10 de junho de 2009

A sombra do vento

Não sou intelectual, leio cada vez menos e muito menos do que gostaria, mas isso não me impede de um certo snobismo, muitas vezes infundado, mas que não consigo evitar. Esse snobismo, juntamente com algum preconceito, passa pelo pré-julgamento de livros com títulos pirosos e pessoas que os lêem e citam como favoritos, levando-me a subestimar e repudiar livros e autores de quem nunca li sequer uma frase ao acaso numa visita à Fnac. Existe sempre ali um conjunto que me impede de experimentar, sejam as capas pretensiosas, com imagens de uma natureza demasiado romantizada, muitas brumas, e ai se metem brumas, aos títulos estudados, tão profundos, tão bonitos, tão expressivos de nada, e que encantam reparigas suspirantes a quem seus manéis nunca dizem dessas coisas. Talvez o meu cinismo me impeça de apreciar devidamente uma inspiração poética, talvez seja falta de sensibilidade e preconceito puro, mas há livros que nunca lerei apenas pelo que os envolve, e que não tem (quase) nada a ver com o que trazem escrito dentro. Pode ser o estarem demasiado na moda. Pode ser serem os favoritos de pessoas que considero atrasadas mentais. Pode ser a capa. Ou pode ser simplesmente eu achar o título piroso. Ou pretensioso. E é por isso que acho que nunca lerei Carlos Ruíz Záfon. Ou Murakami. Mesmo que me garantam que são muito bons.

25 comentários:

  1. Agora fiquei na dúvida. Quem escreveu isto? Tu? Eu?...

    Pois.

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  2. Acredita que te entendo perfeitamente, porque tambem era assim.

    Mas um dia engoli esse preconceito e peguei no tao famoso "Perfume". A partir dai aprendi a ler, ouvir e ver tudo, quer fosse conhecido, nao conhecido, famoso, pretensioso, pseudo ou intelectual. E agora, para muitos desses livros "imperdiveis" tenho a minha propria opiniao, uns concordo, outros nao, mas posso sempre dar argumentos...

    Experimenta... E a sombra do vento seria um excelente principio, acredita.

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  3. Eu concordo com o "estarem demasiado na moda", esses ficam automaticamente de parte. Alguns há, que nas visitas à Fnac, ainda são folheados, mas não passa disso.

    Em relação ao livro que deu titulo ao post, li ainda não estava na moda. Não é a leitura da minha vida mas gostei.

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  4. O melhor é ser-se taralhouca como eu e ler os livros quando ainda não se ouviu falar deles (apesar do mundo inteiro lá fora estar histérico). Foi assim que me aconteceu com este (que o comprei porque estava barato numa loja de livros em segunda mão) e com o Código Da Vinci. Digamos que são muito "entertaining", é como ver o SCI ou o Bones, sabemos que é uma grande treta, mas de algum modo atraem. Quanto ao gosto dos outros, quem sou eu para julgar... Acho que o facto de lerem um livro grande com zero bonecos já é um grande avanço (para muita gente é mesmo uma vitória!).

    Fico contente com estes sucessos, mostram que a industria "livreira" ainda tem pernas para andar e é afinal à conta destes grandes histerismos que a outros pequenos autores pode ser atribuida uma verba para publicarem. Digamos que estão para os livros, como a Shakira ou o Quim Barreiros estão para a música. Não te zangues com eles!

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  5. CSI... ai! Gosto tanto que me troquei toda!

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  6. Tb não perdes nada se não leres este livro... eu comprei porque tinha ouvido excelentes opiniões, pessoas que o tinham devorado em dias... eu vou a meio e ainda não percebi o interesse do livro... a historia mastiga-se, mastiga-se e não avança, não há pachorra! Só perdeste uma coisa, trazia um CD fantástico com música instrumental, pelo CD valeu a pena o que paguei pelo livro!

    Aliás, vai já figurar na lista das coisas que tenho para troca, que podes ver aqui:
    www.comonovo.blogpost.com

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  7. Quando li esse livro do Carlos Ruíz Záfon que usas no título, ainda não estava envolvido de todo esse entusiasmo. Se não o tivesse lido na altura, tinha ficado a perder um dos melhores livros que já li. Mas isto é a minha opinião, podes inclui-la nessas todas que referes. Já o Murakami li por curiosidade em relação ao fenónemo. Não desgostei, mas não faz o meu estilo. E sabes que mais, nada melhor que ter a NOSSA própria opinião.

    Beijos

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  8. o meu livro preferido, sem dúvida ...

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  9. Tenho a mesma a aversão, sofro de snobismo literário, mas acabo sempre por os ler, acabo por não aguentar a curiosidade mórbida de perceber porque raio toda a gente os lê. (no entanto, recuso-me a comprá-los...) A "Sombra do Vento" não é tão mau qt pensava, mas não me aqueceu, nem arrefeceu. Acho que existe uma tentativa de ser o "O Nome da Rosa" catalã. Mas não é mal escrito. Por comparação o "Código D' Vinci" é mau. Mau mesmo. Formula impagável americana de "vamos escrever um livrinho fácil com uns dados históricos à pressão p depois o adaptarmos ao cinema".
    Qt ao Murakami, bem, a esse ainda não cedi, mas já sei que um dia vou acabar na esparrela de o ler, pq quando vejo uma das minhas irmãs com ele debaixo do braço - por quem tenho "respeito" literário - lá vou pedir-lhe emprestado, e é assim que caio no engodo.

    Mas devo reconhecer que há excepções. Embirrava com o Harry Potter, com o fenómeno Harry Potter, e mudei de ideias qd os li todinhos, de uma ponta à outra. No entanto, há outros que esta tal arrogância literária, não me faz sequer folhear o livro, como se fosse um objecto viscoso. Como os da Margarida Rebelo Pinto. Quando um dia a oiço dizer que é uma das maiores escritoras porque tirou um curso, bem aí faço questão de ser arrogante literária, pois se há coisa que me irrita solenemente é arrogância do escritor. Foi assim que me "chateei" com o Lobo Antunes. Pena, porque ele escreve muito bem.

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  10. Gostava que esta última comentadora tentasse escrever coerentemente, para lhe perceber a opinião. CREDO!

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  11. Li Murakami muito tempo antes deste euforia toda. Mas muito tempo mesmo. E é muito bom. Mas não é para todos.

    Quanto a Carlos Ruiz Zafón (que também li antes da euforia, é o que dá ser leitora compulsiva) não é mau, lê-se bem, mas não é admirável.

    Não compares nenhum dos dois com Dan Brown. Este é mau escritor ponto final.

    Não confundam por favor gosto com mérito. Nem escritores com uma escrita fácil e agradável de ler (Murakami e Záfon) com a bosta de literatura que é Dan Brown.

    Beijo =)

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  12. É engraçado como parece que afinal toda a gente leu Zafon, Murakami ou até o Brown antes de serem famosos. Quaaaaase que soa à ideia que ler as obras antes do resto do mundo torna supostos maus livros em menos maus.

    Quase que soa a snobismo e pretensiosismo...

    Eu cá, que também tenho a mania que sou snob e que isso está na moda, tenho uma confissão:
    Eu li o Zafon já estava na berra. E gostei na mesma.
    Shame on me! lol!

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  13. Eu acho que o snobismo literário (do qual, confesso, também sofro um pouco) pode ser um pau de dois bicos. É que se, por um lado, nos livra de ler livros maus, também faz com que, às vezes, percamos livros bons. Às vezes muito bons. Porque, felizmente, os fenómenos de massa não são exclusividade dos maus livros. Às vezes, mesmo que poucas vezes, as massas entusiasmam-se com qualquer coisa que até vale a pena.
    Por isso usemos o tal snobismo com parcimónia. Que é para não sermos nós as maiores vítimas.

    Mariana

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  14. duas palavras: nicholas sparks.

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  15. Grande comentário, o da Mariana (que até está nos links da Gota, apesar de eu nunca ter comentado lá).

    Vou tentar comentar mais alongadamente.

    Ciclicamente, há livros que caem em graça... e isso faz-me logo embirrar com eles. Preconceito meu, claro.

    Aconteceu há quase 30 anos com Kundera. Acabei por ler o raio de A Insustentável Leveza do Ser. E por odiar. O grande livro dele é O Livro dos Amores Risíveis. Li O Perfume em 1986. Comecei-o com um entusiasmo próximo do fascínio, o capítulo na loja do mestre perfumista é arrebatador. Mas daí em diante aquilo só descai. É um livro muito fraco. Para usar o título de uma paça de Shakespeare... é muito barulho para nada.

    Levei O Código Da Vini para as férias em Miami, em 2004 - leitura ideal para a preguiça na areia clara e aquela água maravilhosamente quente, que conheces. Como fiz Lisboa-Londres-Miami, não pude deixar de reparar quantas pessoas estavam a ler o livro. Era uma obsessão mundial! Entreteve-me, mas não mais do que isso. Ainda bem que também tinha levado Os Maias do meu eterno encantamento, e Oscar Wilde, ao quarto dia eu já suplicava por escrita de qualidade!


    Mas a Mariana continua a ter razão. Devorei os quatro volumes de As Brumas de Avalon numa semana. Cheio de imperfeiçoes, sim. Mas é um livro fascinante. E Presságio de Fogo, também de Marion Zimmer Bradley (se não leram, vão já a correr!) idem.

    Acho que não acrescentei nada, mas não faz mal. Importante é ler.

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  16. Livros como A insustentável leveza do ser, que adorei, ou O Perfume, de que também gostei muito à época, são excepções à regra - embora haja que ter em conta que os li há bastante tempo, muito mais nova e com outros critérios de exigência.
    O código da vinci li para compreender o fenómeno, e não me sentir excluída. O livro é viciante, consome-nos, obriga-nos a ler mais e mais, pela forma inteligente como os capítulos são estudados, e, para livro de acção, não é mau. Mas não é literatura, e abriu caminho à insuportável maré de livros do género.
    Não que eu me recuse a ler livros mais leves, que entretenham, mas já não tenho pachorra para os pretensiosos, os que querem ser algo mais que não são.

    De qualquer forma ando a ler pouquíssimo. Quase nada mesmo. literatura, claro. Que papers é outra história.

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  17. Relativamente à "Sombra do Vento" foi para mim uma descoberta e adorei o livro. Mas acho que agora não vale a pena aconselhar a ler o livro pois a Luna já tem uma opnião formada e enconta-se à espera de ler uma obra prima (expectativas muito altas...)e tal não irá acontecer. O que é bom nos livros é quando partimos sem nenhumas expectativas e depois supreendem-nos, a história envolve-nos e fazemos parte do imaginário e estamos lado a lado com o personagem e isso é a magia dos livros.

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  18. Passei por aqui ao acaso e fiquei agradavelmente surpreendida com tanto interesse pela leitura... Por mim, ando neste momento enredada nas histórias das histórias das histórias da sombra do vento.Independentemente do 'enredo' do livro, que é discutível, gosto da forma como ele descreve cada 'estado de alma'.E já agora pergunto: já leram o «Húmus» do Raul Brandão?

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  19. LINDA E JA LI A SOMBRA DO VENTO HA 4 ANOS ATRAS, FOI O MEU 1º LIVRO EM CASTELLANO... NÃO É UMA SUPER OBRA PRIMA, MAS É UM LIVRO FRESCO E AGRADAVEL DE SE LER...GOSTEI MUITO, PQ É PASSADO NO BAIRRO ONDE EU VIVO,NAS RUAS POR ONDE PASSO TODOS OS DIAS... E NO MEIO DA FICÇAO HA UM POUCO DE HISTORIA NAQUELE LIVRO QUE ME ENSINOU A PERCEBER UM POUCO DA CIDADE ONDE VIVO.E POR ISSO GOSTEI... AGORA TOU NA ALICE DO PAIS DAS MARAVILHAS DE LEWIS CARROLL...;)

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  20. Também sofro do mesmo mal mas, em regra, gosto de tirar as dúvidas ao vivo e a cores. Já li um do Rodrigues dos Santos (confirma-se, é mau escritor, apesar de o considerar, com todo o mérito, o Dan Brown tuga - entretém, mas não se perdia nada se se deixasse de figuras de estilo que, obviamente, não sabe usar), mas da Guida Rebelo Pinto só passei a vista à pressa na Fnac (confirma-se, nem morta gasto dinheiro naquilo).
    Comprei um do Murakami na Feira do Livro para ler nas férias. Mas ficou-me de borla, na compra de mais 3 na Leya, por isso não se perde nada.Só tempo, ou não. A ver vamos.

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  21. Não lhe chamaria snobismo literário, chamaria resistir a ler coisas que nos fazem andar numa qualquer montanha russa: começámos por criar alguma expectativa e depois não queremos passar pela desilusão de não corresponder. É um bocadinho como ver o filme do livro antes de o termos visto. Não será?
    O Zafon lê-se bem, embora ele tenha querido escrever n livros num (só li o que referes nuns posts acima).
    O Murakami não me parece que esteja a passar por um processo semelhante, e há muito por onde escolher. Li dois dele e li-os muito bem, são livros que se lêem quando se quer ler mais do que uma revista mas também algo leve. Lê lá o "Passageiros na noite" :-)

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  22. A culpa é dos gajos que lhes dão o nome em Português! Não sei quem é a alminha que traduziu Millenium 1 para: Os homens que odeiam as mulheres.
    Tu achas isto normal? O livro é mto interessante, que mais não seja pela intriga e porque dada esta parece que ficas viciada. Eu leio imenso, bastante mesmo, e se quiseres algumas dicas empresto-te alguns livros porreiros. Deixo-te aqui um que é brilhante: O Périplo de Baldassare.
    Agora vê lá se descobres o que é bom! Humpft!;))

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  23. Sou muito esquisita com livros, que queres que faça?
    Tomara eu conseguir dar vazão aos que compro, quanto mais conseguir ler emprestados. ;)

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  24. Sem por em causa a irritação que provoca, obviamente, a onda de esoterismo que por aí anda, há aqui uma ou duas coisas que gostaria de dizer acerca das questões levantadas. E peço desculpa porque palpita-me que me vou alongar...
    Comece-se logo por dizer que a onda do esoterismo dito "brega" começou com Paulo Coelho. E digo isto de alguma forma "emprestadamente" de amigos que o leram, porque eu comecei um, e tive de parar a meio, tal era a carga de nervos que me estava a dar.
    Mas esta história do chamado "pretensiosismo" leva-me a recordar exactamente o que tantas vezes aconteceu na história com a tentação terrível que existem e definir o que é boa ou má literatura. E atenção, eu não fujo ao conceito, porque para mim, por exemplo, MRP é de facto algo de fugir, principalmente pela desonestidade impregnada em tudo o que li e o uso indiscriminado de generalizações fáceis, além das célebres páginas fotocopiadas ipsis verbis em dois livros diferentes.
    Mas adiante.
    A sombra do Vento é de facto um bom livro. Pode não ser uma maravilha de uma complexidade ontológica que talvez consiga apenas penetrar nas mentes de meia dúzia de alunos do MIT, mas depreende-se que foi escrito com cuidado, tem trabalho associado, e a história é honesta, bem urdida, e sim, entretém. Martin Amis dizia que o problema com o único problema da obra "Dom Quixote", era ser chata para cacete, o que divertidamente implica, pelo menos para mim, que parece que a qualidade está associada a uma chatice consequente. O MEC uma vez escreveu sobre isso, mas respeitosamente declino. A chamada cultura e literatura não tem de ser forçosamente chata, como Wilde, Coetzee, Shakespeare, Wolfe assim o demonstraram amplamente. Portanto o facto de ser entretenimento não lhe retira a suposta qualidade que possa ter, em meu ver, e olha que adoro alguns livros chatos para cacete, como a Agressão do Konrad Lorenz, por exemplo. Fascinante, mas para muitos talvez uma pastilha do caraças.
    E depois existia aquela diatribe conhecidíssima da Virginia Wolf acerca do Dickens, onde esta e o "establishment" o qualificavam como um autorzito, o que, diga-se de passagem, foi dito no seu tempo acerca exemplo de Alan Poe, J.K. Toole, Bronte, etc...
    Ora quer-me parecer que para além da evidente falácia associada a este juízo (Woolf é uma grande autora mas não chupo os livros dela nem com caramelo) parece-me, na minha humilde opinião, complicado definir o livro de Zaffon como mau livro, ou má literatura. Pode não gostar-se, mas ser capaz de ler aquele livro e reputá-lo de mau... bem, eu não tenho essa capacidade, confesso, e olhando para o livro, e o evidente trabalho e honestidade que lhe estão implícitos, torna-se difícil de aceitar assim de chofre que é "mau". Eu gostei muito do livro, confesso. E acho-o honesto e laborioso.
    Em suma, acho que a medida de qualidade é a honestidade e a voz própria que se consegue reconhecer na arte de juntar palavras. Mas como bom pecador que sou, não levo este relativismo até ao fim, porque Nicholas Sparks, Paulo Coelho, MRP e outros, parecem-me efectivamente má literatura, formulaica e desonesta.
    Enfim, é a velha história dos gostos, que até acho que se podem discutir. Porque no caso de Zafon, como os comentários demonstram, aplica-se o velho silogismo do Wilde - "When critics disagree, the artist is in accord with himself"

    Bom dia a todos e desculpem o testamento :)

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