9 de janeiro de 2010

A ilusória tranquilidade

Neva de novo, suavemente. Os países baixos vestem-se de branco, e os quarenta e três minutos de viagem entre Leiden e Utrecht permitem-me uma visão extensa de paisagem branca, silenciosa, como nos postais antigos e ilustrações de Natais passados. São os campos, pontuados aqui e ali com uma ovelha ou uma vaca, certamente transidas de frio, coitadinhas, as árvores vestidas de branco, os telhados dos pequenos povoados onde a neve se acumula, mais ao longe uma torre de igreja. Os canais congelados prendem os barcos, que já não flutuam e se quedam imóveis. Imóveis. É esta a palavra. Nesta brancura tudo parece imóvel, e o frio convida a permanecer em casa, contribuindo para o cartão postal. Mas é ilusão.
O mundo e a vida não param porque neva, e as pessoas têm de ir trabalhar, os miúdos de ir à escola, os transportes de funcionar. A neve derrete acaba por transformar-se em gelo, que cobre as ruas em não tão finas camadas, fazendo delas pequenos rinques de patinagem. É engano, a neve traz tudo menos tranquilidade, dificultando os acessos, impossibilitando a circulação normal nas estradas, acumulando-se nos passeios, impedindo que se ande em posição erecta, mas antes à pinguim, ligeiramente inclinado para a frente, de braços afastados para manter o equilíbrio, devagarinho, tentando evitar quedas inevitáveis. As bicicletas circulam apenas em algumas zonas porque outras se tornam demasiado perigosas, e mesmo os carros necessitam de especial precaução. Tudo isto uma grande chatice. Salva-se a visão das crianças, aqui e ali, a patinar nos canais da cidade. Maybe it isn't so bad after all.

9 comentários:

  1. Odeio neve. O teu texto, however, é de amor à primeira vista.

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  2. aqui também estamos vestidos de branco! é a nova cor da estação :)

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  3. Pois, é como quando me dizem "ah que sorte, tens neve"... pois pois, é lindo na paisagem, na foto, pela janela, quando não tens de sair de casa. Quando estás na rua, mãos fora da luva para atender telefone, andar com saco do supermercado, dentes a bater, neve a descongelar e molhar a pele, já não é tão "kutxi kutxi"!

    Bref...

    A Elite

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  4. E a neve a entrar nos olhos? Geeeez

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  5. Melhor sensação do ano: uma pessoa escreve um SMS em segundos em tempo normal. Quantos minutos se demora enquanto neva?... com os dedos congelados, as pontinhas a queimarem, as telas molhadas, ou o ecrã digital que fica confuso e sem utilidade com os flocos? :)

    A Elite

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  6. Por isso e' que hoje no parque al'em dos putos e dos paizinhos, eu era a 'unica parolita a fazer bonecos de neve e a tirar imensas fotos... Estou definitivamente convencida que sou a 'unica pessoa da regiao feliz por estar a nevar!

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  7. Sabes? Aprendi que não sei viver na neve à custa de nódoas negras (muitas), figuras tristes (sem conta) e que, o problema reside não na fofinha que cai, quando cai, mas na que fica à mercê dos -20º da noite que amanhce gelo deformado e que se torna uma coisa traiçoeira, cheia de armadilhas, impossível de palmilhar sem permanentes cumprimentos das nádegas ao chão.

    Uma vez, a pior das vergonhas sem ser o pior dos hematomas, saí de manhã para as aulas de saia comprida, até aos pés, travada e gira. Mal ponho pé na rua mando um tralho daqueles.
    Por acaso lembro-me de achar estranho a facilidade com que me pus de pé...andando, chego à Escola.
    Dispo-me e sinto-me assim...arejada.

    Uma colega apressa-se a avisar-me.
    A saia,por baixo do casacão, estava descosida do fecho até lá baixo...cueca e collants ao laréu:)

    Só me pude rir. Nessa aula, de casacão, suei as estopinhas.

    Estórias de um passado no Branco.

    Abreijos,
    Di

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  8. Eu também fiquei toda contente quando começou a nevar aqui em Manchester a semana passada e não fui trabalhar porque nem autocarros havia. Agora, sinceramente, já chega! Não consigo andar na rua sem escorregar a cada 5 passos...

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