falar de todos os sentimentos, falta de respeito, inversão de valores, deslealdade e toda a problemática ética por detrás de tudo isto, tão bem descrita há tempos pela Vieira do Mar, há por trás de tudo isto uma grande burrice por parte dos mandantes. E não há coisa mais insuportável que gente burra. Que arrisca a sua relação por 30 dinheiros convertidos numa possível viagem ao Brasil – não sei o que ganham quando a traição acontece, talvez a viagem ao Brasil na mesma, para uma tentativa de reconciliação.

Mas burros porquê? Porque colocam os respectivos numa situação de possibilidade de traição, que eventualmente não sucederia na vida real. Todos sabemos que “quem feio ama, bonito lhe parece”, e que por isso o namorado posto à prova pode até parecer irresistível à sua mais que tudo, mas na maioria das vezes não são! São feinhos, sem graça, com pouca probabilidade de na vida real se depararem com muitos assédios e oportunidades de aventuras ilegítimas – até eu, solteira e boa rapariga, bem mais engraçadita que a maioria das bimbas que por lá aparecem tenho dificuldades em arranjar um gajo, quanto mais outro com quem o trair! Ora, aparece-lhe à frente uma boazona - ou bonzão, depende do caso – muito mais interessante que a desenxabida da namorada gordinha, com pneu e celulite, que amua por hábito e fez birra no 3º mês de namoro exigindo aquele horror de aliança de namoro, que piroso mais piroso não há, e é difícil ficar-se indiferente.

Assim, a harmonia do casal é posta à prova e a confiança que pudesse existir é irremediavelmente abalada. Se a vítima da armadilha não resiste, acaba-se provavelmente a relação por uma traição fictícia e não consumada. Se por milagre resiste, e por isso se revela merecedora desta confiança, é o mandante da prova que mostra não confiar nem ser digno disso ao enganar e expor assim a pessoa que supostamente ama. Além de que, dada a publicidade televisiva, atrai as atenções do sexo oposto quanto ao espécime de sentimentos nobres, tão raro nos dias de hoje, arriscando-se a virar o feitiço contra o feiticeiro, e provocar uma onda de assédio tal que acabará por levar com um valente par de cornos. Bem merecido, por sinal.

Depois disto tudo recebem uma viagem ao Brasil. Conselho de amiga aos apanhados: aproveitem a viagem e o calor, e mandem aos vossos menos que tudo um par de patins, não sem antes lhes terem enfeitado a cabecinha com um belo par pontiagudo, e acabem as férias gozando a companhia de um exemplar de beleza tropical de rabinho empinado, que é para aprenderem!


* Gosto muito desta expressão, que é obrigatória em entrevistas de emprego ou quaisquer candidaturas, e que expressa a grande fantochada dos recursos humanos, e a formatação e lavagens cerebrais a que somos sujeitos.