20 de junho de 2010

"Saramago e os parolos"

De vez em quando, vem à tona um velho argumento que podemos sintetizar da seguinte forma: como houve muitos escritores do cânone que, cumprindo os critérios de elegibilidade, não ganharam o prémio Nobel, não devemos dar grande importância a esta distinção. Este argumento é irmão de um outro, também velhinho, a saber: como houve muitos escritores premiados com o prémio Nobel que o tempo castigou, tirando-os do cânone, não devemos dar grande importância a esta distinção. Quando combinados, os dois argumentos aparentemente transformam o Nobel numa distinção de escola secundária atribuída a um bom aluno que anos depois viria a falhar a entrada na universidade. Em resumo, algumas pessoas julgam-se na posse de um segredo que resolvem partilhar: o de que o prémio Nobel não é necessário nem suficiente para definir um grande escritor. Só quando recuperamos desta desconcertante novidade damos conta de que não fomos expostos a uma lapalissada, que é apenas uma manifestação de desleixo cognitivo, mas sim a um raciocínio próprio de parolos, embora me custe ofender publicamente todos os parolos do mundo que jamais emitiram um pensamento sobre o prémio Nobel.

Vasco Barreto, no Aparelho de Estado

2 comentários:

  1. mainada!

    Duvido que muitos desses parolos tenham descernimento para abarcar a mensagem...

    digo eu...

    ResponderEliminar
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar