18 de outubro de 2009

Erasmus 5.5

Foi há um ano que parti rumo ao desconhecido, de armas e bagagens embarquei na aventura que iria mudar a minha vida, cortando amarras com tudo o que conhecia, pela primeira vez sem raízes, livre, livre como deixamos de o ser desde que nascemos. Sem saber o que me esperava cheguei a Milão, carregada e perdida, sozinha numa cidade estranha mas que haveria de sentir tão minha meses mais tarde, entranhada em cada canto da memória e do meu corpo.

Abracei a vida que se me abriu de par em par, sem ter medo, sem hesitar, sorvendo tudo com a sofreguidão de quem quer viver depressa, porque o cronómetro não pára e o tempo escasseia. Respirei todo o ar do mundo, bebi de todos os copos e beijei todas as bocas, ri todos os risos e chorei todas as lágrimas, e voei, livre como nunca antes, vivendo cada dia como uma experiência única.

Não sabia ainda que o meu coração se partiria em dois, sem saber onde bater e que as raízes afinal são mutáveis, que podemos não pertencer a ninguém nem a lugar nenhum. Não sabia ainda que me perderia ao mergulhar no azul dos teus olhos e que uma língua que não era a nossa bastaria para nos unir, nem que teria de te dizer adeus, e te veria partir para sempre como a todos os que foram minha família, amigos, tudo, entre lágrimas nos olhos e promessas de amizade eterna que sabemos que não serão cumpridas.

Não sabia que nunca mais seríamos os mesmos e que o que vivemos ficou lá, nessas ruas e recantos, nas praças, nas noites, e que não poderíamos trazer connosco nunca mais.

Há um ano atrás era só esperança, hoje é saudade, amanhã que será?


Repost: Originalmente publicado a 01/03/2005 (era tão bebé)

4 comentários:

  1. clap clap clap...
    é isso que me falta, cortar as amarras do meu barco e partir sem destino certo. Deliciar-me com cada lugar, com cada pessoa que vou descobrindo...

    ...que vontade de agarrar a minha mochila velha e cá vou!

    Admiro-te pela coragem e força que tiveste em partir...
    Com carinho
    Sairaf

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  2. Talvez compreenda como ninguém o que aqui escreves. Milão também representou para mim um cortar das amarras, um novo nascimento, deu-me essa urgência de viver. (...)

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  3. Olá :)
    Vim parar ao teu blog por acaso, e por acaso também estou neste momento de Erasmus em Cluj-Napoca na Roménia.

    Antes de mais quero pedir desculpa pelo o testamento, mas senti a necessidade de 'disparatar' isto tudo aqui, pois adorei o teu texto e acho q é mais facil partilhar o q é Erasmus com as pessoas q passam pela mesma experiencia...

    Conseguiste transmitir por palavras tudo q tenho vivido e arrepiei-me à medida q ia lendo o texto. Vejo em mim quase tudo aquilo que tu descreves aqui. Apenas tou cá ha um mês, mas ja sinto como se fosse um ano, de tanto q ja vivi e senti. Já conheci pessoas compeltamente diferentes de mim e q sei q me maracarão para sempre, e certamente deixarei amigos q como tu disseste, apesar das promessas de amizade eterna irão desvanecer. Erasmus é surreal e só quem o vive pode imaginar o que é!

    Muitas felicidades e parabéns pelo blog!

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  4. Há um blog portugues muito interessante que retrata este aspecto de ir viver para o estrangeiro. O objectivo é reunir testemunhos de portugueses licenciados que foram trabalhar para outros países e partilhar os sentimentos e experiencias.

    Talvez possam deixar lá o vosso testemunho!
    Eu só vivi no estrangeiro em pequenos periodos de 2 a 3 meses mas gosto de ler os relatos e partilho muito desses sentimentos!

    Neste momento gostaria de voltar a "fugir" mas não tenho coragem para abandonar tudo!

    http://mindthisgap.blogspot.com/

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