Há coisa de sete, oito anos, conheci o homem mais bonito do mundo. Não aos olhos do mundo, mas para mim. Era lindo. Vi-o em câmara lenta quando me voltei porque um amigo me chamou para mo apresentar. Lembro-me de lhe estender a mão, paralisada, sem sequer ser capaz dos dois beijos da praxe. Era artista e viajava sozinho pelo mundo, o que em mim exercia um fascínio enorme, que nunca fui imune a clichés. Nunca me ligou nenhuma, claro, o que o fazia ainda mais interessante. Inábil e insegura como só eu, deixei passar as oportunidades todas, e passado pouco tempo já me chamava Aninhas, que é o mesmo que dizer esquece lá isso e parte para outra. Ainda assim, sempre que o via, sentia um friozinho no estômago, corava, e invariavelmente não dizia nada de jeito, balbuciando monossílabos tímidos e desconexos sempre que ele estava por perto. Depois o tempo foi passando, os encontros cada vez mais espaçados, eu mudei de país uma, duas, três vezes, e deixei de o ver.
Voltei a encontrá-lo há uns meses, no bairro. Vi-o através da janela do maria caxuxa. Ali estava ele, do outro lado do vidro. Um aperto no estômago, corri lá para fora para lhe falar. Já não me chamou Aninhas. Achei-o velho, achei-o gasto, continua um homem bonito, mas já não o achei lindo como antes, e de repente dei por mim constrangida, sem nada para lhe dizer, para lhe contar, nada em comum que justificasse continuar a conversa. Desculpei-me, tinha amigos à espera, gostei de te ver, fica bem, e voltei para dentro. Tudo tem um tempo, e deixando-o passar não sobra mesmo nada, ou quase nada. E agora, nem mais o frio na barriga.
o tempo acaba com tudo se o "deixarem".
ResponderEliminargostei do texto.
Tenho medo que isso me aconteça com o "meu" homem mais bonito do mundo...
ResponderEliminarBonito, gostei.
ResponderEliminarBjs
é a consequência de deixar passar 'o' momento. como no the accidental husband... let thru...
ResponderEliminarGostei muito.
ResponderEliminarEntão... espero que daqui a uns tempos, olhe para o homem que eu acho mais bonito do mundo (fisicamente) e o veja como um velho gasto e que também já não sinta nem frio na barriga, nem tenha nada para lhe dizer.
ResponderEliminarAh! e mais uma vewz tenho que lhe fazer referência no meu blog.
ResponderEliminarAgradecida. :)
ResponderEliminarOlá Ana,
ResponderEliminarleio o teu blog com alguma assiduidade com este post fiquei surpreendida.
Não te imagino uma " Inábil e insegura..." muito pelo contrário pelas tuas palavras considero-te uma pessoa muito segura de si e que sabe bem o que quer.
Talvez ele não fosse assim tão interessante, pois se o fosse de certeza que terias ido à luta.
Sincero abraço
Sairaf
E sou, em tudo, menos com homens. Ter-se sido patinho feio na adolescência deixa marcas, e a insegurança é uma delas. Todos nós com um calcanhar de aquiles. ;)
ResponderEliminarE porquê "Austrália" ? Parabéns pelo blog, que sigo atentamente, mas que comento/indago, agora pela 1ª vez :)
ResponderEliminarMuito bonito!
ResponderEliminarHá frascos que nunca deveríamos voltar a desrolhar, não vá o perfume ter-se evaporado.
ResponderEliminarO problema é que só sabemos depois, não é? (e lá estou eu outra vez a lembrar-me de Proust, pronto)
Só discordo contigo numa coisa... Ter-se sido patinho feio na adolescência (eu fui) transformou-me numa ultrapassadora de complexos porque tive muito tempo para fazer esse trabalho interior...
ResponderEliminarMas o texto está lindo!
Tudo tem o seu tempo... ninguém sabe ao certo é quando ;)
ResponderEliminarOlá boa noite.
ResponderEliminarParabéns!.. Adorei a sua escrita, a forma como conseguimos visualizar acerca do que escreve.
Admito, que poucas são as vezes que comento blogs, mas foi impossível não comentar este!..
"Viva sempre!.. (Simplesmente..)"
*Rita
Ter sido um patinho feio é uma benção. Se tivesse à época sido a darling do seu circulo a melhor parte da sua vida parecer-lhe-ia agora ter estado naqueles anos, de qualquer maneira sempre demasiado intensos, da adolescência. O que não falta são pessoas infelizes que tiveram infâncias perfeitas e adolescências deslumbrantes. A melhor parte da minha vida, Amiga, veja lá, começou aos 40 ... Esquisito, não é?
ResponderEliminaracho que é o melhor texto que já li no teu blogue, e costumo lê-los todos... está mesmo muito bonito!
ResponderEliminarInábil e insegura? Certamente que essa Ana, não será a Ana de agora (falo eu que nem sequer conheço qualquer das duas (uma)). Mas tens razão, tudo tem o seu tempo e se deixarmos escapar aquele instante, então, perdeu-se no infinito. Acredito que os olhares que se cruzam podem mudar uma, duas, três vidas, e que cada instante acontece por alguma razão. Geralmente quando deixamos o tempo passar e reencontramos os donos do olhar, já não é a mesma coisa. Nunca mais será a mesma coisa. Chama-se Vida a isso.. e quando acontece, embora raramente, é uma merda.
ResponderEliminarEu concordo com a Luna que ter-se sido o patinho feio na adolescência deixa marcas... juntando-lhes outros problemas, bem mais graves por sinal, na adolescência e ficamos com marcas para muito, muito tempo :S
ResponderEliminarOs patinhos feios transformam-se em cisnes.
ResponderEliminaressa perspectiva assusta um bocadinho, porque... a vida desgasta sempre a todos, e um dia acabamos por nos vermos ao espelho, e perceber que perdemos a chama... não sei se me faço entender...
ResponderEliminarWolve