12 de janeiro de 2007

Correio dos leitores

Olá, olá. Encontrei seu blog ao procurar algo no Google. Sou contra o aborto por um princípio simples: todos têm direito à vida. No momento em que alguém legisla sobre quem deve nascer ou morrer, por que não legislar sobre quem deve continuar vivo ou morrer? No último caso, temos o nazismo e outros regimes ditatoriais que definia quem merecia morrer ou continuar vivo. Por favor, seja educada com este estrangeiro (brasileiro) e não me dê uma resposta mal-criada...Um abraço, daqui do lado de baixo do Equador, Olavo
Caro Olavo
realmente não há dúvida de que o seu argumento é bastante simples, diria mesmo que não o podia ser mais, mas ainda assim dou-me ao trabalho de responder.
- em primeiro lugar você tem a seu favor o facto de não poder engravidar, mesmo que ande por aí a fornicar - eu ia dizer foder, mas depois lembrei-me de não ser mal-educada - à grande e à francesa e sem qualquer protecção, pelo que, caso aconteça um infeliz acidente, não terá que ser você a ter na barriga uma criança durante 9 meses e a ter que criá-la, embora legalmente já se obriguem os pais a dar uma ajuda monetária, o que ainda assim não é de todo a mesma coisa. Deste modo é fácil defender a vida e o direito a ela, uma vez que a sua nunca será alterada significativamente por uma gravidez profundamente indesejada. Mas ainda bem que é contra o aborto, porque assim, se por acaso um dia mandar uma queca com uma tipa qualquer numa noite de folia e nem se lembre da cara da mulher no dia seguinte, se por acidente ela engravidar terá um filho com ela e criá-lo-á como deve de ser e como se fosse muito desejado.
- em segundo lugar, o que se decide na despenalização ou não da interrupção voluntária da gravidez não é quem deve viver e quem deve morrer - as pessoas que são contra o aborto continuarão a não recorrer a essa opção - mas sim se uma mulher que faz um aborto deve ser considerada uma criminosa e ir para a cadeia.
- em terceiro lugar uma mulher que não queira ter um filho recorrerá ao aborto quer seja legal ou não, mesmo pondo em risco a sua vida (é segunda causa de morte materna), o que pode ser visto pela quantidade de abortos clandestinos executados no país (dos quais um terço necessitam de recorrer a cuidados médicos hospitalares posteriormente), pelo que se conclui que a actual lei não evita esta prática generalizada mas apenas obriga as mulheres a fazê-lo sem quaisquer condições médicas, de higiene e de dignidade.
- em quarto lugar, a actual lei apenas prejudica as mulheres de classe baixa, que não têm dinheiro para ir ali num saltinho a Espanha fazer um aborto numa clínica de luxo sem quaisquer problemas como as ricas. As pobres têm que ir para caves infectas onde lhes perfuram os úteros com agulhas de crochet e coisas do género e de onde saem muitas vezes a esvair-se em sangue.
- em quinto lugar não considero um embrião uma pessoa, mas um projecto de pessoa, que ainda não tem consciência de si próprio, que ainda não é autónomo mas uma parte do corpo da mãe.
- em sexto lugar, se a sociedade se preocupasse tanto com os milhares de crianças carentes e que todos os anos morrem à fome como tem vindo a demonstrar amor pelos embriões, este mundo estaria bem melhor. Mas parece que a preocupação e o amor, ai tanto amor, acabam assim que saem cá para fora.
- por último, e doa a quem doer, é uma opção da mulher ter ou não um filho (até porque o pai pode ser incógnito) e ninguém tem direito a obrigar uma mulher a ter um filho que não deseja. Além disso penso que todas as crianças devem ser profundamente queridas e desejadas para que possam ser criadas dignamente e com amor, e isso, sim, é um direito.
Cumprimentos
*já tinham saudades, confessem.
** acho que não fui muito mal educada
***isto foi escrito de uma assentada, de modo que amanhã corrijo os erros mas agora não tenho tempo

14 comentários:

  1. Gostava muito que amanha lessem este post na comercial..

    Vou estar atento.

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  2. Dá-lhe Luna! Já tinha saudades sim! :)

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  3. Isso é uma resposta em "sete ordens de razões"!

    Já estou farto da porcaria do aborto. Não bastava o outdoor na Avenida de França agora há outro no centro da Rotunda!
    Que p*ta de mania têm as pessoas de se meterem na vida umas das outras. Que lhes importa se A ou B aborta ou se masturba?
    Hoje estava (já não estou...) capaz de partir a cara a quem me dissesse "sou pela vida (dos outros)": quem se mete na vida/barriga de uma desconhecida merece que se metam (com força e velocidade) na sua cara... É estúpido mas não tanto como esta discussão vaga que apenas serve para entreter a plebe; não me surpreendia se, no dia 11, Eles dissessem: "Smile! You're in Candy Camera!"

    Se me apetecer abortar, aborto; se me apetecer drogar, drogo; se me apetecer matar, mato.

    Aos pró-vida: mantende as vossas filhas longe de mim.

    A todos: uma boa discussão e votação; eu estarei ali, quem sabe a andar de bicicleta.

    Aquele abraço.

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  4. Se já tinha saudades?
    Eu sempre te soube assim: irresistivelmente directa, fria e calculista. :-)
    (Uma vez disseram-me que, em mim, a frieza e o calculismo não eram defeitos. Em ti, tenho a certeza que também não.)

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  5. Luna deixa-me so começar por dizer que vou votar SIM. Posto isto, acho que tás a levar isto por um caminho que roça o femininismo exacerbado. Deixa-me adivinhar, não somos nós que os carregamos durante nove meses e depois temos as dores de parto... Eu até concordo contigo, em quase tudo o que dizes sobre a interrupçâo voluntaria, mas daí a dares pouca ou nenhuma importancia ao facto de o homem, parte igualmente importante na concepção de uma criança, não ter voto na matéria... Parece que estás a meter todos os homens no mesmo saco, o que não é correcto, pois se eu fosse a meter todas as mulheres no mesmo saco, poderia dizer que eram tao responsaveis como os homens no risco de poderem engravidar no acto sexual, ou mais, visto conhecerem os seus ciclos menstruais como ninguém. Há homens que querem realmente ter os filhos e serem responsáveis por eles. Outros que não, mas não generalizes.Vindo de uma prolífica e inteligente blogger como tu parece mal. Por mim deve haver o direito de escolha sempre. Mas com o poder participativo dos dois elementos que participam na concepção da criança, desde que com a devida responsabilidade que daí advém. Tal como conceber é uma questão de entendimento, salvo alguns casos que nem se põe essa hipotese (violação, etc), assim deveria ser no caso da interrupção voluntária da gravidez.
    P.S.-Os homens não podem engravidar sozinhos....but then again, nem as mulheres...

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  6. Tylernum casal funcional em que existe diálogo, esta questão não deverá ser posta apenas por uma parte. Mas uma vez que é a mulher que realmente engravida, e visto que nem sempre os pais da criaça podem ser chamados a opinar, acho muito bem que a decisão seja tomada pela mulher.
    Se assim não fosse como se resolveria a questão quando o pai é incónito ou mesmo conhecido se esteja perfeitamente cagando para o caso? Pede-se autorização a quem, ao pai da gaja?

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  7. Com estes pontos ficámos a saber que os filhos são mais das mães.

    E ficámos sem saber o que vai acontecer às senhoras que vão optar pela IVG com uma gravidez com mais de 10 semanas. Porque estas situações vão acontecer. Vão presas?

    E àquelas que tomarem a IVG como uma medida contraceptiva? Porque a política de educação para a sexualidade e os serviços de planeamento familiar (neste país estão como os sistemas de detecção de náufragos) não existem continuarão a existir casos destes, com mulheres a fazer uma ou mais IVG por ano.

    No fundo, quando o Estado começar a pagar as IVG o que faz não é mais do que lavar as mãos, como as mães que optarem por aquela solução. Não se pode chamar a isso uma política de solidariedade social, que passa por um apoio adequado à prevenção das gravidezes indesejadas e aos filhos que daí poderiam advir.

    É mais do tipo: pronto já está, pode-se ir embora.
    Eu, por mim, também lavo as minhas mãos, é por isso que voto SIM (sempre achei o Pilatos um tipo porreiro).

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  8. Pedro: «Se me apetecer abortar, aborto; se me apetecer drogar, drogo; se me apetecer matar, mato.»

    Gostava de te ver abortar. Se bem que, pela inteligência demonstrada nos comentários, será este o verbo mais apropriado para o episódio que tu comemoras anualmente à frente de um bolo com velas, não?

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  9. E mais, eu sou a favor da esterilização compulsiva das mulheres que façam mais do que um determinado número de abortos.

    Vasectomias, não, pois não são os homens que decidem sobre as gravidezes.

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  10. mto, mto, mto BOM!
    :))

    CS

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  11. Ai é tayler!? Então se o homem tem tanto direito a decidir como a mulher, que direi eu a um homem que queira que eu aborte? Homens, reduzam-se à vossa insignificância na matéria.E pronto é isto!

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  12. "em primeiro lugar você tem a seu favor o facto de não poder engravidar, mesmo que ande por aí a fornicar"
    Eu acho que ainda não vivemos numa sociedade em que se faz sexo a torto e a direito como os coelhos(eu pelo menos não o faço). Para mim o aborto não é de forma alguma a solução para uma gravidez inesperada. Se a mulher não tem a culpa de ter engravidado, muito menos a terá a vida que ela transporta no ventre.

    "o que se decide na despenalização ou não da interrupção voluntária da gravidez não é quem deve viver e quem deve morrer"
    Se damos o nosso consentimento perante o ceifar de uma vida indefesa, e ainda ajudamos a matar essa vida, acho que estamos a escolher quem deve morrer.

    "uma mulher que não queira ter um filho recorrerá ao aborto quer seja legal ou não, mesmo pondo em risco a sua vida"
    A verdadeira questão aqui é: vamos aceitar sacrificar uma vida, para que a mulher corra um risco de vida menor, quando não tem necessidade de correr risco nenhum se não abortar? Eu não acredito que o numero de abortos clandestinos vá diminuir significativamente apenas porque é legal abortar até ás 10 semanas. A vergonha perante a sociedade continuará a existir, os abortos depois das 10 semanas continuarão a existir...

    "em quarto lugar, a actual lei apenas prejudica as mulheres de classe baixa"
    Existem muitas formas de actuação em prol de uma equidade social, que não passam pelo aborto. Dar a possibilidade de fazer abortos facilmente e a baixo custo, não é concerteza a melhor maneira de ajudar as mulheres mais desfavorecidas.

    "em quinto lugar não considero um embrião uma pessoa, mas um projecto de pessoa"
    eu acho que consideras mal. Sabias que um feto com 10 semanas já tem um coração a funcionar? Sim, um coração humano...

    "em sexto lugar, se a sociedade se preocupasse tanto com os milhares de crianças carentes"
    lendo alguns dos comentários aqui postados, como o do pedro, percebe-se o porquê da sociedade não se preocupar com as crianças carentes. Eu não concordo que se matem os fetos para não termos a preocupação de cuidar deles quando forem crianças.

    "doa a quem doer, é uma opção da mulher ter ou não um filho"
    Eu discordo completamente desta afirmação. Para haver uma gravidez, são necessárias duas pessoas, directa ou indirectamente. Gostaria de saber como é que tens a opção de ter um filho sem o espermatezoide do homem para fecundar o óvulo...

    Espero que penses bem no que é que está em causa. Se o "sim" vencer, as consequencias não serão só para as mulheres que abortarem, serão para toda a sociedade!

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  13. Subscrevo o teu post, concordo com tudo!

    O que mais me irrita neste pais é a hipocrisia das pessoas.
    Há soluções dignas para quem quer tomar conta das crianças indesejaveis?? Casa Pia ou casa do Gaiato... Évora?? Nem vale a pena ir por ai.
    Adopção? Anos de espera para crianças e pais? Acolher uma criança da rua?? é melhor não pq pode-se acabar na cadeia. O meu vizinho espanca e viola os filhos? É melhor não me meter,...cada um sabe de si etc etc.
    Onde estão essas pessoas do não na hora de ajudar orfãos e crianças de rua?? Se forem capazes de apresentar respostas ...até posso mudar de ideias...

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