8 de maio de 2010

Filme depois do livro

Sou atenta aos detalhes. Mais, tenho boa memória para eles, razão pela qual detecto pequenas incoerências em séries de televisão, filmes, ou episódios contados por amigos aos quais foram acrescentados pontos, sentindo estas não verdades como pequenas traições, às quais quase ninguém dá importância, excepto eu. Eu, obcecada com a verdade, com a veracidade dos acontecimentos, com a fidelidade ao que foi dito e como foi dito, eu, que confirmo mil vezes as coisas antes de as afirmar, vendo-me obrigada a retratar-me se posteriormente percebo ter-me enganado, a chata que tem de se controlar para não corrigir sistematicamente as histórias que os amigos tentam tornar mais interessantes do que realmente são para parecerem mais cool. Talvez por isso se torne difícil apreciar devidamente filmes depois de ler os livros, pois detecto cada desvio à história, cada diálogo inexistente e acrescentado, mais ainda quando os acrescentos não acrescentam nada, antes pelo contrário. E é por isso que não sei o que sentir relativamente a Elegy, porque vejo as liberdades no argumento como pequenas facadas ao livro, com as cenas e diálogos originalmente inexistentes por vezes quase roçando o piroso, o lamechas, retirando força à história, enquanto deliberadamente se deixa de fora a cena com a maior carga simbólica e estética. Tê-la inserido com subtileza teria sido uma prova de génio na realização, que optou por jogar pelo seguro ao excluí-la. De qualquer forma, imagino que o filme seja bom para quem não leu o livro, embora não desperte necessariamente os mesmos sentimentos ou reflexões.

13 comentários:

  1. Se calhar como gostas de ser tão certeira não perdias nada em ler sobre o papel das adaptações tal como a ideia da fantasia do leitor VS fantasia do espectador.

    ResponderEliminar
  2. Uma adaptação pode ser mais ou menos fiel, sendo que para quem não conheça o original, isso é indiferente. No entanto, quem conhece o original consegue perceber se a adaptação é mais ou menos fiel, e se as liberdades tomadas acrescentam algo ao original, ou se, pelo contrário, o empobrecem. Neste caso, embora ache que na maior parte o filme é bastante fiel ao livro, parece-me que as liberdades tomadas na adaptação não melhoraram a história. E não acho que precise de ler tratados sobre o papel das adaptações ou da fantasia do leitor vs espectador para pensar isso.

    ResponderEliminar
  3. eu sou bastante assim. gosto de ver como ficou o filme que saiu do livro mas fico tão desiludida.. digo sempre que vou pensar que são coisas diferentes, que se é assim é porque tem que ser, mas não consigo :|

    ResponderEliminar
  4. Não li o livro nem vi o filme, mas sou igual na atenção aos detalhes.

    Nas séries de televisão, noto a menor falha de continuidade. No SATC, uma das coisas me mais me irritam é a estranha relação da Carrie com o telemóvel (ora tem, ora não tem - na última temporada ainda a vemos a falar de uma cabine telefónica). Nesse aspecto, Friends devia ter óptimos e muito atentos anotadores, porque tudo bate certo com tudo.
    Já recentemente, numa série que ando a ver, a fabulosa Gilmore Girls, também detectei um disparate enorme da 1.ª para a 3.ª temporadas. Aquela gente não tem memória ou quê? É que os espectadores têm.

    As adaptações de livros só muito raramente estão à altura do original. E depois há as excepções, sendo a maior de todas To Have and Have Not, que Hemingway considerava suplantar o seu original. Mas são isso, excepções.
    Talvez por isso (mas não só) continue a achar que Brideshead Revisited é a melhor série jamais feita, tamanha a fidelidade ao original. E estou a lembrar-me de um outro exemplo de grande fidelidade (adoro tanto o filme como o livro): Accidental Tourist, de Ann Ryce, no cinema com William Hurt, Kathleen Taylor e Geena Davies.

    ResponderEliminar
  5. Luna: e que tal aceitar uma sugestão só porque sim?! Sem achar que estão a questionar as suas inúmeras capacidades, habilidades e afins

    ResponderEliminar
  6. Ana: que tal deixar comentários sem que pareçam desafios às mesmas capacidades? Tipo, com um tom simpático e tal, em vez de extremamente arrogante e presunçoso? Fica a sugestão, a aceitar só porque sim.

    ResponderEliminar
  7. p.s. especialmente em textos que reflectem opiniões tão pessoais como sentimentos relativamente a filmes, livros, etc.

    ResponderEliminar
  8. A capacidade de abstracção é o maior desafio nestes filmes. Mas quando gostamos especialmente dum momento num livro que nos fez todo o sentido e que nos despertou para determinada realidade ou possibilidade, vê-lo retirado do filme é como despir o argumento. E não há nada que os valha, mesmo para alguém tão pouco atenta a preciosismos como eu.

    ResponderEliminar
  9. Desisti de ver adaptações cinematográficas de livros lidos depois de perceber que a a 'realizadora' que há em mim é insuperável.

    Tive essa prova em três ocasiões:

    A Fogueira das Vaidades

    O Prémio

    Êxodos

    Todos uma enorme desilusão. Pareciam os livros condensados do Readers Digest!
    Um desastre!

    Beijo, Luna Maria :)

    ResponderEliminar
  10. Luna: Agora estás a querer dar uma de Maya a interpretar as coisas apenas através da escrita. A questão da arrogância pensava que era requisito obrigatório neste espaço.

    ResponderEliminar
  11. É uma questão de saber analisar a forma como nos dirigimos a pessoas que não conhecemos, o grau de formalidade, cordialidade, etc, ou, neste caso, como pessoas que não conheço de lado nenhum se dirigem a mim:

    "Se calhar como gostas de ser tão certeira não perdias nada... "

    se te parece que não há nada de errado neste início de frase, nem vale a pena discutir o que quer que seja. Só faltava um olha lá, ou um pá.

    Quanto à arrogância, amor com amor se paga, e quem comenta de forma simpática e cordata geralmente não tem razões de queixa.

    ResponderEliminar
  12. P.S. O mesmo tom de abusiva confiança aparece no "agora estás a querer dar uma de Maya...". Não é astrologia, minha cara, é educação.

    ResponderEliminar
  13. Eu também concordo. Existem poucos filmes que conseguem ser tão bons como os livros em que foram baseados ou melhores. É certo que a mioria dos filmes diz que foi baseado em livro tal ou adaptado do livro tal. Mas se foi adaptado, pode usar as personagens, as ideias, os cenários. Mas não pôr tudo o que o livro dá, acrescentar pormenores que só estragam ou cortar pormenores que até são interessantes e depois se ninguém gosta, atirar para o meio que «é uma adaptação, não é suposto ser tal e qual o livro».
    Muitos bons livros tiveram assim a sua reputação estragada. Eu sou mais infantil. Até gostei do Twilight livro, mas o filme detestei, especialmente as sequelas.
    Adorei o Harry Potter, mas os filmes estragaram muito, pois muitos dizem que não gostam de HP, mas só viram esses filmes horrorosos e daí pensam que tudo é assim.

    ResponderEliminar