da sequência "The illustrated guide to PhD"
Ouvi muitas vezes doutorados dizerem que, caso voltassem atrás para o repetir, o fariam em metade do tempo. Acho que nunca o percebi até agora, quando dois anos e meio passados, atinjo finalmente objectivos propostos para o primeiro ano. O que acontece é que, quando se começa a trabalhar com algo completamente novo, do zero, sem ter ninguém que nos diga como se faz, sem contar com mais que sugestões, de início não fazemos a mínima ideia de como conseguir aquilo a que nos propomos. E começa todo um processo de tentativa e erro, em que vamos aprendendo principalmente com os erros, mais do que com os sucessos, que são poucos, ou quase nenhuns. Ao longo do tempo, e depois de muitas tentativas falhadas, vamos começando a perceber cada vez melhor aquilo com que trabalhamos, ganhando visão de como conseguir realizar os novos passos, baseando-nos nos falhanços anteriores, e na experiência entretanto obtida. Não sabemos ainda como fazer, mas como não fazer. No meu caso, o objectivo mais básico, aquele que deveria ter sido atingido passados menos de seis meses, mostrou-se difícil de alcançar. Aquilo que era tão básico e conhecido com outra molécula, tão estudada, tão conhecida, tão fácil de manipular, com esta mostrava-se impossível de reproduzir. Repetir, repetir, repetir, tentar mudar todas as variáveis, até conseguir um resultado positivo. Demorou dois anos.
O atraso deixava-me abatida, desmotivada. Sem conseguir o objectivo número um, como prosseguir? Se tinha levado 2 anos para consegui-lo, quanto tempo mais demoraria cada passo seguinte? Mas agora entendo. O que aprendi nestes 2 anos fez-me saber o que resulta, e o que não. E, depois disso, os passos imediatamente posteriores têm resultado à primeira, quase ao ponto de não conseguir acreditar. Tanto tempo para conseguir aquilo, e agora o resto parece tão fácil, tão óbvio, tão irreal. Todos os meus falhanços anteriores contribuem para que saiba por onde começar a cada novo desafio, já não começando do zero, nem perder tempo com coisas que já sei que não dão certo. E confirmá-lo, de facto, ao verificar que as sugestões teóricas de pessoas com muito mais anos de experiência do que eu na área não resultam no meu caso particular, faz-me perceber que do meu assunto sei eu, mais que ninguém. E de repente ando a mil à hora, a fazer várias coisas diferentes ao mesmo tempo, que surpreendentemente têm resultado, e que em três semanas me deram mais resultados do que tive em dois anos.
E percebo finalmente a afirmação inicial. Sim, realmente, se eu soubesse o que sei agora, teria demorado dois meses a conseguir o que consegui em dois anos. Mas é isso que fazer doutoramento significa: no final, ninguém saberá tanto desta merda como nós. Porque não tentaram e falharam mil vezes, até acertar uma.
"Tentar e falhar mil vezes, até acertar uma". Será que com o amor também será assim?
ResponderEliminarSe amanhã fizesse o que fiz hoje, fazia em metade do tempo, porque não tinha de estar ali a matar neurónios a pensar no assunto e já sabia a solução. Ou, ao menos, o caminho. Mas sem este processo de "pensadura" não chegava ao resultado. É isto mesmo, seja em letras seja em ciências, e não vale a pena chorar o leite derramado, para a próxima já não partimos a vasilha ;)
ResponderEliminaré exactamente isso que digo aos meus alunos quando vêem que passou um ano ou mais e ainda não têm resultados. E a frase que no fim do doutoramento ninguém sabe mais sobre o tema do que o próprio é a maior das verdades.
ResponderEliminarBjs e continuação de bom trabalho
PS: Aquela história da água, até parece que estás em Portugal e não na Holanda
Na verdade está-se à espera da sorte... o que parece muito pouco cientifico para um doutoramento desta área. E depois de 2 anos dedicados a estudar à exaustão uma molécula, afinal para que serviu tanto trabalho? Publicaram-se um ou dois artigos, mas depois vai-se continuar a trabalhar nessa área, nessa molécula? Foi por estas interrrogações que eu fugi do laboratório e me dediquei ao terreno... a aplicar o que já passou pelo crivo!
ResponderEliminaroh yeah...tinha feito um bonito plano de trabalhos com reviews e "esboços" do modelo ao fim de 12 meses...já passaram uns 20 meses ainda o esboço está a ser esboçado. os traços iniciais...
ResponderEliminare a parte do estar sozinho o inicio e andar a "apanhar chapéus"... é um choque... um autentico estado de choque. e demora a passar...
Ok, cada vez tenho menos vontade de prosseguir estudos até essa fase... ME-DO!
ResponderEliminarObrigado. Estava a precisar de ler isto.
ResponderEliminarSim.. e isto serve para tudo. Há que errar, falhar, vezes sem conta, para aprendermos com os erros e, só assim, conseguirmos algo novo.
ResponderEliminarcomo entendo isso... partilho esse sentimento!
ResponderEliminarEu também estava a precisar de ler isto :)
ResponderEliminarExcelente texto!
Nao sabes o bem que me fez ler isto, apos tres meses a travar uma batalha com o cloning! Thanks a lot! E boa sorte com tudo! ^^
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