22 de julho de 2014

Sexismo e coiso

Hoje calhou pôr-me a ver o 5 para a meia noite, onde estrevistavam a jornalista desportiva Inês Gonçalves (que calha ser ao mesmo tempo mulher e bonita). Da entrevista retive as seguintes perguntas:

- como é estar na festa da mangueira?
- e os saltos altos?
- os piropos que recebe?
- se a comparavam à namorada do Casillas?

Foi muito lindo. Fiquei muito elucidada sobre jornalismo desportivo.

(agora vou só ali tentar que o meu olho pare de tremer por ter escrito este post sem praguejar)

26 comentários:

  1. É o costume. Infelizmente não é só por cá que isso acontece. Nas Red Carpets em Hollywood perguntam às mulheres de quem é o vestido que estão a usar e aos homens como é que foi gravas o último album ou filme. Mas depois toda a gente sorri e diz, com muito orgulho, que já não existe machismo e que ambos os sexos são tratados com o mesmo respeito e seriedade. Pois, sim.

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    1. É verdade, mas eu confesso que hoje me senti mesmo envergonhada pela forma como uma profissional foi tratada pelo canal que representa: como uma menina bonita e só isso. Vergonhoso.

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    2. p.s. eu não conheço bem o trabalho desta jornalista, mas vi-a nos relatos do mundial, e achei a entrevista extremamente redutora. Certamente não chegou onde chegou apenas por ser bonita.

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  2. Gosto muito. Mais ou menos como perguntar a um inginheira como é ser mulher num mundo que antes estava reservado aos homens, e ao inginheiro perguntam pela obra. Como se ainda estivessem admirados de ver uma mulher a dirigir uma obra - eye roll.

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  3. Luna, é por estes tiros ao lado que a sua mensagem às vezes é confusa. Aquilo era o "Cinco para a meia noite". Não era a entrevista de fundo do telejornal nem o "60 minutos".

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    1. Acontece que se calhasse ser homem, ainda assim o teor das perguntas seria diferente.

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    2. Luna, se lá fosse o (inserir nome de tipo apresentável, daqueles que fazem suspirar as meninas) as perguntas seriam do mesmo tipo. O público daquele programa está-se nas tintas para as competências específicas do entrevistado, para a relevância dos seus projectos futuros.

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    3. O actor entrevistado a seguir teve oportunidade de falar da sua nova peça de teatro e da sua participação icónica na rua sésamo. Já à actriz que o acompanhava perguntaram como era ter de usar um fato para parecer mais gorda nos morangos com açucar.

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    4. p.s. estou simplesmente farta de revirar os olhos de cada vez que vejo uma entrevista com este perpetuar de sexismo, seja em programas mais ou menos sérios. muito fartinha mesmo. e ficava melhor ao Pipoco e outros homens reconhecerem esta realidade e lutarem contra ela, do que constantemente desvalorizarem sempre que alguém denuncia uma situação, ou argumentarem com "os homens também yadayada" que não acrescenta valor nenhum à discussão.

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    5. Luna, reservando a interessante problemática do que ficava melhor ao Pipoco para o próprio Pipoco, não me parece que o radicalismo leve a resolução nenhuma. Gostava que acreditasse em mim quando lhe digo que a sua abordagem cega à questão lhe retira eficácia e, mais do que isso, acaba por ter efeitos completamente contrários à sua luta (que até se dá o caso de ser justa e merecer a minha simpatia. Repito: é justa e merece a minha simpatia). Quando pretende que um programa de humor, ao qual toda a gente que vai sabe ao que vai, sirva para formar personalidades é um tremendo tiro no pé e tira brilho àquilo que a Luna defende, as pessoas acabam com aquela expressão corporal que quer dizer "Ah, é só a Luna mais os seus exageros".

      Um mundo como o que defende, com as massas catequizadas, sem non-sense, politicamente correcto até à quinta casa decimal é um mundo em que não me apeteceria viver. E, aposto, á Luna também não apeteceria.

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    6. Discordamos. O Pipoco acha que o facto de eu criticar as perguntas acima citadas é exagero e radicalismo cego, eu não acho, acho que é simplesmente criticar algo que é criticável, além de muito repetitivo e aborrecido. São pontos de vista.

      (eu não defendo essa ideia de mundo que diz que defendo. não acho é que traga grande valor a nada perguntar a uma mulher como se sente na festa da mangueira, enfim...)

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    7. Vou meter o bedelho, à tasqueira que sou, porque não vejo como é que exprimir desagrado pela linha seguida pelo entrevistador possa ser confundido com radicalismo. Além de sexista é poucochinho, é pobre, é fácil, é boçal. Uma pessoa esteve um mês no Brasil a fazer a cobertura do mundial? O que se pode perguntar que também serve o propósito humorista do programa? Eh pá, tanta coisa. É uma mulher? Pronto, já borraram a pintura.
      E sim, uma pessoa pode criticar o humor facilzinho estribado em preconceitos? Pois claro. É radical por isso? Não acho.
      Se for lá um chef - ou um sous chef, vá - também lhe vão perguntar como é trabalhar no gineceu? E de sapato raso? Sem avental de flores e folharudo? As mulheres pedem-lhe muito que suba ao escadote para chegar à última prateleira da despensa? E despeje os alguidares / tachos mais pesados? Vamos a isso!

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    8. Luna, neste caso específico, contexto é a palavra-chave. Contexto é o que me faz dizer palavras menos polidas quando o árbitro marca um fora-de-jogo contra a minha equipa, palavras que não repetiria quando vou jantar fora.

      Sei que não concordaremos.Não é por isso que deixarei de conversar consigo.

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    9. (Izzie, não me leve a mal, mas raramente discuto sem ser com os donos dos blogs. Coisa antiga, nada pessoal...)

      (Um destes dias eu passo lá por aquilo seu e fico também um poucochinho à conversa...)

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    10. (caro Pipoco, por quem é, longe de mim querer vê-lo a afastar-se dos seus mais íntimos e preciosos princípios. Apenas achei - ó toleima, ó vaidade! - que seria interessante atirar mais uns argumentos para a discussão, aliás pública, que aqui corria.)

      (Quando ao passar lá naquilo meu, não se incomode, que decerto está muito abaixo do nível a que está habituado, não há garrafas de tinto de mais de dez euros, e os pastéis de bacalhau são mesmo pastéis, e não bolinhos de batata nova e bacalhau fresco em cama de risotto de tomate)

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  4. Acho isso tão grave como perguntarem a um homem que andou dez horas em cima de uma bicicleta se está confortável ou o que faz para se proteger. Estranho seria fazerem essa pergunta a uma mulher.

    O que acho mesmo grave é que pessoas esclarecidas venham dizer que, na Europa, a mulher só usa burka ou véu porque quer. Isso é que eu acho grave. Vi isso num post no Vítor Cunha no blasfémias.. Em querendo mando-lhe o link do post, aí é que vai tremer...

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    1. O facto de haver coisas mais graves que outras para mim implica que devam deixar de ser denunciadas e faladas, ou nunca nada se resolveria por não ser prioritário - é como a velha questão do piropo que tanto sangue fez correr, mas dado que sabemos que não concordamos, let's leave it like this.

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    2. Eu posso estar errada, é programa que não costumo seguir. Mas aquilo não pretende ter um cariz humorístico? A ideia não é fazer entrevistas sérias... ou é?

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    3. É um programa humorístico, sim. Eu é que não consigo ver qual o humor em se perguntar a uma jornalista desportiva como faz com os saltos altos ou se recebe muitos piropos no desempenho da sua profissão, mas talvez seja falha minha e do meu sentido de humor.

      (Ah, também falaram muito do drama que foi a rapariga ter estado longe de casa durante 35 dias (!!!) a trabalho agora no mundial. Coitadinha, já devia estar a definhar com a falta de uma francesinha, tal o choque cultural.)

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    4. Errata: ali em cima leia-se "O facto de haver coisas mais graves que outras para mim não implica que devam deixar de ser denunciadas e faladas"

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    5. Neste assunto temos efectivamente opiniões diferentes. Eu rio-me com anedotas sexistas, sou capaz de dar uma gargalhada quando alguém diz que a sala de estar da mulher é a cozinha (há uma anedota seca deste género), não é por isso que me sinto ofendida ou diminuída. Até porque a minha sala é a minha sala e na minha cozinha tanto entra o homem como a mulher.
      Também sou capaz de rir com anedotas sobre homossexuais ou sobre judeus e não é por isso que acho que eles são menos que um hetero ou que o holocausto e o anti-semitismo não sejam coisas gravíssimas.

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    6. Eu sou capaz de me rir se a piada for boa. Acontece que ouvir pela milésima vez o mesmo tipo de perguntas/piadolas a uma profissional que calha ser mulher numa entrevista já não tem piada, não me dá vontade de rir, não é engraçado, é apenas repetitivo, enfadonho e desrespeitoso. Ou acha que perguntar a uma mulher como se sente na festa da mangueira ou se recebe piropos dos desportistas que entrevista é uma boa piada, ou uma piada de todo? Eu acho que não, mas lá está, talvez seja um bocadito exigente no que toca ao humor.

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    7. Não tendo visto o programa não me poderei pronunciar sobre a coisa. Na verdade eu não vejo o programa porque não lhe acho graça nenhuma. Às tantas confere...
      (mas também não acho uma ofensa à integridade e direitos femininos, quando muito acharei parvo)

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    8. É um perpetuar do machismo e paternalismo. Podemos acreditar que somos iguais, que somos boas profissionais, mas a verdade é que este tipo de perguntas, comentários, bocas que aparecem SEMPRE numa entrevista, e que nos vêm lembrar que para o mundo em geral estamos SEMPRE um escalãozinho mais abaixo. E já não há pachorra.

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  5. E a parte que em ele lhe propôs um "desafio" qualquer e lhe disse para ela não ter medo que não lhe ia fazer mal nenhum, só nos sonhos dele...

    eu sei que é um programa informal, mas aquilo não foi digno de uma entrevista.

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  6. O cinco para a meia noite não é um programa de informação. É um programa de entretenimento, de cariz levemente provocatório e humorista. Os convidados, a menos que nunca tenham visto o programa, não podem estar à espera de ir lá debitar informação sobre as suas atividades profissionais. E sendo este o cariz do programa não consigo ver nada errado ou criticável nas perguntas que foram feitas. Aliás, já foi convidado para o mesmo programa um ator que faz novelas brasileiras e garanto-lhe que o teor das perguntas foi muito parecido.

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