22 de março de 2012

50/50

Por momentos assustei-me, quando passei no corredor e as vi sentadas à espera, dez minutos antes da reunião que teria com a minha nova estagiária. Quando à hora marcada me apareceu à porta, respirei finalmente de alívio: por momentos temi que me fosse calhar a do véu.

disclaimer: tenho a perfeita noção de que esta afirmação não é politicamente correcta e que me vai cair o carmo e a trindade em cima, mas para mim, pessoalmente, o uso do véu é um símbolo de tudo o que abomino nas culturas que respeitam muito pouco a mulher, ok?

35 comentários:

  1. Ups! Acho que ia reagir da mesma forma :)

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  2. eu sabia que devia pôr um disclaimer...

    1. já tive um estudante muçulmano que fazia ramadão, ia 5 vezes ao dia rezar durante o horário de trabalho, e nao trabalhava à sexta à tarde porque tinha de ir à mesquita. além de ter tido dificuldade em aceitar-me como supervisora e ter chegado a ir nas minhas costas pedir a um colega meu homem para trocar de supervisor.

    2. digam-me o que me disserem, e que é uma livre escolha delas e o caralho, o véu é geralmente uma imposicão - e se escolhessem não usá-lo, como reagiriam a família? um enxertozito de porrada para mudarem de ideias? - e um símbolo de subjugação e opressão da mulher, de modo que vê-lo usado por raparigas educadas e a viver num país livre onde não é obrigatório usá-lo é coisa para me revolver cá com as entranhas, chame-se isso preconceito ou não.

    3. geralmente são estas mulheres que escolheram usar o véu de ^"livre e espontnea vontade" que depois andam de cabeça baixa três metros atrás dos maridos na rua, como se vê frequentemente por cá, e que me faz soltar caralhadas mentais até dizer chega.

    de modo que sim, o véu irrita-me. posso?

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    1. Olá
      (ainda) mais do que as mulheres que o usam porque são obrigadas irritam-me (e não compreendo) aquelas que não sendo obrigadas o usam e querem obrigar as outras a usá-lo. Fazem-me (às vezes) duvidar da opinião de que as coisas só mudarão com educação.

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    2. Ahah Um post e uma adenda "de raiva"! Gostei!
      Podes irritar-te sim e devíamos era irritar-nos todos!!!

      Luna, é EXATAMENTE isso que eu penso e sinto! Gimme a high-five! lol
      Não é preconceito, é "pós-conceito", depois de se analisar o que o véu representa e como as mulheres são tratadas!

      E não estamos a ser intolerantes, estamos a ser radicais (José Saramago dixit). A extrema-direita é que é intolerante, conservadora, racista e xenófoba. Nós somos ateus radicais: porque a religião é o ópio do povo e muitos andam a gritar com bandeirinhas vermelhas mas depois baixam a bolinha perante os muçulmanos! Medriquinhas.

      Tipo "O português bate na mulher? Ai jesus os direitos das mulheres! O muçulmano faz das mulheres escravas apedrejadas? Ah e tal, td bem, é o relativismo cultural!"
      É como tu dizes: pó-caralho. :)

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  3. Até te pode irritar, mas isso não significa que ela não faça um bom trabalho...

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  4. pode fazer óptimo trabalho, mas fico contente de nao ter de ser eu a ficar com a do véu e irritar-me sempre que olhasse para ela, por melhor aluna que seja.

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  5. Caramba, vinha aqui comentar que dava 5 minutos até te chamarem intolerante, e cheguei tarde :(

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  6. Se te aparecesse uma de niqab e outra de bikini para uma entrevista, qual preferias?

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    1. a de bikini. sempre lhe poderia dizer que não era um traje apropriado para o local de trabalho, nem que seja por questões de segurança.

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  7. Um exemplo, ainda ontem pensei nisto, e cheguei à conclusão que sou menos tolerante do que pensava: eu trabalho de "farda", calças brancas e túnica azul de manga-curta. Eu e todos os outros da minha profissão, e todos os médicos no serviço público. Não posso usar gola alta, nem o cabelo solto (pois claro, ia para cima dos pacientes) nem manga comprida, se por acaso for friorenta ou simplesmente me apetecer. MAS, quem usa véu, pode, e também fica com o pescoço tapado, e também não é muito higiénico porque, tal como a minha suposta gola alta, também não são fornecidas pela instituição e lavadas naqueles programas mata-tudo. Enfim, eu gostava de ser mais tolerante, mas as injustiças revoltam-me. Ah! E também não posso usar uma cruz ao peito porque também é contra as regras usar fios.

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  8. margarida,
    excelente exemplo! Eu estava a pensar nas escolas que não permitem que os alunos andem de boné na cabeça mas aceitam bem que haja alunas de véu, mas o teu exemplo é beeem melhor.

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  9. O exemplo da Margarida lembrou-me uma polémica de há uns anos, passada em França, em que uma senhora islâmica se queixava de discriminação porque não a deixavam entrar na piscina de fato completo. Eram as regras de higiene, pronto, nem os homens podiam ir de calção, só de sunga, e ela de fato tipo mergulhador? Era bonito.

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  10. Luna,

    A sua posição é admissível.

    E mais lhe acresço, tentando desdramatizar, muitas vezes mais vale ser honesto e, por isso, incorrer na incompreensão e na possibilidade de acusação de incorrecção política, do que ser um falso poeta da universalidade e da necessidade de uma igualdade, quando esta se revela plástica e superficial.
    Por isso, a simplicidade às vezes é tudo.

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  11. Não percebo este pudismo todo de algumas pessoas. Se eu tivesse que escolher faria o mesmo. Eu, que tenho uma estagiária da Tanzania e mal percebo o que ela me diz. Se tivesse que escolher escolhia uma Irlandesa,o que fosse mais confortável para mim. Óbvio!

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  12. Concordo completamente contigo.
    O véu é um símbolo da opressão feminina.
    E devia ser proibido em todo o mundo ocidental.
    Mas que raios?
    Quando nós vamos a um país muçulmano não temos que ter sempre cuidado com a roupa que escolhemos levar? E mesmo assim não somos nós olhadas de lado porque usamos uma saia por baixo do joelho? Ou uma blusa de manga curta? Ou, impropério dos impropérios, o cabelo solto? Não nos obrigam a tapar a cabeça para entrar numa mesquita? E não temos nós que nos descalçar?
    E reclamamos? Não.
    São as regras deles e só temos que as respeitar. Em Roma sê romano. E se não que escolhessemos outro destino para férias.
    Portanto, o mínimo que poderiam fazer era respeitar-nos a nós e perceber que um véu ou uma burka para nós são um símbolo de opressão.
    E antes que me venham apedrejar, deixar bem explicíto que não tenho nada contra a comunidade muçulmana. Tenho apenas, e muito, contra quem não respeita os costumes dos países onde decidiu viver, seja muçulmano, cristão ou ateu.

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    1. Concordo, MissPippa. A questão é que eles não querem respeitar a nossa cultura, querem é expandir a sua fé, como alá ordena.
      Nós somos os infiéis.

      No laboratório onde trabalha a Luna só ficariam satisfeitos quando todas as mulheres, incluindo a Luna, usassem hijab... vão avançando, usando a nossa tolerância para impôrem a sua lei islâmica. E nós, fracos, vamos deixando, como no início da II Guerra Mundial os fracos estados europeus deixaram Hitler avançar e anexar a Áustria e a Checoslováquia, sendo tolerantes...
      Isso não o parou, pois não? Agora temos os Mahmouds Ahmadinejads a quererem ter a bomba atómica e as "tropas" avançadas na Europa são fáceis de identificar. A coisa é séria, acredite.
      A Luna tem os olhos abertos mas quantas Lunas há?

      Bottom line: não se querem integrar coisa nenhuma, querem é montar a tenda deles na Europa.

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  13. Concordo, mas não é um assunto fácil...

    viagensnomeucaderno.blogspot.com

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  14. Mais uma vez o positivismo eurocêntrico a dar de si. Nem é uma questão de ser politicamente incorrecto, é simplesmente xenófobo. Todos temos preconceitos, por isso chama-os pelos nomes. Precisamente, se trabalhasses / ou conhecesses de perto uma mulher que usa o véu, talvez isso abanasse/ desconstruisse - ou ate mesmo confirmasse, claro - o que achas sobre isso. Mas devo dizer, que também conheço muita mulher dentro (e fora ) do mundo académico que não usa véu nenhum, e sofre opressões de todo o tamanho.

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    1. Lolita
      ja trabalhei de perto com mulheres de véu, e conheci mulheres de véu, e em contacto são iguais às outras, e caso tivesse uma aluna de veu, esperaria o mesmo dela do que qualquer outro aluno ou aluna. Já o que representa o véu é algo que me encanita, pelo que evitar ter de o ver e lidar com ele de perto todos os dias é um descanso para mim (e não me irritar com a sua existencia em todo o seu significado e ter de controlar o meu desagrado sempre que todos os dias trabalho com quem o usa).

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    2. O uso do véu incomoda-te porque achas que corresponde a um sistema de opressão. Certo. Mas ao preferires trabalhar com alguém apenas pelo facto de não usar véu, recais numa situação em que direccionas esse teu incomodo à "vítima". Caramba, isso é a velha historia de culpabilizar o oprimido pela sua própria condição. Isso é a base da discriminação.

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    3. Epá, eu nao escolhi a estagiária, não descriminei ninguém por usar a porra do véu, mas posso ficar contente por não me ter calhado na rifa ter de trabalhar todos os dias com alguém cuja visão me iria irritar um bocadinho sempre que a visse toda enfaixada?

      É como ficar aliviada por não me ter calhado o gajo igualzinho ao marylin manson, de cara branca, olhos pintados e baton preto, todo vestido à gótico. Pode ser óptimo, mas aquela parafernália toda teatral iria mexer-me com o sistema nervoso.

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    4. Vítima, esta?! Mas qual vítima?! Uma mulher culta e educada, candidata a estagiária, na Holanda, não é vítima nenhuma, não venha com esse argumento falacioso, Lolita. Essa mulher tem a possibilidade de ir à polícia e denunciar se alguém a obriga a alguma coisa.

      Essa mulher não é coitadinha nenhuma, é neste momento uma representante na Europa de um determinado sistema de valores e ideias, o islão. E exibe essa bandeira. E é esse sistema de valores que revolta um ateu e uma pessoa mínimamente racional. Por isso é que oo véu irrita, pelo menos a mim: é "in-my-face" tipo toma lá disto infiél europeu, estamos aqui arrogantemente na tua própria terrinha.

      Diz a lolita "achas que corresponde a um sistema de opressão". Achas?!

      Corresponde mesmo e eles não se coibem de o gritar! A Lolita é que está um pouco surda. Ou então não quer ouvir:

      http://www.telegraph.co.uk/news/religion/8455955/Muslim-Council-women-cannot-debate-wearing-veil.html

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    5. Errata: infiel sem assento, claro.

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    6. lol acento, acordei agora. :P

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    7. Just Jose,

      Em vez de espingardar sobre o que lê na diagonal, leia devidamente o contexto da conversa desde o início. Não sou eu que acho que a mulher que usa véu é necessariamente uma vítima. Para a Luna usar o véu é sinónimo de opressão feminina. É alguém que pertence a uma cultura que oprime a mulher. É isto que ela escreve neste post. Eu simplesmente aponto que dentro da lógica da Luna, o repúdio em trabalhar com alguém apenas e somente porque que usa véu, acaba necessariamente por recair em quem usa o véu (que na sua lógica é uma “vítima”, uma “oprimida” de um sistema que ela considera discriminatório), e não no sistema opressor que, segundo a Luna, dita o uso do véu. Aliás repare no uso das aspas quando escrevo “vítima”; elas estão lá para alguma coisa.

      Luna obviamente que podes ter as tuas preferências, todos temos, mas não deixa de ser uma atitude discriminatória.

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    8. Cara Lolita,

      A Lolita parece que é "bruxa"... tinha pensado exactamente na questão nos termos em que a coloca agora. E se espingardei não foi porque tenha lido na diagonal. Foi porque li bem demais e estava a tentar fugir da sua armadilha argumentativa, através de uma "manobra de diversão" ;).

      Deixe-me só dizer-lhe que se é verdade que usa aspas em "vítima" esquece-se delas logo a seguir em oprimido na frase "culpabilizar o oprimido pela sua própria condição". Isso faz a toda a diferença como explicarei de seguida.

      A Lolita aponta com muita inteligência uma falha na lógica da Luna que não é só da Luna, é a dificuldade que o Ocidente tem em lidar com essa situação.

      A questão, Lolita, é que não podemos ver essas mulheres como oprimidas mas transformadas em instrumentos do sistema opressor. Aquelas cabecinhas já estão todas queimadas. A própria Luna explana isso de forma clarividente no post seguinte "O véu, sumário (muito) simplista", nomeadamente quando diz

      "a escolha de o usar, mesmo que indirectamente, indica uma aceitação passiva do seu uso obrigatório, não representando qualquer contestação quanto à liberdade individual de o querer usar ou não, dessa forma (in)voluntariamente contribuindo para a aplicação das situações anteriores."

      Não se trata de discriminação, é mais que isso, é rejeição pura e simples do próprio sistema opressor, representado por mulheres que o aceitam e propagam. Aquela mulher é o Islão, ali. Na minha opinião a Luna rejeita-a porque ela é O sistema opressor e não uma coitadinha "oprimida". E não deve sentir-se culpada por isso, nem ter sentimentos de culpa e compaixão cristã.

      Não discriminamos: rejeitamos e combatemos o sistema opressor e todos os que o abraçam. Rejeitar não é discriminar, é escolher.

      Vou dar-lhe outro exemplo: imagine que eu, a Luna e a Lolita tinhamos de escolher um companheiro de viagem. Tínhamos 3 muçulmanas de hijab, 3 nazis e 3 ateus. Tinhamos sido informados de que 1 dos nazis e 1 das muçulmanas eram totalmente contra o nazismo e o islão, respectivamente e aceitavam o sistema obrigados, no fundo eram ateus. Os 3 ateus eram genuínos, todos os 3.
      Que pessoa escolheríamos para nos acompanhar na viagem?

      A única forma de libertar as mulheres oprimidas do Islão e impedir que as suas filhas sejam oprimidas como elas é combater a religião islâmica, sitema opressor e obscurantista (tal como o judaísmo e o cristianismo mas neste caso falamos do islão), e isso implica rejeitar todos os que abraçam esse sistema e o propagam.

      Para terminar pergunto-lhe: e a Lolita que pensa? Põe-se numa posição de observadora mas venha para o terreno e tome partido: concorda que as mulheres nasceram para sofrer e ser escravas? Subjuga-se a algum homem? O que acha das mulheres que se calam dentro de sistemas ou famílias mafiosas e aceitam passivamente ser abusadas, no ocidente?

      Pena não ter um blogue seu, pela inteligência dos seus comentários seria com certeza interessante comentá-lo. Será que não tem? Se tiver e quiser enviar-me o endereço por mail, esteja à vontade. :)

      E repito: Rejeitar não é discriminar, é escolher.

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  15. Quando estive em Erasmus na Bélgica: achei particular piada ao facto de raparigas de vinte e tal anos, usarem véu e brutas mini-saias.

    :D

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    1. Mmmm That's atheistically hot :P
      Fico é na dúvida se eram mulheres ocidentais "em protesto" ou se eram muçulmanas com uma interpretação bastante lata do corão e da sharia lol.
      Mas uma coisa eu sei: elas corriam grave risco por andarem na rua assim. :(

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  16. Tou contigo nesta! Não como é que não se livram logo daquilo assim que metem o pé fora do país de origem!

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    1. Porque o problema não é só o país, Margas, é a religião/corão/alá, é a família e são as normas religiosas interiorizadas pelas próprias mulheres. Bem, há umas que levaram uma lavagem ao cérebro tão grande que já interiorizaram que não são livres, nada a fazer. As que tentam deixar o islão ficam automáticamente condenadas à morte, é essa a pena para a apostasia. As que se portam mal são vítimas de crimes de honra por parte do pai, irmãos e outros membros da família... Mais de 5000 mulheres morrem todos os anos devido a esse tipo de crime:

      http://www.unric.org/pt/actualidade/opiniao/27719-crimes-de-honra-e-violencia-domestica

      Para mim esta religião islãmica tem características de mafia. A única diferença é que neste caso os padrinhos são os clérigos, escudados no corão e no amigo imaginário-mafioso-mor.

      Para mim, no século XXI, com os conhecimentos científicos que temos, não há nenhuma razão para que seja autorizada uma religião deste tipo e já agora, religiões em geral. O Homem já consegue viver sem deus-pai-amigo imaginário.

      Mas é uma solução radical, eu sei.

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  17. ehehe... Tenho conhecido muitas de veu. E nunca me imaginei vir a ficar mesmo amiga de uma. E' dessas que usa o veu voluntariamente como afirmacao cultural e que quer casar com um homem muculmano a preceito. E no entanto, acho que nunca conheci rapariga tao leve, tao descomplexada, tao interventiva, tao opionada e sem tabus que essa!

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