5 de novembro de 2014

Coitada, deve andar distraída


- Não vistas esses calções.
- Não uses decotes.
- Encolhe os ombros para disfarçar o peito.
- Não vás por essa rua.
- Não passes por obras.
- Não levantes a cabeça.
- Não respondas.
- Não olhes nos olhos.
- Anda depressa.
- Atravessa a estrada se vires um grupo de homens.


É preciso mesmo continuar com todas as decisões que tomamos relativamente ao que vestimos e como nos comportamos quando sozinhas na rua e que não são nada fruto de qualquer constrangimento relativamente ao assédio verbal?


*e o ar satisfeito com que ela vai.

52 comentários:

  1. Completamente verdade. Eu, por exemplo, condiciono o que vou vestir, segundo vários factores e alguns deles são sempre os sítios por onde vou passar, se vou de carro ou não, se vou estar sozinha ou com amigas ou amigos. São tantos. E agora que falas nisto, reparo que o faço automaticamente, sem sequer perder muito tempo. Faz parte e não deveria fazer. Mas há quem teime só porque sim em achar que isto é tudo um exagero. Não é.

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    1. Eu acho que a coisa está tão entranhada que já nem reparamos que o fazemos, mas fazemos. Todos os dias.

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  2. Devo ser de outro planeta. Nunca me disseram nada disso a não ser, talvez, o "não vás por essa rua". Mas por ser mal frequentada e temer violência física, nada a ver com assédio.

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    1. E mais. Acho que é esse tipo de argumento que afasta os homens, em vez de os unir em torno do assédio verbal.
      "atravessa a rua se vires um grupo de homens?" A sério? Mas eles são algumas bestas que não conseguem reprimir impulsos? Querem saltar para cima de tudo o que mexe? Mesmo?
      "não levantes a cabeça?". Por favor....

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    2. "Mas eles são algumas bestas que não conseguem reprimir impulsos? Querem saltar para cima de tudo o que mexe? Mesmo? "

      Curiosamente é exactamente esse argumento que eu uso ao justificar que eu deveria poder andar toda nua na rua sem temer perigos, e que a Picante desfez com um "se andar assim tal e tal estou a pedi-las".

      Exactamente por eu saber que é possivel os homens controlarem-se é que não admito que estes comportamentos continuem a ser considerados aceitáveis, como se não fosse culpa deles.

      A verdade é que os exemplos que dei acima são reais para muitas mulheres, especialmente jovens, porque a situação actual as faz ter medo de passar por certos ajuntamentos. A ideia toda disto é que isso no futuro nao aconteça.

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    3. p.s. antes que me acuse já de desonestidade intelectual, refiro-me à justificação que deu para ter tido de ser escoltada à casa de banho por amigos por levar um vestido mais provocante. creio não ter sonhado.

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    4. Não sonhou, de facto. E Luna, o vestido não era "mais provocante", o vestido era desadequado e eu sabia-o bem, de tal forma que só o usei por causa de uma aposta. Foi uma situação única, à noite, num sítio cheio de gente onde havia alcool. Tomei precauções para evitar dissabores, ainda que saiba que é errado que alguém se importune outrem por ela ir meio despida. Mal comparando, é o mesmo que não andar a pé sozinha à quatro da manhã... posso ser assaltada.

      Vamos lá falar do dia a dia. Da maioria das vezes. Já tive 13 anos e afianço-lhe que nunca me disseram para baixar a cabeça ou atravessar a rua se visse um grupo de homens. E nunca alterei um pingo da minha vida por medo de assédio. Mas já alterei por medo de assaltos, por exemplo.

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    5. Pois eu, depois de uma experiência com uma minissaia quando tinha 17 anos, nunca mais vesti certas coisas porque percebi que não gostava do tipo de reacções que isso suscitava e isso condicionou a minha forma de vestir até hoje.

      Se nunca alterou absolutamente nada, nem um pingo, na sua vida por causa disso, óptimo, é uma sortuda (não estou a ser irónica). Mas estou convencida de que pertence a uma minoria (juntamente com a outra sortuda Lady_m)

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    6. Mas o que lhe aconteceu, se bem me lembro, não foi um piropo. Agarraram-na, importunaram-na fisicamente. O que lhe aconteceu foi assédio físico. Já punível por lei, acho.

      Nunca deixei de vestir minissaias por medo de piropos. Podem incomodar-me. Mas não me intimidam e não deixo que mudem a minha vida, era o que mais faltava.

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    7. Isso foi de outra vez, aí com 14 anos. A dos 17 foi ser tão abordada e assediada na rua e na discoteca, inclusivé por homens com o dobro da minha idade, que achei que não valia a pena o incómodo.

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    8. Ok. Entendido. É errado e não deveria acontecer.
      Suponho que se esteja a referir a comentários nojentos e não ao "meter conversa" que acontece a noite, ainda para mais estando metade da discoteca alcoolizada.

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  3. Tenho 36 anos, nunca, mas nunca me disseram nenhuma dessas coisas acima descritas. Condiciono a minha maneira de vestir? Claro, consoante o local , evento ou situação e se acho que me fica bem ou não mas não saio de casa todos os dias a pensar "ai deixem lá ver se esta roupa não me vai fazer ser violada ou ouvir um piropo". Caramba ás vezes penso que certas mulheres gostam do papel de vitima, de esfregar na cara de todos que são o sexo mais fraco, que não acho que sejam. As injurias, ofensas e ameaças já são puníveis por lei por isso não entendo qual é o tipo de piropos que o BE pretende englobar aqui.

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  4. Que bom, sorte a vossa. Outras pessoas não têm essa experiência.

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  5. Luna, se cada um de nós fosse moldar a lei para servir as nossas experiências pessoais não havia tribunais e funcionários judiciais que valessem. Aquilo que digo ali em cima é para mim muito claro injurias, ofensas e ameaças já são puníveis por lei por isso não entendo, mas não entendo mesmo onde se pretende chegar com isto? Diferenciar uma ofensa geral a uma feita especificamente por um homem a uma mulher??? Será isto a igualdade de direitos e gêneros? Não me parece, parece-me ser precisamente o contrário, vitimizar uma vez mais as mulheres

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    1. Lamento, mas se não entende, não é problema meu e não vou voltar a explicar. A minha opinião está clarinha como água ao longo dos vários posts e comentários de resposta às várias pessoas que me foram comentando e interpelando com as mesmas dúvidas. É só ler que está lá tudo.

      No limite, podemos concordar em discordar, como já ficou claro da última vez que discutimos o assunto.

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    2. Gostava de sublinhar que punir o assédio não beneficia apenas as mulheres. Como muitos homens dizem, não tem mal nenhum, mas se um p********o se meter comigo, vai ver.

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    3. Luna, a minha memória não é muito boa mas não me recordo mesmo de ter discutido este assunto consigo antes. Repito, um lambia-te essa c**a toda e seus semelhantes enquadra-se na ofensa e injuria.

      "CAPÍTULO VI
      Dos crimes contra a honra

      ARTIGO 180.º
      (Difamação)

      1- Quem, dirigindo-se a terceiro, imputar a outra pessoa, mesmo sob a forma de suspeita, um facto, ou formular sobre ela um juízo, ofensivos da sua honra ou consideração, ou reproduzir uma tal imputação ou juízo, é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 240 dias.

      ......

      ARTIGO 181.º
      (Injúrias)

      1- Quem injuriar outra pessoa, imputando-lhe factos, mesmo sob a forma de suspeita, ou dirigindo-lhe palavras, ofensivos da sua honra ou consideração, é punido com pena de prisão até 3 meses ou com pena de multa até 120 dias.

      ...

      ARTIGO 182.º
      (Equiparação)

      À difamação e à injúria verbais são equiparadas as feitas por escrito, gestos, imagens ou qualquer outro meio de expressão."

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    4. Lamento, Lady_m, mas verbalizar um desejo, ainda que de cariz sexual e que a destinatária possa considerar ofensivo da sua integridade e/ou honra não é uma injúria. Só o facto de ter porto no mesmo saco a injúria e difamação mostra que não sabe fazer uma imputação jurídica, e o resto que desconhece o princípio da tipicidade do direito penal. Há muito boa gente a chumbar penal - ou agregação à OA ou entrada no CEJ - por não saberem distinguir rigorosamente, onde começa e acaba a injúria e a difamação.
      Já o assédio, que é o que se pretende seja criminalizado, será um tipo jurídico que estará ali entre a injúria e o crime de atentado ao pudor. Aliás, da última vez que peguei no CP já não existia o atentado ao pudor, e até se discutia onde enquadrar o exibicionismo, visto que não se trata de coacção sexual. E o apalpão, idem.

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    5. E colocar aquilo a que se chama piropo e o assédio sexual no mesmo saco já se pode? Para mim são coisas distintas e é aqui que o BE dá um enorme tiro no pé, quando diz que quer criminalizar o piropo e não o assédio. Mas lá está não sou advogada, nem tão pouco ligada ao sistema judicial.

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    6. Calculei que não soubesse de leis e direito. Assim sendo, peço o favor de não usar o argumento de que já está previsto e punido; aqui há atrasado já tive esta conversa com alguém que também usou o mesmo argumento, eu desmontei, e ainda me respondeu mui agastada que não tinha obrigação de saber porque não era de leis. Sim senhora, mas eu também não argumento com leis da física precisamente porque não as conheço nem entendo, e o que se lê num mural no feicecoiso não chega.
      O piropo abrange muita coisa, e neste blog já se discutiu, aqui há atrasado, como é um termo redutor, mal empregue, e que realmente o pessoal do BE andou mal nisso. Mas o que se quer prever e punir é o assédio, i.e., o piropo que constitui uma ofensa à autodeterminação sexual e integridade do/a visado/a - sim, também aqui há homens alvo de 'piropos'.

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    7. Então falemos de assédio e não de piropos. Porque um piropo pode ser ou não assédio, dependendo do teor do mesmo. Um "olá jeitosa" não deveria ser colocado no mesmo saco do "lambia-te essa c**a toda", aliás para mim um é um piropo, o outro já não, já é javardice pura.

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    8. Acho mais importante discutir o conteúdo do que a semântica, e qualquer pessoa de boa fé já percebeu o que está em causa. O que me chateia é que esta discussão tem sempre de passar pelos argumentos do costume:
      - não é um assunto prioritário;
      - ah, querem transformar a mulher numa vítima, coitadinha, defendam-se mazé;
      - a mim não incomoda nada;
      - o que é um piropo?
      - eu gosto, faz-me sentir mais bonita/apreciada/feminina;
      - não é um problema de leis, mas de educação;
      - não vai resolver nada;
      - isto é coisa de fundamentalistas que odeiam homens;
      - an so on, and on, and on.
      Desmontado que seja cada um destes argumentos, vem logo outro a seguir.

      Parece uma reunião à portuguesa: perde-se tempo com intróitos, bajulações aos chefes, discutir pontos de situação, delimitação de conceitos, a ordem de trabalhos, quem faz a acta, e discutir ou decidir seja o que for, népia.

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    9. São opiniões, já eu acho que falar em piropos ridiculariza a questão do assédio sexual.

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    10. Lady_m: se me leu com atenção - e a outras pessoas sobre o assunto - em várias ocasiões referimos que o termo piropo é errado, porque confunde, porque não demonstra do que se trata realmente: assédio verbal. O termo piropo foi usado para generalizar o chamado assédio de rua, e foi sempre isso, desde o início, de que se tratou, embora a semântica tenha servido para desconversar.

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    11. Bem, e de resto, para terminar, como em tudo neste mundo, haverá sempre discordâncias. Daqui a 30 anos saberemos quem tem razão.

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  6. Já agora, não creio que a maioria das mulheres pense nestes condicionamentos com medo de ser violada na rua, mas sim assediada, que é algo muito mais comum. (além de que estatisticamente a violação é mais provável por parte de conhecidos)

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  7. Entre o puto que ia nu debaixo da gabardine, o velho que esfregou a língua a 2cm da cara da minha amiga, um "comia-te essa cona toda"e 29304 outras coisas simpáticas que já ouvi, devo dizer que Madrid é o paraíso. Em 7 anos nunca ouvi mais nada que um "guapa" dito nos olhos por pessoas (homens e mulheres) que me estão a atender. E um guapa sabe bem. Um lambia-te toda não sabe nada bem.

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    1. lá está enquadro essas situações nas tais ofensas já puníveis por lei. Não considero nenhuma dessas um piropo.

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    2. Lady_m, peço-lhe por favor que me indique o artigo do código penal que prevê e pune estes comportamentos, e me faça a respectiva imputação jurídica, por favor. Sem ironias.

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    3. A Izzie não anda a ler o Código Penal há muito tempo.
      170, importunação sexual.
      A norma, aliás, que melhor suporta uma alteração do tipo objetivo para incluir o chamado assédio verbal.

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    4. Tem razão, cuca, desde 2003. E já nessa altura não me dedicava muito à parte que aqui se fala. Mas agora fui ali à pgr e já estou esclarecida. Aliás, até chocada por ver que o Cp já levou mais de 15 alterações desde que o "deslarguei". E uma dessas alterações foi incluir o contacto sexual na importunação, o que de início não estava previsto. Ou seja, apalpão é punido, mas houve uma época em que era dúbio. Já o meu exemplo de actos exibicionistas, pronto, estava enganada, era punido sim senhora. E, de facto, este artigo pode ser alterado com toda a facilidade para incluir o assédio verbal.

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    5. Cuca,
      Uma dúvida: de acordo com a alínea b, no nº3 do art. 170º, a assédio verbal, com cariz sexual a crianças está criminalizado, ou não?
      Refiro-me aos "fazia-te e acontecia-te", aos boquinhas de não sei o quê e outras observações que tais.

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    6. 171º e não 170º. Desculpe.

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    7. Mais Picante, é crime, sim, desde que as expressões sejam de cariz sexual. Os fazia-te e acontecia-te entram na incriminação. Os és boa e isso, na minha perspetiva, não entram. Se houver referências a partes íntimas do corpo, já é diferente. Depende da gravidade da coisa no seu conjunto global.
      No fundo, a discussão séria - no único plano em que interessa discutir isto - é se esta incriminação da importunação sexual por meio de palavras deve ser alargada a maiores de 16 anos.

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    8. Aliás, se isto fosse explicado assim às pessoas, sem exageros, fundamentalismos e sem deixar resvalar a conversa para os piropos (isto não são piropos) seria possível fazer perceber que a alteração legislativa até é razoável e que não estaríamos propriamente a criminalizar uma coisa nova. É uma extensão, a adultos, daquilo que já é proibido fazer com crianças.

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    9. Ok. Obrigada.
      Isso parece-me razoável. Suponho que qualquer pessoa concordará com uma contra-ordenação, eventualmente pena de prisão, a esses ditos realmente ordinários.
      Já o estender a coisa a um "ó gira", dizendo que é intrusivo, intimidativo e mais não sei quantas coisas que vitimizam a mulher, parece-me claro fundamentalismo e tem o condão de me irritar. Aborrece-me e afasta-me, deste tema, a conversa do "eu vivo com permanentes constrangimentos em sair à rua só porque sou mulher" . E estou convencida que não sou a única a ter esta reacção, já agora.

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    10. Bem, de facto esta última resposta sua demonstra como estamos nos antípodas na forma como vemos a vida e o mundo em geral. A Picante acha que reconhecer que existe um problema social, que ele nos incomoda, e no fundo bater o pé e dizer que não se está para aturar esta merda e se quer acabar com isso é fazer-se de vítima. Eu acho o contrário.Uma mulher achar que não tem de ser obrigada a interagir com estranhos e ouvir o que têm a dizer sobre ela só porque se acham nesse direito - era o que faltava! -, está a reclamar a sua dignidade e individualidade enquanto ser humano igual e o seu direito a não ser importunada.

      Vítimas são quem aceita resignadamente que as coisas são como são, que nem são assim tão más e nem incomodam assim tanto - e repare que ainda antes afirmou que um olhar pode ser tão ou mais incomodativo que palavras porcas -, mas que no fundo até se habituaram, sabem lidar com isso, já acham normal e inevitável, nada a fazer, e às vezes até gostam dependendo do que for dito.

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    11. Estive à espera que a Cuca respondesse antes de eu, a chatérrima inteléquetual de esquerda, vir dar os meus dois vinténs, e que não coincidem exactamente com a opinião da Cuca.
      A letra da lei é a seguinte: "Quem (...) Actuar sobre menor de 14 anos, por meio de conversa, escrito, espectáculo ou objecto pornográficos; é punido com pena de prisão até três anos."
      Note-se que a lei não diz conversa obscena ou de cariz sexual, diz pornográfico. Obviamente este artigo pretende prevenir e punir a vulgarmente chamada pornografia infantil, ou actuação sobre menores via informática ou directa. Ora se um "esfodaçava-te toda" não me suscita dúvidas, um "rico cu" ou "ai o que eu me divertia com essas mamas" já me causam algum constrangimento no que toca a enquadrá-los em conversa pornográfica. É obsceno, tem teor sexual; mas nem tudo o que é obsceno ou tem teor sexual é pornográfico. E temos que, como acho que ainda é doutrina e jurisprudência maioritária, a interpretação extensiva em direito penal tem limites muito estritos, passe a contradição.

      Acresce que a norma só protege menores até aos 14 anos, que é a idade legal do consentimento. Ora os menores de 15 e 16 estão entregues à sua sorte? E mesmo as mulheres adultas? Não concordo.

      Depois, a picante, que tanta graça acha a inteléquetuais de esquerda, acha bem existir uma contra-ordenação, eventualmente pena de prisão. Lamento informar mas os ilícitos de mera ordenação social (contra-ordenação) implicam penas chamadas "coima". Prisão é pena penal, passe o pleonasmo, mas assim talvez lhe entre. É preciso haver previsão como crime para haver prisão.

      No que respeita à tal vitimização, em que parece que as inteléquetuais de esquerda são especialistas, para mim é mais uma questão em que temos perspectivas diametralmente opostas. Reclamar protecção legal não é assumir posição de vítima, é pelo contrário assumir posição de cidadã de pleno direito que não aceita ser tratada como se de segunda. E atenção, volto a frisar, o assédio verbal não atinge só mulheres. Falem com os vossos filhos. Se calhar eles têm vergonha de contar. Mas chamar "paneleiro", dizer coisas "faz-me um broche, ó paneleiro", ou "tu queres é ser enrabado" são muito frequentes nos primatas humanos de género masculino, ali em certas idades, para definir e marcar relações de poder e dominância.

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    12. Luna, não foi isso que eu disse, obviamente que não me fiz explicar correctamente. Peço desculpa se transmiti a ideia de que o reconhecimento do problema é fazer-se de vítima. Não é, obviamente que não é. Reconhecer que existem ditos que incomodam é perfeitamente natural, acho que qualquer pessoa o fará. É verdade.

      Acontece que eu acho que um "ó gira" é perfeitamente indiferente. Quando falei em discurso de vítima referia-me apenas ao discurso "o piropo condiciona o que eu faço e visto, tenho medo de sair à rua por ser mulher". Isto, quanto a mim, é vitimização e duvido muito que seja a opinião geral das mulheres, pelo menos não reflecte a opinião das que conheço,l quer se esteja a falar de assédio verbal (a tal linguagem ou gestos obscenos), quer se esteja a falar de "bocas".
      E não acho que um "ó gira" deva ser objecto de penalização legal, acho que deve é ser desencorajado via sensibilização.

      Não conheço uma única mulher que tenha medo de sair à rua e fazer a sua vidinha, pelo simples facto de o ser. Não conheço mulheres que deixem de usar um decote por medo, o que eu conheço é mulheres que se vestem de maneiras diferentes consoante os sítios que frequentam, o que eu acho perfeitamente normal, não me parece correcto ir trabalhar com saias pelo rabo, do mesmo modo que não acho bem que se vá trabalhar de havaianas, por exemplo. Há códigos de vestuário mais ou menos adequados a cada local.

      Portanto, para concluir, sim à contra-ordenação ou criminalização para linguagem/gestos obscenos. Não ao restante. Alguém poder ser sujeito a pena de prisão por dizer "Ó gira" parece-me fundamentalista. Suponho que não concorde mas é a minha opinião.

      Finalmente, a bem da resolução do problema, sugiro um discurso que não afaste quem não se sente tão incomodado com a questão "piropo", propositadamente entre aspas. Nem que seja por uma questão estratégica, para conseguirem mover massas.

      (obrigada pela discussão educada)

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    13. Cuca, peço desculpa, provavelmente terei usado termos incorrectos, juridicamente falando. Não sou de direito. Eu queria dizer, caso subsistam dúvidas, que acho bem ser prevista multa ou pena de prisão. Talvez dependendo da gravidade da coisa.
      (somente aos tais ditos obscenos)

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  8. É claro que a vida do dia-a-dia não se reduz a sermos ou não abordadas na rua por almas penadas que não dizem nada que preste. Mas é verdade que temos muitas vezes de nos fazer de surdas para não os mandar à m*rdinha em alto e bom som, que é o que apetece... Enfim, acho que a Srª que escreveu esse texto tem tido uma brutal sorte, uma vez que não fica constrangida/incomodada quando ouve "piropos".... Eu não vou para casa a correr chorar baba e ranho claro, mas que fico irritada lá isso fico...

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  9. Juro que quero saber em que bairros e cidades as mulheres que nunca ouviram coisas destas cresceram, para eu poder processar os meus pais por não terem morado lá. Bolas, que ali na minha adolescência, e até, vá, aos vinte e muitos, era um inferno! E sim, evitava mini-saias ou calções, se via um grupo de homens com determinado ar, ou me apercebia de determinados comportamentos atravessava a estrada, ou mudava de caminho. E acho que dizer isto não aliena os homens, que muitos deles sabem bem do que se está a falar, e não engloba todos: o meu pai nunca esteve em magote na rua, com outros, a mandar bocas a quem passa.
    E por falar em não ir por essa rua, a pior que me aconteceu foi ter um dia regressado a casa pela rua da polícia, por expressa indicação de papais; vinha com uma amiga e ouvimos de senhores fardados o que muitos das obras nem teriam coragem. Nunca mais voltámos pela rua da polícia.

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  10. Concluo que só andei por bairros problemáticos, onde me cruzei com a pior súcia de homens. Também se pode dar o caso de ser uma exagerada, dada a fricotes. Nunca se saberá.

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    1. Como eu, Mac. Concluo que vivia na piolheira e me movimentava nos piores sítios. Acho mal.

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    2. E eu. E olhem que até andei durante 8 anos num colégio só para raparigas, o que evitava parte dos problemas dentro da escola. Já quando saía dela para ir para casa de autocarro, a farda era um chamariz do caraças.

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    3. Ahhh a minha farda azul escura deixava uns quantos (pedófilos) malucos, deixava. Enfim, água mole em pedra dura, se calhar não dá nem fura.

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  11. Acredito que nem todas as mulheres se coíbam de vestir certos tipos de roupa por causa da possibilidade de assédio, mas isso não quer dizer que o assédio não as afecte. Podem sentir-se confortáveis a usar calções e saias mas de certeza que não se vão sentir confortáveis a ouvir um chorrilho de ordinarices quando passam por um grupo de homens. Podem não deixar de ir por aquela rua, mas garanto que se ouvirem um piropo rude ou virem um grupo de homens olhar fixamente vão encolher-se e sentir medo. Podem usar decotes, mas vão sentir-se humilhadas quando um desconhecido se sentir no direito de comentar bem alto o quão boas elas são, da forma mais indecente possível. Ou seja, o assédio pode não condicionar a forma como agimos - muitas vezes condiciona - mas isso não quer dizer que não condicione a forma como a maioria das mulheres se sente e, para mim, isso é suficiente para ser punido por lei. Se existem tantas outras leis cujo objectivo é manter os cidadãos seguros, não entendo porque é que o caso do assédio pode ser excepção.

    Nunca passei por uma situação particularmente traumatizante, por isso não falo de moldar a lei para me servir, especificamente, a mim, mas devo ser muito ingénua por pensar que uma pessoa devia poder conciliar o facto de ter mamas e andar segura na rua, sem ser consantemente tratada como um objecto e despida de dignidade.

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  12. No meu caso a lista reduz-se a duas coisas que me são ditas cada vez que me preparo para sair de casa para ir tomar um café com as amigos, à noite:
    - Vê lá não venhas tarde
    - Tens alguém para te vir cá pôr? Não andes por aí sozinha


    PS: ainda sobre os "piorpos" fofinhos, ontem ia na estação do metro, sozinha, passei ao lado de um indivíduo que, ao reparar em mim, saltou um "olá princesa". Olhei e apressei o passo. "ah mas fogo qual é o mal??" O tom, a maneira de olhar, o facto do gajo ter uns 2 metros de eu não passar dos 1,57, a sensação de que ele me tinha começado a seguir. Medo.

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  13. Não querendo insultar ninguém, ocorre-me pensar que quem na sua adolescência não ouviu um "lambia-ta toda" ou "anda cá ao pai" ou outra pérola similar, seguramente devia ter bigode e vestir uma saca de batatas.

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    1. O assédio verbal de adolescentes tem muito pouco que ver com o aspecto físico da pessoa assediada... o objectivo de quem profere coisas como "lambia-ta toda" é incomodar; se quisesse elogiar, diria coisas como "a menina é muito bonita".

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    2. Que bom, fico muito satisfeita. Mesmo. Mas admitirá que outras pessoas tenham outras experiências e que não estão a inventar quando as partilham, certo?

      Ainda ontem a minha "sobrinha emprestada", 16 anos, contava como quando vai para a paragem de autocarro ou anda por aqui a pé (terra pequena), há uma carrinha das obras que é capaz de passar 3 ou 4 vezes por ela, com os tipos a mandar bocas. É uma coisa que acontece com alguma frequência.

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  14. A minha mae dizia-me
    "Que saia tao curta, vese o utero"
    "Nao quero que te violem!
    "Nao venhas sozinha para casa"
    "Se os teus amigos estiverem bebedos nao venhas acompanhada por eles, chamaa outra mulher e partilhem o taxi"
    "Ao entrar num taxi envia a matricula pra mim ou alguem de confiança"
    "Se vais ter um encontro "às cegas" vai para um sitio publico, nao entres no carro dele e paga tudo com cartao"
    "Nao ponhas esse decote/esses calcoes/essa mini saia porque vais pra noite e depois qeixaste se eles passam a mao"
    "Se um homem maior ou um grupo deles te disser algo calas e segues caminho, nao sorris, nao olhas diretamente, nao respondas, estaras sempre em desvantagem e podes transmitir mensagens erradas"
    "Nao uses o cabelo com dois totós/trança ha imensos homens que fantasiam com isso"

    O que o meu pai me ensinou:
    Em caso de ataque fisico, pontape no joelho do dito (diz q cai) meter dedos dentro dos olhos dele com força, correr pela vida em seguida
    Pagou-me aulas de auto defesa eincentivou-me a cmprar spray pimenta quando me mudei pra um país onde posso compralo livremente
    Ensinoume a nunca me calar mesmo que pudesse ser chamada de louca ou barraqueira

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