19 de junho de 2005

Capítulo XII - O Rapto


Pode ler o Capítulo I em As Sombras

Pode ler o Capítulo XI em L'chaim Shedim

Carvalho procurou descrever resumidamente os acontecimentos que precederam o inesperado e misterioso desaparecimento do agente Tinoco horas antes. Da investigação que discretamente iniciara juntamente com o inspector Peixoto, tinha apenas conseguido averiguar que Tinoco provavelmente se encontrava acompanhado de Margarida Henriqueta Pires, a quem tinha ido novamente interrogar após um intrigante telefonema desta, comunicando estar em posse de novos dados relevantes. A participação do desaparecimento de Margarida pela família veio confirmar as suas suspeitas, levando-o a crer que o desaparecimento dos dois não se tratava de uma mera coincidência. E prontamente decidira procurar quem mais sabia sobre a Espiral e a única pessoa em quem podia confiar: o Professor.

- Lamento envolvê-lo, mas não tinha outra alternativa. Bem sei que se afastou, mas o desaparecimento de um agente e uma possível testemunha precipitaram a urgência da sua ajuda, e decidi que não poderia esperar até amanhã pela sua visita. Deixei o Peixoto encarregue das diligências formais inerentes à investigação do caso, mas dei-lhe ordens específicas de não envolver mais ninguém, nem fazer absolutamente nada que possa levantar suspeitas e atrair sobre nós as atenções da Espiral, até ordens em contrário.

O Professor serviu calmamente mais um whisky, que estendeu a Carvalho. - Não lamente, meu caro amigo, eu já me encontrava envolvido. – E mostrou-lhe os bilhetes de avião que o sobrinho encontrara na noite anterior. – Por mais que fuja ou me esconda, eles encontram sempre uma forma de me obrigar a voltar, desta vez através do meu sobrinho. – E relatou-lhe a sucessão de factos que levaram Pedro até si, sem desconfiar que a sua escolha para guardião da caixa não se devia a um acaso.

Entretanto Pedro esperava ansiosamente pela explicação que tardava em chegar, a caixa, o seu significado, e o desconhecido envolvimento da sua família com ela aguçavam-lhe a curiosidade e suscitavam-lhe uma série de dúvidas que o perturbavam e queria ver esclarecidas o quanto antes. Mas o seu tio parecia não ter pressa, e demorava-se com Carvalho na latada falando de trivialidades, desde a beleza da paisagem às árvores de frutos e se as colheitas tinham sido frutuosas na região. Pedro impacientava-se, mas o respeito que seu tio lhe incutia impedia-o de interromper a conversa dos dois velhos amigos e decidiu visitar a biblioteca na esperança de encontrar algum livro onde estivessem as respostas às perguntas que tanto o inquietavam.

Entrou na penumbra daquela ampla sala que albergava os milhares de livros coleccionados ao longo de vidas e várias gerações da sua família, meticulosamente arrumados e ordenados em armários que seu tio tinha desenhado especialmente para o efeito. Deixou-se envolver por aquele silêncio apaziguador e embrenhar-se naquela atmosfera tão conhecida e ao mesmo tempo tão misteriosa, rodeado por séculos de sabedoria, sentia-lhes o cheiro, e assim se deixou ficar por uns momentos. Pouco a pouco os seus olhos iam-se habituando à falta de luz e começando a distinguir as formas dos móveis centenários que decoravam a biblioteca. A grande mesa, as poltronas imponentes, até que parou naquilo que lhe pareceu um vulto. Tacteou apressadamente através do escuro até encontrar o interruptor, que acendeu imediatamente. A surpresa não podia ser maior:

- Júlia?


Pode ler o Capítulo XIII em Devaneios

27 comentários:

  1. Júlia de volta...Este conto está cada vez mais tortuoso, eh, eh, eh.
    E está bem escrito.
    Gostei.

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  2. Valeu a espera Lunita! Boa! Grande desenvolvimento!
    Agora aguardemos a continuação do kusturix, digo, machadix! Oops!

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  3. Está bem escrito, sim, senhora.
    E já é a segunda vez que fazes aparecer a Júlia de forma surpreendente a Pedro.

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  4. para quem nunca tinha escrito este tipo de histórias, tás-te a sentir como peixe na água... valeu a pena a espera... excelente reentrada da Julinha...

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  5. Obrigado por fazeres voltar a menina júlia. Estava a ver que a tinham esquecido!

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  6. Foi exactamente o que pensei: então e a Júlia? Esqueceram-se dela? Tem de voltar a entrar na história!!!

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  7. «parou naquilo que lhe pareceu um vulto. Tacteou apressadamente através do escuro»

    Será que o gajo chegou a apalpar a Júlia?

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  10. quem é que apaguei os meus comentários???

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  11. Menina Júlia... menina Júlia... alguém percebeu o trocadilho?

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  12. Já estou a imaginar a cena, a sala apenas iluminada pelos candelabros e a bela entrando com um vestido preto e um lenço de cetim envolvendo o rosto uhuhuhu kinky

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  13. e o Mordomo a trazer uma caixinha de borrachinhas numa bandeja prateada...

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  14. Eu não percebi o trocadilho mas pela conversa seguinte, estou a ver que isto mais tarde ou mais cedo deixa de ser um policial para passar um pasquim erotico!
    ai!
    lol
    ;)

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  15. Estas gajas de teatro, man!!!!! envergonham-me.
    Menina Júlia! é uma obra de Strindberg famosíssima, que todas as companhias deveriam encenar!!! mas vocês só pensam em badalhoquices!!!

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  16. Ou acham que eu lhe chamei Júlia por acaso?!

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  17. pá... não querendo menosprezar esse teu grande intelecto... ya... creio que foi por acaso...

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  18. Eu já sabia o porquê do Júlia: o Vampire explicou-me no outro dia. Por isso atesto a veracidade das afirmações do Blackito!

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  19. É como falar em Maria Eduarda e não lembrar Eça; Julieta e Shakespeare; Teresa e Camilo; Bovary e Flaubert; e por aí em diante...

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  20. ó Luna, isso não me interessa para nada... continuo a achar que foi por acaso...

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  21. népia... os ovos Kinder vêem com umas frases muito catitas

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  22. Ok! de qq maneira gostei da ideia do pasquim erotico! tanto que me inspirou para o proximo capitulo!
    lol
    ;)

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