E o prémio Nobel da estupidez vai para:
"Mas, desculpa lá: só porque ele venceu o prémio Nobel já não pode ser censurado?"
"A ignorância tem alguma inconveniência. Quando se junta à estupidez, não há remédio."
José Saramago
*censura no contexto de ver os seus livros censurados, sim, era mesmo isso
Luna, eu também vi "isso" escrito e incomodou-me imenso. Não comentei, pois a dita cuja, não deve saber o que é censura, falta de liberdade de expressão,lápis azul...
ResponderEliminarEu não comentei porque alguém que se sai com esta é certamente uma pessoa com quem não dá para discutir.
ResponderEliminarGostava tanto de encontrar em vídeo a palestra do Rushdie, especialmente as partes onde falou de censura, do medo que as pessoas têm das ideias dos outros, e da impossibilidade de diálogo com algumas pessoas, porque simplesmente não há bases para. Aplicava-se tão bem aqui. Enfim...
Eu não sei quem escreveu nem preciso.
ResponderEliminarO que me entristece é ver que o meu país, que é também o país de Saramago, está cheio de gente medíocre que trata dessa forma a pessoa que mais fez pela língua portuguesa desde sempre. E depois ver que aqui, em Espanha, o respeitam muito mais, o acarinham muito mais, e isso que Espanha também é ultra católica. Saramago não renegou o seu país. Foi o país que renegou Saramago.
Eu se não fosse um tão grande defensor da liberdade de expressão até dizia quem é que devia ser censurado...
ResponderEliminarTambém li um que dizia qualquer coisa do género: «Toda a gente sabe que os prémios Nobel já há 30 anos que não têm valor nenhum».
Realmente é triste que em Espanha e no Brasil haja muito mais respeito por ele do que no nosso país. Pequeninos, continuamos a ser tão pequeninos...
Para começar, vencer o Nobel é tão labrego que me faltam as palavras. É pior do que isso, é ignorante. Os labregos terão desculpa, os ignorantes dificilmente.
ResponderEliminarO Nobel é atribuído. Não é um concurso de televisão em que se vão somando pontos.
A Academia Nobel tem feito gravíssimas asneiras. Zola não recebeu o prémio, mas aí até se percebe, Nobel, o criador, tinha detestado os seus livros, percebe-se que os seus testamenteiros o ignorassem. Proust é um caso incompreensível. Morreu em 1922, ia o prémio em vinte anos de vida. Acho imperdoável que tenham deixado morrer Vergílio Ferreira, Miguel Torga, Jorge Amado e Jorge Luis Borges sem lhes atribuírem o prémio.
Posso falar de Saramago, porque o li. E voltarei a ler, acho agora. Porque não gosto de falar de cor. Mesmo não lhe gostando da escrita, reconheço-lhe a grandeza.
Muito interessante o link que aqui puseste sobre a cronologia das polémicas de Saramago, de algumas até já me tinha esquecido.
Há coisas em que me apeteceria esbofeteá-lo, confesso, por me parecer que tem uma visão redutora (vide a sua ideia sobre as religiões). A sua posição face aos Judeus e a Israel é um disparate pegado, não tem ponta por onde se lhe pegue. Há coisas em que me apeteceria esbofetear os seus detractores (aquela não votação da Madeira, WTF?).
Tudo isto somado revela a complexidade do Homem, e fá-lo humano, muito humano. Com falhas, com enganos. E grande, ainda assim. Muito maior do que nós todos a escrevemermos em blogues e em caixas de comentários de blogues, e a achar que podemos denegri-lo só porque desde 25 de Abril de 1974 podemos escrever n'importe quoi.
Ainda assim, e justamente por isso, lembro a primeira entrada daquela cronologia do Público, o episódio de 1975 no Diário de Notícias. Aquilo não foi um erro de juventude, Saramago tinha 53 anos à época. Lembro-me muito bem desse ano, em que ainda era muito miúda e em que não ser de esquerda e, principalmente, não ser do PCP, podia ser fonte de sarilhos. Em S. Martinho do Porto o meu Pai mandava-me comprar o Jornal Novo e recomendava-me que o dobrasse ao contrário, para que não lhe vissem o cabeçalho. Naquela época de disparates nem uma catraia de 14 anos estava ao abrigo de agressões só por não ser de esquerda, ou por levar debaixo do braço um jornal que não o era.
E agora já me perdi e calo-me. Era sobre Saramago, pois. Acho que tu percebeste, Luna, e isso chega-me.
Teresa
ResponderEliminarmas se reparares, tirando o infeliz episódio com os jornalistas que não estavam com a revolução - e que embora condenável, estava de acordo, como tu mesma dizes, com o espírito da época, e a ideia de que quem não era de esquerda era fascista, etc.
Tirando esse episódio, que mais se pode apontar para dizer que era "um homem mau", como já vi por aí escrito.
Pode não se concordar com as suas opiniões - eu, pessoalmente, até concordo com a grande maioria - mas são apenas isso, opiniões, posicionamento político, e forte convicção nesse posicionamento. Não acho que isto faça dele um homem mau. Apenas um homem com ideias próprias, que nem sempre vão de encontro às da maioria, e que, por algum motivo, metem muito medo ao povinho que não sabe o que é pensar livremente.
Teresa, nessa lista dos que não receberam o Nobel é favor não esquecer o Tolstoi.
ResponderEliminar"Tirando esse episódio, que mais se pode apontar para dizer que era "um homem mau", como já vi por aí escrito. "
ResponderEliminarPegando numa frase do Saramago a meados dos anos 80: «"Dantes diziam de mim: "É bom mas é comunista." Agora dizem: "É comunista mas é bom."»
Temos sempre que ter em conta que, todos aqueles que ousam pensar diferente, embora ás vezes de forma que discordamos vivamente devem ser respeitados..ousar pensar diferente é complicado, sobretudo num país pequenote como este, onde aliás o nosso chefe de estado resolveu, ele próprio demostrar o quanto se pode ser pequeno. Ele que curiosamente não tem opinião sobre nada
ResponderEliminarCensurar-lhe os livros? What?
ResponderEliminarE essa bela frase foi dita em resposta a um comentário meu noutro blog. Realmente, a estupidez não tem limites.
ResponderEliminarEu sei. Até fiquei verde.
ResponderEliminarA mim perturbou-me mais a estupidez do post onde esse comentário foi feito. Com imenso desrespeito pela o autor, pela sua situação de saúde e pela idade que tinha.
ResponderEliminarAcho legitimo gostar ou nao gostar da obra ou do autor, mas as formas como se dizem as coisas são demasiado grosseiras.
Onde leste isso? está a apetecer-me armar estrilho
ResponderEliminarEu acredito que a pessoa que escreveu esse comentário não percebeu o "censurar" como censura, mas como mera crítica. Se tens razão, Luna, e percebeu mesmo que foi censura, podes dar-lhe o Nobel à vontade, que é merecido. Mas olha que o post original, sem ser estúpido como este comentário, também deixa a desejar.
ResponderEliminarSim, o post em si era já desrespeitoso, mas este comentário para mim ganha o prémio.
ResponderEliminarEu nisto tudo só achei feia a atitude de retirar as dedicatórias à antiga mulher. Mas cada qual sabe de si, e ele lá sabia da vida dele. Não temos o direito de censurar o que quer que seja da vida do homem. Ou se gosta do que ele escrevia, ou não se gosta.
ResponderEliminarEu não sei nada sobre o Saramago, não conheço as suas ideias, nada disso me interessa. Só quis ler os livros,os seus belos livros. Se era comuna, redutor, mal-educado, anti não sei o quê, o que me interessa isso quando leio Memoriais do Convento e coisas assim?
ResponderEliminarÉ como acusar o Eça de Queirós de detestar Portugal, só porque os seus personagens tão mal do nosso país falavam. Eça viveu no estrangeiro quase toda a sua vida adulta e sempre sofreu muito com as saudades. Aliás, eu, como emigras, relembro sempre uma frase dele que dizia: "a distância é um grande telescópio para as virtudes da Pátria".
Do que se escreve ao que se pensa, suponho que vai uma grande distância.
Luna,
ResponderEliminarComo já engatámos no debate em particular, não vale a pena dizer mais nada. Dizer que foi "um homem mau" faz-me calafrios. Mas só em relação à pessoa que escreve tal coisa.
Miguel,
Está coberto de razão. Tolstoi também. Imperdoável. E James Joyce, já agora.
Fui pesquisar rapidamente. Encontrei um link muito interessante. E faccioso. E ignorante, noutros pontos:
http://english.pravda.ru/russia/politics/09-09-2002/1074-nobel-0
Veja este excerto:
«There is actually nothing surprising about this award. Who can recall the name of the first Nobel Prize winner in the field of literature? This prize was awarded in 1901 to French poet Sully Prudhomme. I dare to say that this poet is not known even in France. There are a lot of such doubtful prize winners! Mark Twain, Chekhov, Oscar Wild, Leo Tolstoy and other great writers were living and creating during that time as well, by the way.»
Oscar Wilde (com e no fim, e não Wild, como eles escrevem) morreu a 30 de Novembro de 1900, um ano antes do primeiro Nobel. Sei isto muito bem, porque a minha paixão pela obra dele é tão grande que até fui de propósito a Paris para estar no Père Lachaise à hora exacta da morte dele, cem anos depois. O nosso imortal Eça também não poderia ter recebido o prémio, morreu em Agosto do mesmo ano.
Por acaso até conheço a poesia de Sully Prudhomme, o primeiro laureado com o Nobel, e nem francesa sou (esta entrada é mesmo muito suspeita).
Posso concordar com nomes mencionados, mas há que ser realista. Chekov morreu em 1904, com apenas 44 anos, e ia o prémio em três de existência. Mark Twain (outro muito grande) morreu em 1910, podia e devia ter recebido o prémio. Mas é a mesma história, o prémio estava nos primeiros anos de existência e havia muitos outros grandes escritores vivos à época.
Ninguém mais digno, mundo fora, de receber o Nobel do que o nosso Fernando Pessoa. Que morreu em 1935. Infelizmente publicou um único livro em vida, Mensagem (magnífico, sim, mas que está longe de ser o seu mais alto, isso - opinião muito pessoal, note-se - ficará para sempre em dois dos heterónimos, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro). Não posso legitimamente zangar-me com a Academia Nobel por não ter dado o prémio a Fernando Pessoa, seria um disparate. Já Jorge Amado e Borges são outra história. E Vergílio Ferreira. No futuro há dois dramaturgos que muito desejo que sejam contemplados: Alan Bennett e David Hare. A ver vamos.
Nem vou reler este comentário, que foi começado de manhã, tendo entreetanto conversado muito com a Luna em particular. Desculpe(m) as mais do que prováveis incoerências. E o meu ter-me passado dos carretos, entretanto, no tal blogue em que o comentário que originou esta discussão foi deixado.
Bom, se tivessem atribuído o Nobel ao Vergílio Ferreira aí é que a credibilidade do prémio acabava mesmo. Espero bem que a história da literatura se encarregue de o colocar so seu lugar, que é uma página num volume qualquer numa história da literatura portuguesa. É que nem serve para colocar ao lado de um Pascoaes e este, que construiu um dos grandes monumentos literários portugueses, como sempre mais estudado no estrangeiro que em Portugal, dificilmente poderia ter recebido um Nobel.
ResponderEliminarColocava ainda na lista dos que mereciam mas não receberam o Calvino, o Proust, o Strindberg e o Kafka.
P.S.: E, obviamente, o António Lobo Antunes.
ResponderEliminarA minha mãe ainda conta histórias do tempo em que se compravam livros às escondidas, que o dono da livraria guardava por baixo do balcão e só disponibilizava a quem já conhecia (não fosse um bufo!). Quem com tanta ligeireza fala da censura é tolinho e não merece qualquer atenção.
ResponderEliminarGoste-se ou não de um autor, a liberdade de ver a sua palavra publicada é sagrada. E ponto final.
E quanto à sua personalidade, bom, se vamos por aí Picasso seria retirado de todos os museus por ser um sádico insuportável. Há que saber distinguir. Saramago não ganharia o concurso de Mister Simpatia, mas era um bbom escritor e ninguém lhe nega o valor (embora eu tenha ficado muito desiludida com os últimos livros, mas isso é o meu gosto pessoal).
I: eu achei Caim fraquinho, para um Saramago, mas li-o, pelo que posso expressar uma opinião. Agora vir para aí dizer que não se gosta e sei lá o quê sem nunca se ter lido nada, enfim...
ResponderEliminarNada a ver, parei porque escreveste uma frase chave "impossibilidade de diálogo com algumas pessoas, porque simplesmente não há bases para". Isso define um desespero meu antigo, sobre tantos assuntos (religião, aborto), em que sinto que falo em língua estrangeira.
ResponderEliminarParece-me que a quem disse isto não sabe a diferença entre "censura" e "critica".
ResponderEliminarÉ que uma coisa é ter uma obra censurada, outra é criticada. Duas coisas totalmente diferentes.
Eu também vi. :D
ResponderEliminarA blogosféra é um dedal.
Mas a verdade é que se pode usar censurar no sentido lato. Não é incorrecto usar a palavra como sinónima de criticar.
ResponderEliminarE assim sendo eu, só para chatear, sublinho que Saramago pode ser censurado.
Por isso é que eu acrescentei uma nota sobre o contexto em que a frase foi proferida.
ResponderEliminarEu li. Não foi para a Ana, foi para a Aninhas. :)
ResponderEliminar