14 de julho de 2009

Haviam de me pôr a mandar


Bem que eu já disse o mesmo aqui há uns tempos. Mas enquanto não se começar a olhar para os estudantes reais, em vez dos pequenos génios ideais que se pensa existirem, não se chegará a lado nenhum e em Portugal continuar-se-á a não ler.

19 comentários:

  1. Luna, eu li e adorei. E antes deste livro, existiu todo um percurso de livros obrigatórios extremamente leves e adequados para cada ano. Acho que esta leitura não é desadequada para um aluno de 12º ano, pelo contrário. A leitura de Saramago é, sem dúvida, uma motivação para a leitura. No entanto, estas frases não passam da minha opinião pessoal. Beijinhos

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  2. Concordo. Eu adoro ler, mas há livros com que embirro e não vou lá nem à lei da bala. Talvez os queira ler daqui a 20 anos, mas agora não tenho paciência. E já li um pouco de tudo. Os livros obrigatórios são difíceis de gerir, porque dificilmente quem não tem hábito de ler o fará com um livro de 1cm de grossura e de escrita pesada. Também quem ensina tem um papel importante. Lembro-me da minha professora de Português a dar os Lusíadas, com um humor e vivacidade incriveis, que nos prendia aula a aula ao que poderia ser o livro mais comprido de todos os tempos.

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  3. Bem vou ter de o ler este ano e já me começo a assustar. Mas disseram (mais ou menos) o mesmo d' Os Maias e eu até gostei acho que com um bom stor até se chega lá e ajudou termos feito teatro, até os que não leram sabiam a história e tiveram boas notas. Agora o Memorial do convento, só o nome assuta =/

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  4. Eu não disse que era mau, ou que não gostei. É um óptimo livro, principalmente lido com alguma maturidade - li-o aos 26 anos e mesmo assim não foi leitura fácil.
    Agora, uma coisa é uma pessoa que gosta de ler pegar nele e dispor-se a meter-lhe o dente, outra coisa é achar que os semi-analfabetos reais que chegam ao 12o ano sem nunca terem lido quase nada o farão. Quem gosta de ler, lerá, desde o mais fácil, ao mais difícil, mas quem não gosta, e não está habituado, terá dificuldade em fazê-lo, e pior ainda, ficará a achar que nunca irá conseguir ler um livro na vida - e na sua maioria, não lerão mesmo, porque nunca mais sequer tentarão.

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  5. Sim, eu percebi a tua opinião Luna.
    Por curiosidade, qual achas que seria um bom e adequado livro para leitura obrigatória no 12ºano?

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  6. Algo mais acessível, que estimulasse o interesse e gosto pela leitura, em vez de assustar para sempre potenciais leitores. Há outros livros de Saramago mais acessíveis - por exemplo, O Ensaio Sobre a Cegueira é bastante mais fácil de ler, além de permitir diferentes interpretações e abordagens. No entanto não sou professora, nem sequer estudei humanidades, pelo que não sereia pessoa mais habilitada para estas escolhas - o título do post era uma piada. Mas pela minha experiência pessoal, e lembrando-me do que era a minha turma do secundário - devemos ter sido apenas uns 3 os que realmente lemos os Maias ou a Aparição, em vez dos resumos -, sinto-me autorizada a dizer que o memorial não seria, de todo, adequado.

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  7. Tem razão, sim senhora! Beijinho Luna! =)

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  8. Eu sou uma autêntica leitora compulsiva e no entanto, muitos dos livros de leitura obrigatória, foram "duras travessias do deserto" mesmo para alguém como eu. Para a grande maioria dos meus colegas, já com poucos ou nenhuns hábitos de leitura, fez com que passassem a detestar ainda mais a ideia de passar horas agarrado às palavras de outro.

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  9. Não podia concordar mais, li o Memorial do Convento já adulta e nunca mais tive coragem de pegar noutro livro do Saramago. Muitas vezes olho para eles, mas... ficam sempre na prateleira da loja.
    Se o tivesse lido no 12º ano, acho que não voltava a pegar noutro livro, fosse qual fosse o autor.

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  10. Concordo consigo Luna. Não consigo perceber que critério preside à escolha dos livros que são dados como "obrigatórios" (só o peso desta palavra arrepia...) nas nossas escolas.
    Eu gosto de ler. Leio muito e desde muito cedo. Mas, de qq das formas, e a titulo de exemplo, recusei-me a ler o "Eurico o Presbítero" de Alexandre Herculano, obrigatório no meu 11.º ano. Aliás, não o li nem nunca o irei ler. Aquilo é simplesmente intragável. Mas gostava de saber que tipo de pessoa considera esta obra adequada à leitura de miudos com 16 ou 17 anos. Deve ser da do mesmo tipo que acha normal alunos no 9.º ano estudarem Gil Vicente.

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  11. Eu ia escrever o mesmo que a Zana, se me obrigassem a ler no liceu esse livro nunca mais pegava em nenhum do Saramago.Mas quem é que recomendaria tal coisa a um estudante do 12°? Esta gente tem noção do que são 10 disciplinas e exames nacionais no mesmo ano? Depois queixam-se....

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  12. Pois... E, enquanto isso, vou ter de me estrear com Saramago a ler O Memorial do Convento nas minhas belas férias de Verão! (atente-se, eu não faço parte desse pequeno grupo de génios ideiais...!)

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  13. Caraças, querem lá ver que eu fui a única a gostar do Eurico o Presbítero??? É verdade que até meio é um 'cadito seca, mas daí em diante, uai, então a cena das freiras, tomara muito filme de acção.

    Recusei-me foi a ler a Família Inglesa, e disse-o à s'tora: Júlio Dinis, jamais!

    Já o Saramago, acho-o ainda não relevante em termos de história literária portuguesa (sim, mesmo e apesar do nobel). Mas se é para ler Saramago, mais vale o Memorial que o Ensaio. E não acho que seja inadequado a jovens com menos de 18 anos, eu (e outras amigas também) li o Memorial com uns 16 anos e adorei. Quando acabei o liceu (1989), e na vertente de letras, no 12º ano, lia-se Agustina. Caraças, bem mais difícil que Saramago, hein. Também não se pode cair no erro de tratar os xóvens como seres acéfalos. Eu acho que yes, they can, passa é muito pela motivação do professor.

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  14. I.:
    Há jovens, e jovens. E pensando no que era a minha escola/turma no secundário, não creio que fossem leituras adequadas. E "no, they couldn't".
    No décimo ano mais de metade da minha turma desistiu e deixou os estudos para todo o sempre. No décimo segundo, dos poucos que ainda restavam, grande maioria não acabou à primeira, e poucos seguiram para a universidade.
    Na escola inteira, houve 7 positivas no exame nacional de matemática. Não me lembro de quantas houve a português, mas uma coisa posso garantir: aquelas almas que estudaram comigo e que não leram sequer os Maias (bem mais acessível em termos de linguagem que saramago ou Agustina), nem em 100 anos leriam o memorial, pelo menos sem preparação.
    E essa preparação passa por hábitos de leitura desde cedo, que só podem ser fomentados caso os estudantes consigam entender e gostar do que estão a ler, o que não será possível com livros demasiado difíceis para o seu nível.
    Garanto que a maioria dos meus colegas de secundário, depois das tentativas frustradas de tentar ler algum dos livros obrigatórios, nunca mais pegaram num livro na vida. E eu consigo perceber porquê.

    (Eu, que lia imenso desde miúda, acho que não tinha maturidade para ter lido O Velho e o Mar, por exemplo, não tendo gostado nem um décimo do que teria gostado se tivesse lido uns anos mais tarde e não quando foi obrigatório.)

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  15. Acredita que a minha escola não devia ser muito diferente da tua. Eu cresci num subúrbio, a maior parte dos meus colegas de liceu eram provenientes da classe média ou média baixa (e eu também, já agora).

    Mas, de duas uma: ou se facilita e se nivela por baixo, ou mantém-se um nível de exigência mediano a tender para elevado. E é por causa deste nivelamento por baixo, o eduquês e outras tretas que a escola pública anda pelas ruas da amargura.E, quem pode, põe os miúdos no privado. ( e não estou a culpar os professores, apesar de também terem alguma culpa, mas as políticas de educação e etc é que têm a parte de leão).

    Numa coisa concordamos: o problema vem de casa. Sempre tive incentivo e comecei a devorar livros bem cedo, mas a maior parte dos meus amigos e colegas nem jornais nem revistas. E tive excelentes professoras de português que, coitadas, não faziam nada deles.

    Mas digo-te já que seria a primeira a revoltar-me se, na escola, me quisessem empurrar para baixo, em vez de tentar puxar aqueles. Já bem chegavam os testes de recuperação e todas as tácticas inventadas à última da hora a ver se passavam pessoal que não passava de grandes calões...

    Mais vale assim que deixar andar e criar-se, para além do fosso entre melhores e piores alunos, outro entre os ricos das privadas e pobres da pública que não fazem nada da vida mesmo que tenham valor e queiram. No meu tempo, ao menos, até os meninos dos externatos tinham tantas hipóteses de acabar como caixas no minipreço como nós, da pública. Vá, menos, mas acontecia.

    Lembro-me e valorizo os meus anos de escolaridade, que foram todos passados na pública; mas hoje, ao ver o ensino (puxadíssimo e impecável) que a minha sobrinha tem num colégio privado, e o pessoal que anda na pública sempre a queixar-se que é difícil e tal, e muitos a dar-lhes razão, caneco, fico revoltada. Afinal que democracia é esta?

    (pré escolar, é o que é preciso, a ler histórias aos miúdos, a puxar por eles, mas népia.)

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  16. Olá,

    Já leio o teu blog há bastante tempo, mas hoje resolvi comentar...

    Fiz o secundário há relativamente pouco tempo (dois anos para ser mais precisa) e li no 12ºano como livros de leitura obrigatória "O Felizmente há luar" (livro de fácil leitura), "A Mensagem" mais os heterónimos de Pessoa e "O Memorial do Convento" que aliás gostei muito e não achei de todo difícil.

    Na minha opinião, acho que devemos nivelar os alunos por cima e não por baixo. Porque mesmo que alguns deles tenham dificuldades, o professor está lá (ou deveria) para ajudar. "Shoot For The Moon, even if you miss, you'll land among the stars!"


    P.S. - Os Maias li por opção e adorei. :)

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  17. Olá,

    Já leio o teu blog há bastante tempo, mas hoje resolvi comentar...

    Fiz o secundário há relativamente pouco tempo (dois anos para ser mais precisa) e li no 12ºano como livros de leitura obrigatória "O Felizmente há luar" (livro de fácil leitura), "A Mensagem" mais os heterónimos de Pessoa e "O Memorial do Convento" que aliás gostei muito e não achei de todo difícil.

    Na minha opinião, acho que devemos nivelar os alunos por cima e não por baixo. Porque mesmo que alguns deles tenham dificuldades, o professor está lá (ou deveria) para ajudar. "Shoot For The Moon, even if you miss, you'll land among the stars!"


    P.S. - Os Maias li por opção e adorei. :)

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  18. Dreamer: acontece que, com essa conversa do não nivelar por baixo, para não diminuir a exigência e dar as mesmas oportunidades a todos, não prejudicando os bons alunos e ajudando os mais fracos blá blá blá, o que acaba por acontecer é exactamente o contrário do que pretende, criando-se um fosso muito maior entre os primeiros e os últimos.
    Os bons alunos, com hábitos de leitura istalados, lerão facilmente, como leriam de qualquer forma, se não esses, outros livros, não lhes fazendo grande diferença no final. Os maus alunos simplesmente não os lêem de todo, de modo que ficam exactamente na mesma.
    Entre livros mais acessíveis que os alunos leiam, e livros muito bons mas difíceis, dos quais não a maioria passa das primeiras páginas, eu, mal por mal, prefiro os primeiros.
    Mas isso sou eu, que não andei numa escola de génios e conto pelos dedos os colegas que realmente leram os livros obrigatórios.

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  19. Eu bania o Saramago e o maricas do Pessoa. E obrigava toda a gente a comer Bocage, D. Francisco Manuel de Melo, Camões, Gil Vicente, Eça, Sá de Miranda... tantos.

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