14 de outubro de 2009

Deixar passar

Quem me conhece sabe do meu mau feitio e da minha falta de tolerância relativamente a certas atitudes que considero incorrectas. Há tempos, num episódio do Dr. House falava-se disso mesmo, do fazer o que é certo mesmo parecendo pouco simpático. Mesmo que traga problemas. E, na minha vida, mal ou bem, e possivelmente mais vezes mal do que bem, tento fazer a coisa certa e agir segundo esse princípio.
E é por isso que encontrando apropriações indevidas, cópias sem referências, não sou capaz de deixar passar em branco. É como quando estou na fila do bar e umas miúdas me tentam passar à frente. Gera-se instantaneamente um diálogo na minha cabeça entre o anjinho e demónio que há em mim, sobre o que fazer, ou não fazer: "Podia deixar passar, também não é por aqui que vem mal ao mundo", "Mas estão aqui a fazer-me de estúpida e às outras pessoas que estão na fila há mais tempo", "Coitadas, deixa-as lá, que são miúdas", "Mas está mal", "Mas vais estar a chatear-te para nada", "Epá, não dá, talvez daqui a 50 anos e se fizer muito yoga entretanto, mas agora não vai mesmo dar". E acabo invariavelmente a tocar num ombro ao de leve e indicar o fim da fila. Atingi o expoente máximo de perfeição neste conflito ao conseguir fazer isto tudo sem emitir um som, que é uma coisa que chateia muito menos e evita confrontos directos. Já o consegui fazer inclusive com a tipa que me estava a roubar o casaco num bar. Aproximei-me, toquei-lhe no ombro, apontei para o casaco que levava debaixo do braço, e ela devolveu-mo em silêncio. Pronto, tudo resolvidinho e sem grandes chatices.
Mas não posso mesmo deixar passar, é mais forte que eu. Como dizia a minha mãe tantas vezes: "Posso não endireitar o mundo, mas o mundo não me entorta a mim". E é assim que tento viver. E é por isso que por mais anos que viva continuarei a apontar o que me parece errado e chamar a atenção de quem erra.

Repost: originalmente publicado a 13/04/2007

10 comentários:

  1. Sem querer te maltratar e de boa-fé, juro:
    Não achas esta frase, um bocadinho que seja, pretenciosa?
    "E é por isso que por mais anos que viva continuarei a apontar o que me parece errado e chamar a atenção de quem erra."
    Tenta abstrair-te e imagina que leste isto num outro blog.

    Faz-me lembrar assim uma espécie de Batman das virtudes públicas.

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  2. Pode, sim, e é. Mas sou assim, nada a fazer, quando algo me parece mal não consigo fingir que não o estou a ver. Nunca disse que não tenho defeitos ou que sou perfeita, e muito menos que não sou por vezes arrogante e pretensiosa, que sou. Tenho defeitos como qualquer pessoa, uns piores que outros, sendo que a capacidade de "os perdoar" é na blogosfera bastante mais limitada que na vida real. Até porque se assim não fosse ninguém teria amigos.

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  3. Eu tou a ver é que já naquela altura tinhas chatices com os trolls nos comentários... :D
    Gosto muito do blogue. Boa sorte aí nos países baixos.

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  4. Tenho a dizer que concordo em pleno com a Luna. Nunca me canso de corrigir estas pequenas "falhas" de educação/carácter, e tenho sempre a esperança que as pessoas eventualmente vão interiorizando que o que estão a fazer é errado. Mudando o mundo para melhor a pouco e pouco, etc.

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  5. adorei a frase 'posso não endireitar o mundo, mas o mundo não me entorta a mim' :)

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  6. Mas olha que às vezes dá uma vontade de desistir disso muito superior do que aquela que nos faz acreditar.

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  7. Ia dizer exactamente o que te disseram no primeiro comentário. Que parecia um bocadinho pretenciosismo, mas que sabia que não era. O que é importante, na minha opinião, é que ao mesmo tempo que percebemos e tentamos corrigir os erros dos outros, o façamos também quando somos nós a errar. Acredito que o faças por tudo o que tenho lido aqui. Mas conheço pessoas, já bem mais velas que nós, que se acham praticamente perfeitas e que apenas apontam defeitos aos outros sem se aperceberem que também os têm. E esse é para mim um dos maiores problemas. Aceito que me digam que errei e até agradeço se o disseram de uma forma positiva mas não aceito que quem mo diz se ache superior, intocável e quase perfeito.

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  8. Aviso: comment longo mas válido. LUNA: compreendo-te perfeitamente, não diria melhor. Abaixo um poema de uma brasileira (Elisa Lucinda) sobre a "teimosia" de desejar um mundo correcto.

    Título - Só de Sacanagem


    Meu coração está aos pulos!
    Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
    Por quantas provas terá ela que passar?
    Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

    Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

    É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

    Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, "Esse apontador não é seu, minha filhinha”.

    Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

    Até habeas corpus preventivo,

    coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

    Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:

    mais honesta ainda vou ficar.

    Só de sacanagem!

    Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.

    Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.

    Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.

    Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.

    Eu repito, ouviram? IMORTAL!

    Sei que não dá para mudar o começo
    mas, se a gente quiser,
    vai dar para mudar o final!

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Rapariga... tu sê quem és e não mudes. O problema da maioria das pessoas é comerem e calarem, logo, ficam sujeitas a serem maltratadas, gozadas, por outras. Até há uns meses eu era um bocado "boazinha". Nunca me chateava, nunca gritava, nunca dizia nada... faziam gato/sapato de mim e eu deixava andar. Opá, agora ninguém me pára! Como no Domingo: ao entrar na escola para exercer o direito cívico vejo três dedos apontados contra mim e um deles a dirigir-se velozmente contra a minha camisola; eram os bombeiros a colarem-me o raio dos autocolantes. Dei um berro de tal forma que todas as pessoas se puserem a olhar (é que aquela merdice em mim não iria ser colada, porque dps teria que contribuir para o peditório local) e ainda tive a pachorra de, mesmo adoentada, ouvir um sermão de um deles (bombs). Valeu-me a minha mãe que entrou na brincadeira, porque na mh cabeça só me corria a ideia de mandá-lo à merda, mais a porcaria do sermão e do peditório. (Bom.. isto foi um exemplo). Hoje tive HORAS na segurança social, obviamente que se tem de fazer um chinfrim quando estamos 2 horas à espera para sermos atendidas por assuntos que não demoram 5 minutos a resolver. Em relação aos blogs, nunca me aconteceu nada de grave, mas no facebook, um comentário meu (que foi publicado tb no Blogger) sobre a gripe-A originou uma reacção pouco simpática e educada de um "amigo"???/ colega meu. Enfim, basta ler o que eu escrevi depois sobre esta coisa de quererem à viva força que tenhamos TODOS a MESMA opinião. Ufa... tou cansada. =)

    10/14/2009 6:06 PM

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