24 de setembro de 2009

Voltando à vaca fria

E depois, há toda a questão da estratificação social. Em países com baixos níveis de escolaridade, como Portugal, em que a maioria da população tem apenas o ensino básico ou menos, mais de 70% no nosso caso, com o resto do bolo dividindo-se entre quadros médios - ensino secundário e/ou formação profissional - e superiores - licenciatura e/ou pós-graduação -, o que acontece é uma maior estratificação social e disparidade salarial. Sendo a maioria da população pouco qualificada, é paga em conformidade, com as classes mais baixas a ganhar em média o ordenado mínimo, os quadros médios a ganhar duas ou três vezes mais, e os superiores, por serem poucos e por isso privilegiados, não raramente cinco a dez vezes mais. Claro que há excepções, especialmente em tempos de crise e quando há excesso de licenciados em áreas para nas quais não há procura, como o excesso de formados em humanísticas no nosso país, mas no geral é assim que funciona. Ora, em países em que o nível de escolaridade é mais alto, estas diferenças vão-se dissipando. Por um lado, porque havendo muito mais quadros médios e superiores, estes deixam de ser considerados elites, não sendo por isso os seus ordenados tão exorbitantes, por outro, porque a chamada "classe operária" é mais qualificada, tem mais estudos, sendo por isso mais bem paga, resultando esta conjugação num maior nivelamento salarial. É o que acontece em países como a Holanda, onde os quadros médios e superiores constituem cerca de 70%, e em que o ordenado mínimo ronda os 1400€, enquanto os quadros superiores ganharão cerca de 5000€. Dando um exemplo concreto: numa universidade, o assistente de armazém ganhará os tais 1400€, enquanto o full Professor ganha à volta de 4200€. Tendo em conta o sistema de impostos holandês, o tipo do armazém ganhará uns 900€ limpos, enquanto o catedrático cerca de 2700€, ou seja, na prática, 3 vezes mais. Já em Portugal, apesar dos ordenados mínimos limpos serem perto de metade dos da Holanda, os catedráticos ganham mais ou menos a mesma coisa, sendo que a diferença salarial duplica, com o Professor a ganhar 6 vezes mais que o tipo do armazém, e isto sem entrar no sector privado. E é também por esta razão que é importante que os tipos do armazém estudem, se qualifiquem, para poderem ambicionar maior justiça social e igualdade salarial. E digam-me o que disserem, não ver isto é mesmo falta de lucidez. Os chefes agradecem.