25 de junho de 2009

O que não entendem, meus caros,

é que não se trata de beleza física, mas de vislumbres de transcendência, de superioridade intelectual e alguma inquietação. Estas podem encontrar-se em rostos feios, amargurados, sulcados de rugas até, potenciadas, por vezes, por magrezas extremas. Mas a abundância, essa, lembra sempre a indolência e o conforto da medianidade, e na conformidade raramente moram génios. Esses, têm de se sentir sempre ligeiramente marginais para o serem, e com certeza não vestem camisas nem bonés de dragões à turista gringo. Ou apenas bimbo.


Adenda: Depois de tanta celeuma, alterei burguesia para medianidade. Pode ser que assim percebam o que quero dizer. Mais dúvidas, é consultar o dicionário. Pelo menos esta dá menos azo a ambiguidades. Ah... e abundância, era a de carnes mesmo, antes que também tenha de explicar.

13 comentários:

  1. Era preferível que o chamasses feio e bimbo, com gosto altamente duvidoso - é visível, ainda que possa ser considerado ofensivo (so what?!?). Agora atribuir ao meio sócio-económico a genialidade, parece-me demasido XIX ème siècle...

    [estou a falar sem conhecer o senhor. Nem quero - nem aos livros, entenda-se]

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  2. Todos nós temos preconceitos que afectam a forma como vemos o mundo e as pessoas, que nos predispões a querer conhecer umas e evitar outras, temos apenas vergonha de os admitir publicamente. E a imagem nunca é irrelevante. Neste caso, veio apenas reforçar uma ideia que eu tinha dele. Se sou atrasada, possivelmente. Sempre disse que sou clássica, por isso tudo certo.

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  3. Obviamente que a imagem nunca é irrelevante obviamente reforçou a ideia que temos (sim, temos dele). Estamos o mais de acordo possível quanto a isso. Partilho o mesmo preconceito que tu (além de outros, que agora não interessam).
    O que eu não concordo (deixas?) é que para se ser um génio se tenha de ser pobrezinho. E aí estamos a falar de economia, não de estéctica.

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  4. "Burguesia" aqui é mais um conceito que uma classe, não se trata de nível social ou de riqueza. Até porque obviamente é necessário um certo nível de riqueza para se ter acesso a educação, tanto que raramente pobrezinhos desgraçados produzem obras notáveis. Refiro-me a outra coisa bem diferente, à pertença a uma vida de classe média, à integração social, à comodidade e conformismo. Geralmente, é dos inconformados e inquietos que nascem obras primas.
    ""A happy man cannot be a writer. He is too busy being happy" Paul Theroux

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  5. :) Por defeito de profissão, excedi-me na análise do conceito "burguesia" pelo que peço desculpa.

    Só achei demasiado positivista a causa efeito entre pobreza e génio, fazendo-me recordar inveitavelmente os abomináveis testes, muito em voga no início do século XX, que consistiam na medição de traços do rosto, como prova de judeísmo.

    E estamos de acordo que geralmente és dos espíritos inconformados que nascem as grandes obras primas, mas não posso deixar de achar isso extremamente redutor, como se a felicidade não fosse ela um rasgo de genialidade.

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  6. Desculpa lá, mas para usar uma camisa daquelas o homem é claramente um inconformado à estética dominante e um inadaptado.

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  7. Quando lemos biografias sobre grandes autores, é sempre destacado o tormento, as dúvidas e a alma em guerra. Mas não quero acreditar que a felicidade é inimiga do génio. Se calhar fazemos essa associação porque as histórias dramáticas são sempre mais cativantes e são essas que vale a pena "biografar". Quantos génios haverá que tiveram vidas "burguesas"? Nunca li o senhor (Juan qq coisa!), mas o seu ar burguês e de bom pai de família não me impediria de o ler. No que respeita aos autores do meu tempo, mais facilmente deixaria de ler algum que soubesse que, em surtos de genialidade, atormenta os que lhe são próximos. Quando morreu Luiz Pacheco, muito aclamado pela crítica, o seu filho apenas disse algo do género: para mim, foi um mau pai, que se atrasava no pagamento da pensão de alimentos. Impresionou-me muitíssimo e deixei de ter vontade de o ler...

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  8. Burguês?? Este senhor?
    Por ter um ar abimbalhado e péssimo gosto para camisas???

    Nã... isso não convence.

    Eu já o li. A minha santa mãe ofereceu-me o "A Sombra do Vento" e gostei muito.

    E não deixaria de ler se mo aconselhassem, com ou sem camisa de gosto duvidoso.

    Mas ok, se o senhor te mete asco... é um critério como outro qualquer! :)

    Beijinhos

    de Marte

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  9. Não é exactamente verdade.
    O Goethe tinha uma vida santa, e novamente o Truman Capote também não passava assim muito mal economicamente. Que dizer da Marguerite Yourcenar então?
    Atormentados, talvez, pobrezinhos, certamente que não. O conceito de burguesia acima explicitado, como alegoria do conforto que impede a reflexão, também é um bocadito posto em causa, porque se havia gajo que gostava de conforto e luxo, era o Capote... :)

    Pronto, embirras com o senhor :)
    Nada a fazer. Também tenho alguns desses ódios de estimação.

    Bom dia :)

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  10. E tu a dares-lhe. Mas eu alguma vez falo de ser pobrezinho? Eu até digo que não dá para ser pobrezinho, porque não se tem acesso à educação, e quando se está ocupado a pensar se haverá próxima refeição certamente não haverá grande inspiração criativa. Grande parte dos grandes escritores eram até provenientes da nobreza ou aristocracia, e embora com conforto material, eram dotados de uma capacidade enorme de observação e crítica.
    Falo de conforto social, de conformidade. Tem de haver inquietação, fuga à norma para se ser genial.
    Vocês conseguem deturpar completamente tudo aquilo que eu digo, é impressionante. Pobrezinhos... se alguma vez eu falei de pobrezinhos...

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  11. E quanto ao capote, só o facto de ser uma grandessíssima bicha (como Wilde, por exemplo), leva logo a que seja um marginal no seu meio, não podendo estar completamente confortável e em conformidade com o establishment. É disso que falo.

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