29 de fevereiro de 2012

Desabafo

Ontem mandaram-me esta reportagem, a propósito do meu próprio trabalho de investigação. Acho que praguejei mais durante a mesma, por todas as razões e mais algumas, que um adepto de uma equipa de futebol durante um jogo em que a sua equipa está a perder. Não há, de facto, antídotos para a estupidez e irracionalidade, mesmo com as melhores das intenções. E não falo, obviamente, dos médicos.

Felizmente, muito felizmente, até os idiotas podem ganhar no cara ou coroa.

28 comentários:

  1. No desespero não há racionalidade e por vezes vê-se esperança nas coisas mais idiotas. Há quem confie na ciência mas também há quem confie na religião nas mezinhas ou nos astros. Há alturas em que é mesmo cara ou coroa

    ResponderEliminar
  2. E há casos em que se aposta e se tem simplesmente (muita) sorte, e se fazem reportagens a descredibilizar uma classe médica competentíssima, em reportagens muito pouco sérias.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. p.s. e eu trabalho com células dendríticas...

      Eliminar
    2. É difícil separar o trigo do joio. E quando se trata da classe médica torna-se ainda mais complicado.
      p.s trabalho com a área de oncologia

      Eliminar
    3. eu achei a reportagem extremamente parcial e algo irresponsável. sim, sao áreas muito complicadas, em que se trabalha principalmente com probabilidades de sucesso. e em que é perigoso andar a bricar aos médicos.

      Eliminar
    4. Foi estúpido e irresponsável como todas aquelas que todos os dias dão conta de novas terapêuticas. Imaginas quantas pessoas, levadas pelo desespero, já foram a Cuba em busca da CIMAVAX-EFG: a prometedora vacina contra o cancro do pulmão?
      Muitas vezes a culpa não é só de quem faz as reportagens mas sim de quem não resiste à vaidade de anunciar os insignificantes avanços em investigações de anos. Tu, melhor do que eu, sabes o que é investir anos em investigação e sabes o prestigio que se obtém com os bons resultados.
      Devemos condenar quem tem fé ou quem dá faltas esperanças.
      E com isto não te tiro a razão mas há sempre dois lados...

      Eliminar
    5. Miúda, concordo plenamente. Não é por acaso que se fazem ensaios clínicos... Uns dois ou três bons resultados não garantem nada, e nesta peça até citam o steinmann, nobel da medicina, que tive o prazer de conhecer, e que apesar das suas descobertas importantíssimas, não se curou a si mesmo e morreu 3 dias antes de receber o nobel.
      Se é uma área promissora? muitíssimo. se neste momento tem realmente eficácia comprovada? ainda nao.

      Eliminar
  3. e se alguem quiser falar aprofundadamente sobre o assunto, estou disponível para isso.

    ResponderEliminar
  4. Eu não percebo rigorosamente nada do assunto, e do ponto de vista de uma leiga achei a reportagem super tendenciosa. Faz-nos mesmo pôr em causa os tratamentos "tradicionais", o que é de uma irresponsabilidade atroz!

    ResponderEliminar
  5. Madalena: pior, fez os pais que escolheram 50% probabilidade acima de 95% parecerem herois e os médicos, que dedicam a vida a isto (e oncologia pediátrica não pode ser fácil), como os maus da fita. E sim, é mesmo o que dizes: irresponsabilidade. Estes tiveram a sorte de calhar nos 50% bons, mas outros podem optar pela mesma escolha mal informados, e não ter a mesma sorte. Porque sim, foi sorte.

    ResponderEliminar
  6. já agora, a terapia que usam, e que está neste momento em enorme investigação, com os conhecimentos actuais é cerca de 10% eficaz.

    ResponderEliminar
  7. Eu por acaso vi a reportagem na altura e não tenho (de todo) conhecimentos médicos para pender para um lado ou outro, mas achei particularmente infeliz a forma como os médicos do IPO são tratados. Não conheço ninguém que tenha estado no IPO ou que tenha tido lá um familiar ou amigo internado, que não venha com os maiores elogios.

    Se dizes que a taxa de eficácia é de 10%, pode-se considerar então que tiveram muita sorte.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fuschia

      eu não sei exactamente o que foi feito em termos de tratamento. Sei o que está a ser feito neste momento, e os avanços que se estão a conseguir, e o que se está a atingir, que é bem melhor que isso, mas ainda não está publicado.
      Pegar em antigénios cancerosos e incubar com células dendríticas, sem mais nada, tem uma eficácia de cerca de 10%.

      Tenho um artigo prestes a sair (hopefully!), onde há eficácias de 70%, mas com desenvolvimentos nao publicados, e muito menos testados em humanos.

      E não tenho nada a dizer de mal do que fizeram pela minha mãe, acho mesmo que fizeram tudo o que o conhecimento actual permitia.

      E fico triste que se desautorizem médicos com anos de conhecimento, com uma reportagem em que a autoridade "boa" é uma pessoa que estudou ciências da religião e baseou as suas decisões no que viu na internet.

      E percebi a indignação daquela médica oncologista pediátrica que apareceu, ao ver a sua ética posta em causa!

      Eliminar
  8. Apesar de não ser desta área, pensei exactamente a mesma coisa na altura em que vi esta reportagem...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E bem.Basicamente esta reportagem é um louvor a quem manda a moeda ao ar, e por acaso até tem sorte.

      (50% vs 95% hipóteses, e os que vao pelos 95% são estupidos e maus)

      Eliminar
  9. Eu segui isto na altura e também me lembro de assistir a revoltar-me aos saltos no sofá. Obviamente que era pela livre escolha da terapia e pela vontade dos pais sobre a vontade dos médicos ou do estado - tenho esta mania - até... ouvir os pais. Preconceito meu, que gosto de tirar conclusões a partir de detalhes como o facto dos pais viverem numa casa tipo chapitô místico. Ter uma filha doente leva as pessoas a fazer de tudo, aqui há um crossover entre aquelas pessoas que iriam à bruxa, mas que sabendo usar a wiki e um advogado, contornam a medicina "tradicional". O facto de porem em causa a boa vontade dos médicos do IPO só pode ser por isso.
    Não fazia ideia dessas estatísticas, mais confirmam...

    ResponderEliminar
  10. Também vi essa reportagem há uns tempos, e achei exactamente o mesmo que tu: tendenciosa, falaciosa, enganadora, perigosa, e extremamente parcial. Se a intenção era ajudar os doentes oncológicos a perceber que existem outras terapias por ai, guess what? falharam redondamente. Dito isto, não sou da área, mas ando a pensar submeter-me a um desses tratamentos experimentais. Porque para mim 10% já é enorme, é algo que mesmo a quimioterapia não me oferece. Antes de decidir o que quer que seja falarei em primeiro lugar com o meu médico. Por mais que eu leia artigos na PubMed, em sites especializados, fóruns, etc., etc., não sou eu a médica; seria um grande erro pensar que por até ter dois dedos de testa, saber desenrascar-me na pesquisa cientifica e comer brócolos posso substituir o médico no tratamento de um cancro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Silvina:
      se há tratamentos em ensaios clínicos no momento? Há. Se, falhando os tratamentos convencionais e houver maior hipótese destes novos tratamentos resultarem, se alguém sabe deles, são os próprios médicos.
      Eu posso dizer que neste momento há terapias a serem testadas que são muito promissoras, e que estão a ser testadas exactamente em quem as terapias convencionais não se têm mostrado eficazes. Ainda assim, estas novas abordagens apresentam-se como complementos a quimios e terapias convencionais, e nao como alternativas por si só.
      Se estamos no caminho de conseguir algo mesmo eficaz: sim, estamos, estamos quase lá. Se já estamos mesmo lá: infelizmente, ainda não. E se a terapia convencional oferecer mais garantias que as novas ainda em teste, deve-se decidir de acordo com o mais eficaz.

      Eliminar
  11. A reportagem chega a ser criminosa pelos seus possíveis efeitos no comum do plebeu. Acho incrível a leviandade com que uma estação de televisão põe em causa a integridade de profissionais absolutamente fora de série. Acompanhei dois casos no IPO de muito perto, um deles com uma criança. Só temos bem a dizer dos seus médicos, que para além do aspecto profissional são de uma humanidade inigualável.

    ResponderEliminar
  12. Eu nao sou medica, nem paciente. Sou investigadora como a Luna, nao em cancro mas noutra area fertil em tratamentos experimentais sem base cientica ou clinica sustentavel. A reportagem nao me indignou nem me fez praguejar. Mas fez-me reflectir mais uma vez nas razoes que levam pais, independentemente daquilo em que acreditam (cristais, deuses, velas, sons, santos, nutricao, cromoterapia, homeopatia, a lista continua), a por em causa argumentos medicos e eventualmente tomar decisoes contrarias as prescritas pela medicina convencional.
    No entanto, concordo que a reportagem e tendenciosa e perigosa para o comum do plebeu como diz a Stiletto; mas e demasiado tarde para apontar o dedo a televisao. A Internet e a maior fonte de informacao em "terapias" alternativas. Finalmente so queria deixar um comentario ao que a Luna disse, citando "Se, falhando os tratamentos convencionais e houver maior hipótese destes novos tratamentos resultarem, se alguém sabe deles, são os próprios médicos". Nao e bem assim. Conheco imensos casos em que os medicos especialistas que seguem varios tipos de doentes com esclerose multipla, degeneracao da retina, e outras doencas, nao estao minimamente a par dos varios ensaios clinicos (aprovados pelo FDA, EMA ou outras agencias reguladoras) que estao a recrutar participantes e que poderiam beneficiar os seus proprios pacientes.
    Enfim, temas que dariam dezenas de reportagens...

    ResponderEliminar
  13. Oh eu vi. Eu sei que escolheria a via do IPO mas consigo entender, em parte, a escolha dos pais da miúda. Esquecendo estatísticas, porque em momentos de agonia e dor ninguém pensa em estatísticas, quem é que consegue escolher entre uma doença que mata e um tratamento também mata? As pessoas ficam confusas, ficam demasiado infelizes para serem racionais.

    E sim, só tenho bem a dizer do IPO, dos médicos de lá. Apesar dos serviços terem sido lentos e o meu pai ter morrido à conta disso.

    ResponderEliminar
  14. Vi, e na altura fiquei profundamente triste com a imagem que passaram dos médicos do IPO. E pior, fizeram-nos parecer, além de incompetentes, uma corja de malfeitores por terem apresentado queixa no Tribunal de menores quando a miúda faltou aos tratamentos, quando apenas cumpriram, e bem, a sua função. Se um médico reputa o tratamento como essencial para salvar a vida de um paciente que é menor, e se os pais não levam o menor ao tratamento, pode haver um caso de negligência que impõe deontologicamente ao médico que a denuncie, e ao tribunal que tome medidas.
    Neste caso todo, e na minha opinião que não é de cientista mas jurista, os pais andaram muito mal. Nunca, mas nunca deviam ter deixado de ir ao IPO e tratamentos sem avisar os médicos, e isto independentemente do que se possa achar ou considerar quanto à sua liberdade de optar por um tratamento de eficácia menos comprovada.

    ResponderEliminar
  15. Creio que é a primeira vez que comento. Gosto muito do blog.

    Também achei a reportagem tendenciosa. Mas centrando-me no caso em si, a escolha dos pais resultou. Fizeram-no seguindo os seus instintos e o seu conhecimento (?). Se tiveressem prosseguido com o tratamento tradicional, talvez não tivesse resultado. Foi sorte? Alguma. Mas ela está viva e, só por isso, revelou-se uma escolha acertada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se tivessem prosseguido com o tratamento convencional, teria resultado de certeza. Apenas atiraram a moeda ao ar e arriscaram calhar nos 50% bons. Por acaso, tiveram sorte, mas fosse a miúda pertencente aos 50% com reincidência, e muito provavelmente já cá não estaria para contar a história.

      Eliminar
  16. Estou a ouvir só, e estou a meio da reportagem, mas tenho vontade de me meter num avião e ir fazer coisas más aos pais.

    E proibi-los de terem mais crianças.

    ResponderEliminar
  17. Minha amiga eu vomitei quando vi a reportagem. Queria partir a tromba ao jornalista que fez aquilo. Os pais são, só, tontos. Um beijo enorme

    ResponderEliminar