27 de março de 2009

Porque é que os holandeses pedalam


Mais do que a questão da ausência de declives, que é importante, ou de cultura, os holandeses pedalam porque a isso são obrigados, através de medidas que limitam a possibilidade de ter um carro. Os impostos são pesados, e estacionar no centro das cidades é proibitivo, custando 4€ por hora em Amsterdão, por exemplo. Eu não sou fundamentalista, nem nenhuma ciclista convicta, e não raras vezes sinto saudades do meu carrinho, como por exemplo hoje, quando tive de pedalar contra ventos de 40 km/h. Acontece que eu não tenho forma de sustentar um carro cá: o seguro custa no mímimo 600€ por ano; estacionar dentro da cidade são 40€ por mês, ou seja, 480€ por ano; e o imposto de circulação são cerca de 300€. Manter um carro aqui, sem contar com prestações, revisões e gasolina, custa cerca de 1400€ por ano, mais ou menos o meu ordenado limpo. Isto para dizer que o hábito de não levar o carro não é totalmente espontâneo e fruto da boa consciência ambiental dos povos nórdicos, que seriam tão comodistas como nós se pudessem, mas fruto de políticas nesse sentido, fazendo pagar caro o luxo de ter carro. E não é que resulta?

12 comentários:

  1. Pois claro que resulta. E o meu reflexo é dizer: cá tb devia ser assim. Depois acordo e penso como é bom poder andar de carro e como eu odeio a EMEL. Mas eles é que estão certos, não somos nós, comodistas e despreocupados com o ambiente.

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  2. Mas não deixa de ser fruto da consciência ambiental dos governos, e isso já diz muito sobre um povo. Em Madrid muiiiita gente paga 100 euros por mês por uma garagem. Também é mentalidade. Custa os olhos da cara, mas pessoas com ordenados como o teu fazem-no sem hesitar. (Em Lisboa é o caos e a desordem do estacionamento, a selvajaria urbana no seu expoente máximo, nem vale a pena tentar comentar).

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  3. E tenho para mim que quem vive nessas cidades vê com menos frequência o cancro a bater à porta.

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  4. Aqui em Madrid pagar 40 euros por mes seria mesmo bom. O seguro do carro custa-nos isso mesmo, 600 pingalins. Mas nao faço ideia de quanto custa o imposto de circulaçao, isso paga-se no acto de compra do carro.

    De qualquer das formas, nao ter carro em Madrid seria uma loucura porque tudo eh tao longe de tudo, que seriam horas sem fim de transportes publicos so para ir ao carrefour mais perto.

    Nao sei se eh um luxo ter carro, eu nao gostaria de me levantar 2 horas mais cedo so para levar os putos de metro ao colegio, depois ir de bus para o trabalho, chegar e apanhar outro bus para ir ao super, etc e tal. Creio que isso representaria um aumento de 3 a 4 horas diarias em transportes, horas essas que eu prefiro passar noutros sitios.

    Se uma localidade eh pequena, plana e tudo estah perto, entao parece-me optimo que facilitem o acesso ao transporte publico. Coisa que tambem deveria acontecer em qualquer cidade, grande ou nao. Mas punir as pessoas que têm carro nao me parece justo.

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  5. Juanna: luxo para pessoas solteiras sem família e que usam o carro só para si. Por exemplo, em muitos países já há faixas especiais nas auto-estradas para car-pooling.

    Aqui a maioria das pessoas só opta por ter um carro quando constitui família.

    Quanto ao estacionamento, são 40€ em leiden, que é uma cidade pequena, em amsterdão acho que vai para os 200 e tal.

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  6. Tenho colegas que pedalam para ir e voltar do trabalho, e moram a 15km mais coisa menos coisa. Mesmo no inverno, com neve e tudo. Mas não é pelo preço de ter um carro - é panca, mesmo :P.
    (agora a sério - quem vive na cidade consegue perfeitamente não ter carro - os transportes públicos são óptimos, e a bicicleta uma verdadeira alternativa)

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  7. Bom, agora que olho para trás e penso nisso, era realmente um luxo eu ir de carro para a faculdade todos os dias. A preguiça falava mais alto e as 2 horas diárias no "50" da carris não ajudavam. Maldito 50! (Juanna)

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  8. Juanna compreendo-a e a Luna já lhe respondeu. Em minha casa somos 5 e um carro, de manha deixo 3 filhos, um marido e levo o carro para o meu trabalho. Mas em Coimbra a zona da universidade, que até quer ser património da humanidade, está completamente a boiar num mar de carros porque não há estudante que o não tenha e que não queira vir de carro para as aulas, e isso está mal, e só mudará com medidas repressivas.

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  9. Não sei se se pode dizer que os holandeses não andam de bicicleta por causa das políticas que penalizam os carros economicamente. É verdade que Amsterdam, Delft, Leiden e outras cidades que tais (mais antigas e com reduzido espaço de estacionamento) não são amigas do automóvel. Já Rotterdam é amiga do automóvel. E se olharmos para a periferia das cidades (pelo menos Delft) é gratuito estacionar o carro lá.
    Sinceramente, 1400 euros por ano para sustentar um automóvel na Holanda não me parece que seja um factor de grande impedimento a que se tenha carro. Quanto custa um carro em Portugal? Com seguros e selos e coisas assim deve rondar os 500 euros (fazendo as contas por baixo). O salário mínimo nacional da Holanda é de 1301 euros (brutos claro), mas em Portugal é de 426 euros. Feitas as contas a razão é praticamente a mesma entre os salários mínimos e os custos de sustentar um automóvel.
    Se olhares para as autoestradas Holandesas vês que também estão cheias de automóveis e cheias de trânsito.
    Não sei de onde vem esta cultura de andar de bicicleta que, sem dúvida, é notória, mas acho que é bastante mais antiga do que uma política de taxação de automóveis. Talvez se deva ao facto de as cidades holandesas serem relativamente pequenas, à muito boa rede ferroviária que liga as cidades, à enorme rede de ciclovias e à geografia do país que facilita muito não tendo altos e baixos.
    -artur palha

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  10. As pessoas serão comodistas sempre e não largarão o carro a não ser que a isso sejam obrigadas e normalmente isso só quando lhes sai do bolso. À parte a vitimização que as pessoas vão fazer, uma coisa é certa, Lisboa não tem capacidade para o fluxo de carros que tem por dia. Não há trânsito que aguente e não há solução para a falta de estacionamento, a não ser que comecem a fazer estradas e parques suspensos no ar. Tudo tem um limite e as grandes cidades como Nova Iorque e Londres têm uma óptima rede de transportes (que nós não temos, nem de perto)que permite que as pessoas se movimentem muito mais rápido dentro da cidade do que de carro. E isto sem começar a falar na poluição, pormenor que as pessoas se esquecem sempre. Em Londres, mesmo com taxas para entrar na cidade, ao fim de um dia a passear o ranho já sai castanho.

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  11. Ora bem!

    Ai Holanda, Holanda... (suspiro) ;)

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  12. Tenho carro e comodistamente não abdico do mesmo. É por ter cá o dito que me dou ao luxo de viver onde Judas largou as botas numa estância de autêntico verão (qdo quiseres vir apanhar sol pra minha varanda avisa e vais ver que parece que estás no Algarve - salvo seja! - e trás biquini).
    Pago para tal impostos no valor de mais ou menos 200 euros por mês. A gasolina está incluída no cartão frota da empresa. Feitas as contas, mesmo tendo tido sempre carro da empresa, fora o exagero de dinheiro que gasto nos parques e parquímetros, o carro até me sai mais barato que em Portugal (inacreditável, certo?). Mas quem não tem a sorte (muita sorte) de ter uma empresa a por o carro artilhado à porta, nesta Holanda: pena (de penar!)
    No entanto continuo a admirar os que vêm pra cá viver e se adaptam a tal. O certo é que os meus colegas (seja particular,seja empresa) têm todos carros e muitos fazem cara de enjoo qdo lhes pergunto: you don't bike? E levo com um rotundo: nah!! Just for fun during the summer with my kids.
    No sítio onde vivo só vejo os miúdos até aos 18 e os velhotes de bicicleta. O resto anda tudo de rabinho tremido montado no seu belo carro.
    Acho que tem a ver com status também (para quem não vive em Amsterdão), no fundo vai acabar tudo no mesmo.
    Mais uma vez um testamento...sorry!

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