8 de fevereiro de 2012

Aos professores

Não sou professora, nunca quis ser professora. Aliás, fiz tudo ao meu alcance para que não tivesse de ser professora. Não tenho jeito, nem paciência, e muito menos sou o que se possa chamar de uma pedagoga inata, com capacidade de se pôr no lugar de quem ainda não sabe. No entanto, o meu percurso académico acabou por me obrigar a que durante umas semanas por ano tenha de dar aulas práticas de laboratório e ensinar o bê-à-bá do trabalho laboratorial, desde saber pipetar ao resto. Surpreendentemente, com algum sucesso, ao ponto de alguns dos meus ex-alunos quererem fazer estágios comigo. Mas a verdade é que ao fim de cada dia estou de rastos, mesmo quando apanho bons alunos, e começo a questionar-me: professores a tempo inteiro, como fazem isto todos os dias? A sério, eu tenho grupos de 4 alunos* universitários e mesmo assim fico estourada ao fim de um dia com eles, como fazem com turmas de 30 alunos todos os dias? Como conseguem sequer pensar ao fim do dia? Ontem quando acabei o curso, comecei a discutir com umas colegas um balanço mássico básico, coisa que faço há 3 anos, e já me estava a baralhar toda com a teoria e os cálculos. Começo a pensar que têm poderes especiais, só pode.

*deveria ter tido 8, mas por algum motivo faltaram imensos. no ano passado tinha 12 ao mesmo tempo, e estava a começar a desenvolver instintos assassinos.

18 comentários:

  1. Não podia concordar mais. Eu até a explicar alguma coisa a um(a) colega de curso, se não perceberem a primeira fico logo com os cabelos em pé. Continuo a explicar, mas não tenho paciência nenhuma.

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  2. Eu antes de me virar para as artes bibliotecárias fui professora durante 3 anos e andava cansada e enervada de manhã à noite, de Setembro a Agosto. Preparar aulas, estudar, dar conta e atenção a quase 30 adolescentes (depois dei ainda a criancinhas, medo)... é de arrancar os cabelos e roer unhas. É preciso método, muita paciência, uma organização mecânica.. às vezes tenho saudades de dar aulas sobretudo pela empatia que tinha com alguns alunos. E o mais certo é que quando já não tiveres de dares aulas venhas a sentir alguma falta, porque pareces ter um bom feedback dos alunos, logo hás-de ter jeito para a coisa.

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  3. Sou professora há 17 anos. Por isso sei como é chegar a casa estoirada depois de passar o dia a ensinar Português, a motivar para a leitura, a desmotivar para o telemóvel, a motivar para a escrita, a desmotivar para a conversa paralela. Ainda assim, há sempre bons momentos que ficam, boas aprendizagens, bons alunos, bons jovens que me fazem ter energia para chegar todos os dias à escola com vontade de cumprir o meu papel da melhor forma possível.

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  4. Eu adoro dar aulas. Toda a minha vida achei que estava talhada para outras coisas, mas já lá vão sete anos e não me imagino a fazer outra coisa. Cansa, é verdade, mas não há nada melhor do que sentir que o nosso objetivo foi alcançado: transmitir conhecimento e espírito crítico. E às vezes tenho turmas de 70 alunos e saio de lá maluca, até porque as aulas são à noite. Mas não há nada melhor. E assim mantenho o Direito na sua pureza!

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  5. Sãozinha, eu ando à espera que desca em mim esse espírito. Mas estes cursos, apesar de curtos, sao a tempo inteiro, e fico burrinha de todo quando cada dia acaba. E esta semana como sao bons têm acabado sempre antes do previsto.

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  6. eu sou prof do secundário nas aulas práticas são 14 de cada vez um turno de manhã outro de tarde...na ultima aula foi a primeira vez que trabalharam com um microscópio...14 adolescentes e sete microscópios eléctricos e um professor na mesma sala é coisa para cortar os pulsos. Mas o entusiasmo e o brilho nos olhos de alguns deles não tem preço.

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  7. Quem corre por gosto não cansa :)

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  8. Curiosamente, a minha primeira experiência docente foi voluntária e com idosos. Na altura trabalhava numa sociedade financeira e até gostava daquilo. Mas depois daquele ano comecei a concorrer a lugares de docência no Ensino Superior, tal era a paixão. E eis-me cá. Estou em período de correções de testes e, se há altura em que ficamos céticos em relação ao ensino, é agora. Mas em Ciência, em termos mais práticos, acredito que seja exasperante.

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  9. Sou professora e conheço a sensação. Às vezes não é necessário passar muitas horas a dar aulas. Bastam duas horas com uma turma difícil para me sentir moribunda. É muito engraçado e há dias que sabem muito bem, mas são extremamente cansativos. Ensino Português e às vezes fico cansada por explicar a coisa mais simples e verificar que nada está a entrar naquelas cabeças.

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  10. Sou professora por escolha e vocação. Durante os últimos 5 anos estive colocada a ensinar matemática em variadas escolas básicas e secundárias do nosso Portugal. Este ano, não estou e já engordei 5 quilos. Não é preciso dizer mais nada. :P

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  11. Professores conheço alguns, uma grande amiga é prefessora e as poucas aulas que apresentei, convidado por eles, são um cansaço de um tamanho que me pergunto sempre como é que aguentam aquilo todos os dias, anos a fio. E depois ainda têm de gramar com o que gramam, fora da aula. E ministros.

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  12. A minha mãe foi professora, e desde poequena a única certeza que tinha em relação à minha vida futura era que não queria a mesma profissão. Apre. Já estava presa por homicídio.

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  13. Mas isso não é o que distingue os bons dos maus profissionais? ;)

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  14. olha alguém que nos dá valor! Geralmente só que se vê nelas é que se apercebe do quão desgastante é!e nem me estou a referir às burocracias, aturar alguns pais, o faz e desfaz do ministério e afins...

    Eu sou professora do 1º ciclo...e estou colocada há 4 anos no apoio Educativo, ou seja, só trabalho com os alunos que têm mais (muuuiiiitas) dificuldades.Imagina, tenho dias que às 12h já estou em falência técnica ;)

    Amo o que faço, de outra forma acho que não aguentaria o desgaste mental!

    * beijocas

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  15. bem, Luna, sou professora há (a idade deve servir para alguma coisa, nem que seja para impressionar uma caixa de comentários) 30 anos e mantenho o que sempre disse antes de começar:

    - sou professora por vocação (decidido aos 15 anos) e, penso, por talento também.

    mantenho o que disse logo ao fim de uns mesitos de profissão:

    - gosto é de alunos, dispensava tudo o resto (paciência nenhuma para profs colegas e ministério, mesmo)

    como faço?

    1º, pq sou entre o esperta e o afortunada, escolho bem as escolas (e fiquei sempre nas que quis); dito de outra maneira, sei que sou afortunada por não estar a dar aulas em escolas problemáticas de bairros problemáticos em cidades problemáticas.

    2º, tenho uma autoridade natural. por vezes assumidamente autoritária. outras vezes assumidamente compincha. aplico muito bem, em contexto de sala de aula, muitas das melhores caracteristicas que tenho a nível pessoal - poder de observação, perspicácia, sensibilidade.

    3º, compreender que, creio, não há maus miudos (embora, repita, nunca estive com turmas de traficantes de droga etc). mesmo os mais 'dificeis' só querem atenção, carinho e afecto. (paleio horroroso, este, mas é verdade...). quer isto dizer que os trato com florzinhas? nope. qt mais brutos, mais bruta sou com eles. só que, lá está, depois compenso, normalmente fora da aula, com umas anedotas, umas gargalhadas ou uns piscares de olhos cumplices. ou uns sermões bem mandados, mas sem estarem outros a ouvir (um 'rufia' sente-se posto em causa se advertido em frente dos outros, e ama ter a atenção de um prof numa conversa a dois) e conquista-se os alunos pelo lado dos afectos. podem nao estudar nenhum, mas ao menos respeitam-te 'pq a gaja é porreira'. parece pouco? para quem nunca teve vandalos à frente, parecerá.

    4º, ajustar as expectativas. e esta é a parte mais cínica e mais cruel. os alunos não têm qualquer prazer, regra geral, em aprender. estão ali para recolher informação (necessaria a ter notas suficientes ou boas no teste, consoante os objectivos de cada um), não conhecimento. muito frustrante? é. mas dá gozo, puxares por ti mesma e 'fazeres o pino' até os veres de olhos a brilhar com algo que estás a dizer/ensinar. okok... se calhar não o irão reter para sempre. mas o silencio obtido, a concentração conseguida, o impacto tido naquelas cabeças e corações...

    pode parecer pouco, a quem não é professor. mas é o que gratifica: saber que marcamos, que marcámos.

    e que, passados 25 anos, estás tu a atravessar uma rua, e uma mulher abre a janela do carro, estende a mão procurando a tua e exclama 'olha a minha professora de Filosofiaaaaa!'. e eu sorrio, e correspondo, e (tenho pena) não me recordo daquela cara... mas ela não me esqueceu. quem sabe não terá esquecido tudo o que lhe ensinei também...

    e assim vamos, com pequeninos momentos e pequeninos detalhes e pequeninas vitórias que, sabes?, valem por tudo.

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  16. Penso exactamente o mesmo!! Tb sou investigadora, e sou dou aulas 3 semanas por ano, a universitários...e qse morro ao fim do dia!

    Respect! por todos os profs q aturam adoslescentes todos os dias.

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  17. Gostar genuinamente de ensinar ajuda; ter alunos interessados e empenhados em aprender - bons ou não tanto - também (me) enche os dias de alegria, em vez de apenas os tornar mais fáceis de levar. Nunca tendo trabalhado numa escola verdadeiramente problemática, sei bem o que é dar aulas a quem não as quer ter, e digo-te que é mau, muito mau!
    O cansaço mental é outro dos obstáculos à (boa) docência, uma vez que há sempre tanto o que se gerir numa aula e fora dela, que há tantas coisas a precisar de atenção urgente e diária, e que todos temos dias em que a concentração não é o nosso forte, que é inevitável a pessoa não se sentir apta para dar atenção às 500 coisas que tem de controlar ao mesmo tempo, every now and then.
    Em suma: adoro dar aulas; não gosto é de parte do turbilhão de coisas que ser professor implica, para além do dar aulas de que falas.

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  18. Sou professora já lá vão 14 anos. O que motiva? Os alunos. Apesar do cansaço diário. O que me desmotiva? A burocracia...um sistema excessivamente burocrático; as péssimas decisões governamentais e tudo o que vai para além de uma sala de aulas. Posso ter uma turma complicada de 30 alunos mas é um desafio constante .

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