17 de setembro de 2009

Um país não vive só de doutores e engenheiros

De cada vez que alguém se atreve a criticar o baixo nível de escolaridade geral dos portugueses, aparece sempre quem defenda que o país não vive só de doutores e engenheiros, e que muito boa gente só com a quarta classe sabe mais que certos doutorados. Pois sim, na primeira parte poderão até ter alguma razão, embora na segunda duvide, mas não deixa de ser uma visão redutora e tacanha, que reflecte um certo provincianismo, e até saudosismo, tão típicos no nosso belo país. Mais ou menos na linha de pensamento de que antigamente é que era bom, quando se tinha de dividir uma sardinha por seis, e não havia sapatos para calçar, numa apologia da miséria e iliteracia.
Não desprestigiando quem, entre muitas dificuldades, teve de singrar na vida sem estudos, trabalhando, não me venham dizer que falta de formação é que é bom, porque não é. Se não é garantia que um curso superior torne alguém num bom profissional, também não é certamente a falta dele que o fará. E se muita gente com poucos estudos dá óptimos profissionais, imaginem então se os tivessem tido, teriam sido ainda melhores. E ninguém me irá convencer do contrário.
Quer se queira ou não, o nível de escolaridade é indicador do nível de desenvolvimento de um país, nomeadamente tecnológico e científico, e não é com pessoas sem estudos que ele se fará. Nem toda a gente tem de ser doutor, é verdade, mas a formação é sempre importante, e ser iletrado não fará de ninguém melhor profissional. E se tantas profissões que não requerem formação superior são necessárias, também as que a pedem o são. Há que apostar na formação, tanto profissional como superior, para que possamos estar a par da europa a nível de competências, em vez de sermos vistos como uns semi-analfabetos muito simpáticos e esforçados, mas sem bases para ir mais além.

19 comentários:

  1. eu ando com o turkey da formação.

    estou há 9 meses sem pisar uma sala de aula e começa a fazer-me comichão.

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  3. E formação contínua, tipo cursos de especialização ou aperfeiçoamento, também eram muito necessários. Que há quem pense que ter um canudo chega para o resto da vida... nada mais errado.
    Mas por cá ainda se dificulta muito o acesso a formação complementar, e a que há é muito virada para o mundo académico. Para além de haver poucas entidades patronais a apostar nisso, e a dar uma folga no horário a quem queira frequentar formação.
    E depois há aquelas cenas absolutamente inconcebíveis: mestrados em horário laboral. WTF? E para quem trabalha? Ou será uma invenção pós-Bolonha? Além de muitos serem caríssimos. Assim não dá...

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  4. Concordo plenamente contigo, Luna.

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  5. E depois desse temos ainda outro assunto por resolver que é a qualidade do ensino, sobretudo o não superior.

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  6. Bem, eu diria que há uma certa diferença entre falta de formação e analfabetismo, e o número de pessoas com cursos superiores que é necessário existir. Acho que o canudo é realmente preciso em algumas áreas, simplesmente porque outros mecanismos de formação não iriam funcionar muito bem. Mas há alternativas para quem quer singrar noutras áreas, cursos tecnológicos, etc.
    Alias curso superior não reflecte realmente grande coisa. Não sei como é que agora as coisas andam, mas lembro-me de cursos criados como a engenharia das árvores ou a engenharia do papel. Ter um canudo só por ter é um bocado fútil, e na minha opinião revela mais tacanhice do que um numero inferior de pessoas com educação superior.

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  7. Obviamente não defendo que para todas as profissões seja necessário um curso superior, mas defendo que haja pelo menos formação profissional. No entanto, mesmo em áreas onde seria desejável ter mais pessoas com formação superior, há ainda um défice comparativamente a outros países, e era isso que eu pretendia salientar.

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  8. Ok, mas estava bem escondido no texto, eheheheh. De qualquer maneira, aqui fica um bem haja. Tenho estado a seguir este espaço há um bocadinho e tem começado a fazer parte da rotina diária entre o beber o café que é necessário para acordar, o publico online e o ir para o lab...

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  9. Claramente a educação nunca prejudicou ninguem, mas o facto da tua vida ser pautada por um percurso académico e que vinca toda a toda experiencia profissional, nao implica que um pais seja melhor so porque toda a gente seguisse o mesmo percurso que tu. Claro que um canalizador não perde nada por ter um curso superior, mas explica-me que país é feito de pessoas que estudam até quase aos 30 anos. Não me digas que na Holanda todos os carpinteiros têm um curso superior. Recordo que falaste em licenciatura, não de educação, não de formação.

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  10. Eu queria fazer umas perguntinhas Luna: O que é que o nível de escolaridade tem a ver com a formação da pessoa? E porque é que uma pessoa sem um curso superior é iletrada? E já agora...se é assim tão importante ter um país cheio de licenciados, porque é que há tantos em Portugal a trabalhar em lojas ou em restaurantes? E porque é que o meu paizinho com a 4ª classe ainda hoje me ensina coisas a mim que sou licenciada, e ganha o dobro do que eu ganho? E porque é que não ter um curso superior significa ser pobre e ter de dividir uma sardinha por seis...não será mais ao contrário? Perdão Luna, que já me parece que estás aborrecida com o assunto, mas não será a tua visão provinciana? É que quem pensar que ser doutor é que é bom, são as pessoas das aldeias analfabetas...

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  11. Lena: eu já estou a ficar um bocadinho cansada desta conversa de surdos, mas vamos lá outra vez.

    O que é que o nível de escolaridade tem a ver com a formação da pessoa?

    Bem, como há de calcular não falo, obviamente de formaçao moral ou pessoal. Mas de aprendizagem, cultura, formação profissional. E, permitam-me a opinião, acho que se deve aprender em escolas, daí que considere que sim, o nível de escolaridade tem a ver.

    E porque é que uma pessoa sem um curso superior é iletrada?

    Não foi isso que disse, isso é distorcer as minhas palavras. Mas o nível de educação num país, ou a falta dela, traduz também o seu nível de iliteracia, que havemos de concordar, é demasiado alto em Portugal.

    E já agora...se é assim tão importante ter um país cheio de licenciados, porque é que há tantos em Portugal a trabalhar em lojas ou em restaurantes?

    E o desenvolvimento pessoal e intelectual, não é importante? Essas pessoas, tendo estudado, ao menos poderão vir a ter a oportunidade de trabalhar na área dos seus estudos, se assim o desejarem, enquanto se não, nem isso. O curso, a educação, dá-nos a possibilidade de escolha, abre-nos o leque de opções, a falta dela fecha-nos.

    E porque é que o meu paizinho com a 4ª classe ainda hoje me ensina coisas a mim que sou licenciada, e ganha o dobro do que eu ganho?

    Porque o seu pai, crecido noutra época sem as mesmas oportunidades, teve de crescer na sua profissão e aprendeu com a experiência. Mas possivelmente, teria tido um percurso de vida mais fácil, se tivesse podido estudar.

    E porque é que não ter um curso superior significa ser pobre e ter de dividir uma sardinha por seis...não será mais ao contrário?

    Acho que não percebeu o sentido irónoco da introdução desta frase no texto. Também não vou explicar.

    não será a tua visão provinciana?

    Não, a minha visão não é provinciana, pois o baixo nível de escolaridade do país não me orgulha em nada. Quanto a ser senhor doutor é que é bom, não é a minha visão. Mas acho que deve poder ser doutor quem o quer.

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  12. O bom das democracias é que cada um pode ter a sua opinião. Tu ficas com a tua, eu com a minha. E pronto...

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  13. Concordo mas infelizmente em Portugal começamos a facilitar demais no ensino.

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  14. Luna é obvio que tens razão: a formação é essencial para o desenvolvimento de cada individuo e por indução para o resto do pais.

    Mas vais-me permitir uma achega. Há claramente (aliás como reconhecido nos posts e respectivos comentários) dois tipos distintos de formação: a formação profissional e a formação superior. O que se passa na maioria dos outros países (os do nosso campeonato, naturalmente) é que estes duas opções estão bem tipificadas e as pessoas são naturalmente orientadas ora para uma ora para outra conforme as suas aptidões, características ou desejo pessoal. Enquanto que a formação superior estará mais indicada para os jovens que mostrem uma maior aptidão para o pensamento abstracto, o ensino profissional será o preferido daqueles que preferem conceitos mais práticos e objectivos. Isto tudo passa pela existência de uma forte estrutura de apoio que ajuda a encaminhar os jovens para as opções que lhes são mais indicadas. Infelizmente esta estrutura não existe em Portugal (poderei estar a ser injusto devido ao desconhecimento da realidade actual, mas duvido...) o que cria situações de grande desajustamento entre as características e desejos das pessoas, as necessidades do mercado e a criação de cursos (sejam superiores, sejam profissionais) e o respectivo desenvolvimento curricular. As consequências são as que aqui têm sido por aqui apontadas. Querer reduzir isto a discussões fúteis sobre o valor de cada uma das opções é ridículo e típico da pequenez que infelizmente nos caracteriza.

    Mas a situação torna-se de tal modo confusa (com iletrados a chegar a posições que estariam naturalmente reservadas a licenciados, e vice-versa) que origina que as pessoas comecem inclusive a duvidar do real efeito e da necessidade da formação (como aliás pudemos ver em alguns comentários).

    Só para terminar (e desculpa a extensão deste comentário mas este é um tema que me é particularmente querido) uma última palavra de encorajamento para ti e para a via que tu escolheste: a via pela qual tu optaste é sem sombra para dúvidas uma das mais ingratas e difícil; mas é graças ao facto de ainda haver pessoas a segui-la que a raça humana poderá ter aspirações a continuar o seu desenvolvimento.

    Um beijinho

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  15. MRP

    obrigada por este comentário, sem dúvida o mais lúcido e coerente que recebi, focando bem melhor que eu própria a ideia que pretendia transmitir. É que é isso mesmo.

    Beijinhos

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  16. Huum...Concordo e discordo, concordo porque senão em certos aspectos nada disto andaria para a frente, e porque felizmente há pessoas com essa ambição, vontade e com certos objectivos, e discordo porque todos somos diferentes, e certas pessoas com ideias diferentes, e pontos de vista alternativos que não se enquadram nem conseguem interagir com o nosso meio de educação que é um pouco castrador a meu ver...
    Liberdade de escolha para mim é importante...
    Mas com uma certa escolaridade obrigatória, pelo menos até a pessoa já ter a capacidade de saber o que realmente quer da sua vida.

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  17. Gostei do post, muito claro e bem escrito.

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  18. O problema é quando a "formação" cai no oferece-canudo. Curtos de equivalencia ao 9º e 12º ano que sao basicamente... jogar futebol. Sim. Eles existem. No final, o pais fica mais contente porque as estatisticas mostram que a média subiu. So que a custo do futuro. Disso não tenho dúvida!

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