31 de março de 2015

#HeForShe: What Not To Say When A Woman Speaks Of Street Harassment

“Oh, I can relate to that. I remember this one time when I was 11 years old and walking home from school, some older kids said something nasty to me.”

21 comentários:

  1. Não concordo. Os seres humanos são dotados de empatia. Conseguem perceber aquilo que os outros sentem sem que o tenham vivido.

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    1. O ponto não é esse. É claro que, querendo, as pessoas podem sentir empatia. Mas empatia não implica ter de relacionar algo que nos contam com uma experiência nossa (incomparável), é esse o ponto de vista aqui.

      Não faz mal dizer que não se consegue imaginar/identificar com o que alguém nos conta, mas não acrescenta nada ao debate sobre violência de género quando alguém descreve as suas experiências pessoais responder-se que uma vez no trânsito um matulão também lhe deu uns safanões (e sim, é comum acontecer).

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  2. Vou ser pragmática já que me parece que pragmatismo é o que faz falta neste assunto. Eu sou daquelas que defendem a criminalização do assédio verbal. Já tive dúvidas, achando que o problema se poderia resolver com uma contraordenção mas depois pensei melhor e agora defendo que por razões de coerência do sistema (comparação com as injúrias, por exemplo) deve ser criminalizado.
    Mas o assédio verbal não deve ser apropriado pelas mulheres como se de um problema de violência de género se tratasse porque essa não é a abordagem correta. A sociedade mudou e os rapazes podem tanto sofrer de assédio verbal ( e alguns sofrem) como as raparigas.
    Não é preciso nem conveniente elevar os incômodos decorrentes do assédio verbal ao estatuto de experiência mística só compreensível por alguns ou algumas nem tão pouco inflamar a coisa exagerando na gravidade das consequências.
    Chamar-se puta ou paneleiro ou asno a alguém também não será assim tão traumático e, no entanto, o estado confere-lhe tutela penal. Porquê? Porque atenta contra a dignidade das pessoas e isso basta.
    E é preciso também deixar claro uma coisa: quando se fala nas crianças de 11 anos que ouvem coisas como " lambia-te a cona" convém que se esclareça que isso já é punido pelo artigo 171, 3, b), do código penal, com pena de prisão até 3 anos. Há que ter a honestidade de expilicar isto às pessoas.
    O que me parece legítimo defender é que o mesmo comportamento ("atuar sobre alguém por meio de conversa pornográfica") seja punido ainda que esse alguém tenha mais de 14 anos (ao contrário do que agora acontece). Isto cumpre a convenção de Istambul e assegura tutela aos casos mais graves. Ficam de fora comportamentos indesejáveis, é certo, mas nem tudo o que é incómodo pode ser criminalizado e aquilo que agora importa é assegurar um mínimo de proteção.
    Não é bom tentar transformar a defesa da punição do assédio verbal numa causa feminista ou tratar o assunto como se fosse violência de género. É uma questão transversal a ambos os sexos e para compreender isso basta pensar nas coisas que ouvem os rapazes de evidente orientação homossexual.

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    1. Discordo. O assédio verbal de que se fala é e deve continuar a ser encarado como um tipo de violência de género e portanto uma causa feminista. A vasta maioria das pessoas a quem é dirigido este tipo de assédio, o tal "atuar sobre alguém por meio de conversa pornográfica", são mulheres e raparigas, pelo simples facto de serem mulheres ou raparigas (não interessa o que levam vestido, o que dizem, como andam, se são bonitas ou feias, gordas ou magras, novas ou velhas). Ignorar este facto não traz benefício nenhum ao debate sobre o fenómeno e sobre se é preciso criminalizá-lo ou se se vai lá com outras medidas. Aliás aceitar que isto é algo que afeta desproporcionalmente as mulheres é fundamental para que as causas sejam melhor compreendidas e para que a mudança de mentalidades se comece a fazer, através de educação, campanhas ou o que for. O assédio verbal não acontece porque sim, ele é fruto da sociedade machista em que vivemos, que objetifica as mulheres em tudo o que é canal de comunicação e que ainda acha estranho que uma mulher ocupe o espaço público sozinha. É o espelho da desigualdade de poder entre os dois sexos, vá. Acho que isto é óbvio tanto pelo teor sexual do assédio como pela intenção de intimidação com que ele é proferido.
      Se isto significa que homens não podem ser assediados verbalmente? Claro que não. E é muito revelador que tenha (tenhas?) referido precisamente os rapazes que são assediados por serem gays ou simplesmente "parecerem gays". A violência de género é exatamente isso: alguém ser vítima de uma injúria simplesmente por pertencer a determinado género, ou "castigado" por não se adaptar aos papéis de género que o seu sexo determina (no caso dos rapazes homossexuais, por transgredirem as regras do que é ser homem).

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  3. Eu não tenho interesse nenhum em roubar causas aos movimentos feministas mas não é verdade que a sociedade, a portuguesa, pelo menos, ache estranho que as mulheres ocupem sozinhas o espaço público (e não estou a falar de Lisboa, já vivi numa ilha com 5000 habitantes e também já vivi no Alentejo profundo). E também não é verdade que a intenção de quem assedia verbalmente seja intimidar as mulheres para que não ocupem o espaço público. Até porque a maioria das pessoas que o faz seria incapaz de formular um raciocínio tão elaborado. Quem estiver interessado em perceber, pode começar por perguntar aos professores ou aos funcionários das escolas o que se passa lá dentro e talvez se surpreenda com a forma como as raparigas, quando estão em grupo, tratam os rapazes. O mundo foi andando e muitos fenómenos que antes que antes eram de violência sobre as mulheres, agora são apenas de violência generalizada.
    Por isso, e tendo ainda em conta que está absolutamente fora de questão qualquer alteração legislativa que não se aplique a ambos os sexos, é num contexto mais global que a questão deverá ser discutida de forma produtiva.
    E lamento dizer isto, mas para que se possa legislar com serenidade sobre este tema é preciso ter uma visão global do assédio, não o apropriando como causa exclusivamente feminina.

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    1. Reconhecer que um certo problema afecta desproporcionalmente um grupo não implica que agir sobre o mesmo não beneficie todos. Foram os movimentos feministas que começaram a debater este assunto e continuam a bater-se pela legislação do assédio, porque, de facto, é um problema que afecta maioritariamente o género feminino - é ver as estatísticas - e as raizes do problema provêm de estereotipos da cultura dominante, pelo que é necessário compreendê-los para combatê-los.
      Fazendo um paralelismo, para combater o racismo, primeiro há que admitir que existe e que afecta principalmente um grupo, para perceber as suas origens e combatê-las, pelo que embora globalmente queiramos direitos iguais para todos, não traz nada para esta luta específica essa visao global e nem ajuda a resolver o problema ignorar a existência do privilégio branco.

      (por exemplo, a par da desigualdade salarial com base em género, também a há com base em raça, e cruzando os dados, se uma mulher branca nos US ganha cerca de 80% de um homem branco, uma mulher latina ganha cerca de 50%)

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  4. Estou de acordo com o ponto de vista da Cuca e até vou mais longe. Não há nada que se possa dizer que seja uma causa feminista sem ser primeiro uma causa pela igualdade de direitos para os homens e mulheres. Por isso pergunto: qual a necessidade do termo feminismo? Não é redudante? Temos igualdade de género, temos democracia, e isso é um pensar mais global e integrante de ambos os sexos, em vez de virado apenas para as mulheres.

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    1. O objetivo é a igualdade de género, sim senhora. O que significa que neste momento vivemos numa sociedade em que existe desigualdade de género, que é uma desigualdade sobretudo de poder e de valor da qual os homens saem beneficiados. Basta olhar para qualquer tipo de estatística sobre homens e mulheres no poder político, cargos de chefia, poder económico, judicial, níveis de pobreza, violência doméstica e sexual, desigualdades salariais, etc. O feminismo existe justamente porque existe esta desvantagem para com as mulheres, a intenção é acabar com as estruturas que reproduzem estas desigualdades, das quais as mulheres saem prejudicadas. Se ao fazer isso também vai beneficiar homens? Vai, sim senhora, porque este sistema, apesar de no geral beneficiar os homens, tem coisas que os afetam negativamente (a ideia de que "coisas de gaja" ou fazer coisas "como uma gaja" é uma coisa má é a mesma que "castiga" homens que mostram emoções ou que não alinham nos comportamentos tipicamente masculinos; a ideia de que a mulher é sempre e obrigatoriamente a principal cuidadora dos filhos e que lhe dá problemas no mercado de trabalho é a mesma que impede os homens de poderem gozar a sua licença parental livremente ou de negociarem horários mais flexíveis no emprego quando têm filhos pequenos).
      Mas mesmo que não beneficiasse os homens, seria de esperar que um movimento que tenta melhorar a vida de mais de metade da população não precisasse de mais nenhuma justificação que essa mesma.
      Não há nada de desprestigiante para as mulheres ou prejudicial para os homens em se admitir que as primeiras enquanto grupo sofrem de desvantagens específicas na sociedade em que vivemos que precisam de ser tratadas especificamente. O objetivo final é a igualdade de género, claro.

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  5. Chego tarde, mas pronto, tudo o que a DS disse.

    Mas já agora deixo um vídeo sobre a discussão semântica, que vem sempre à baila quando se fala de feminismo:

    https://www.youtube.com/watch?v=pDmzlKHuuoI

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    1. Vi o vídeo e não consegui entender como é que ele se coaduna com o que aqui vem sendo dito sobre o feminismo. Joss Whedon está precisamente a sugerir uma alternativa a esse termo...

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    2. Que advém exactamente da percepção negativa e errada que se tem do termo feminismo e da inevitável discussão semântica.

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    3. E há que ler a ironia...

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  6. Há uns anos (largos) atrás, um colega de universidade, que usava frequentemente calções, considerou-se assediado por um grupo de raparigas. Elas mandaram uns... piropos?, e uma casualmente passou-lhe a mão assim como que ao fundo das costas. Ele dirigiu-se a um polícia, fez a queixa... não é preciso dizer o resultado, certo?
    E sim, acredito que raparigas assediem rapazes. E que mulheres assediem homens, inclusivamente no local de trabalho.
    Tal como existe, envergonhadamente escondida, violência doméstica de mulheres sobre homens.

    Concordo com o que dito pela compatriota do Jack Sparrow, e não vale a pena andar aqui a esgrimir argumentos, pois nenhuma das partes irá conceder razão à outra.

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    1. Começo por discordar disso do não valer a pena esgrimir argumentos, porque me parece ser a única forma de se ouvir lados e se chegar a algumas conclusões, e perceber de que forma cada grupo se sente ou não afectado por certos problemas.

      O facto de se reconhecer que existem problemas que afectam maioritariamente as mulheres - basta ver as estatísticas - não implica negar que afectem também os homens, ainda que em menor número, e que é algo que também deve ser combatido.

      Já o exemplo que dá, não, não é preciso dizer o resultado, até por que o resultado seria idêntico tratando-se de uma mulher, dado que não há enquadramento legal para o assédio sexual, que é o que se tem tentado fazer (e que irá abranger igualmente homens e mulheres).

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    2. Já agora, deixo aqui estatísticas relativas ao assédio que demonstram que também os homens são afectados (25%, dos quais a maioria homossexuais, com a maioria das abordagens (9%) consistindo em comentários homofóbicos).

      http://www.stopstreetharassment.org/our-work/nationalstudy/

      Se tiver interesse em aprofundar a leitura, tem aqui o relatório completo:

      http://www.stopstreetharassment.org/wp-content/uploads/2012/08/2014-National-SSH-Street-Harassment-Report.pdf

      Saliento a página 16 sobre os tipos de assédio experienciados por cada sexo e a página 23, onde tanto homens como mulheres reportam terem sido assediados maioritariamente por outros homens.

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    3. A questão do assédio de homens por mulheres é que os números (vários especialistas o disseram) não batem com a verdade, pois é um crime "envergonhado". Um homem que se vá queixar à esquadra que a mulher lhe bate, ainda é gozado. Do mesmo modo que o assédio de mulheres a rapazes menores de idade ainda é visto não como um crime, mas como uma benção.

      Tal como a da Perna de Pau, acho que é uma questão de violência, não de violência contra género. Tívessemos uma sociedade respeitadora, ponto!!!, as mulheres não seriam assediadas na rua. É aqui que digo que não vale a pena debater.

      * No exemplo que dei, acho que sabe perfeitamente onde queria chegar. Não será preciso rabiscar um boneco, certo?

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    4. Por acaso não percebi onde queria chegar, de todo, talvez me possa explicar melhor.

      Também não acho que a violência seja apenas violência, a violência é tipificada - violência de género, racial, religiosa, terrorismo, etc. tem raízes diferentes -, e generalizá-la não ajuda a compreender as suas causas e a combatê-la.

      Quanto ao crime "envergonhado", as razões pelas quais as vítimas não se queixam - e atenção, grande parte das mulheres também não fazem queixa, especialmente em casos de violação, pela estigmatização que sofrem - deriva exactamente de uma sociedade patriarcal onde os estereotipos de género inibem/envergonham os homens vítímas de certos crimes por não se enquadrarem no papel de "sexo forte" que lhes é inculcado, no fundo estando a dar parte de fracos e não serem "homens o suficiente" e se deixarem agredir como uma mulher. É como tal a outra face da mesma moeda.

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    5. O mesmo se pode dizer sobre o assédio verbal que as mulheres recebem: neste caso não na questão de vergonha mas na da normalização. Para muitas mulheres, e isto ficou muito claro quando se começou a debater o piropo aqui há uns meses, assédio verbal não é visto como assédio, é uma coisa normal, parte do dia-a-dia, uma chatice mas parte da vida. Por isso as estatísticas destes estudos provavelmente também estão revelar números muito mais baixos do que eles realmente são no caso das mulheres (é uma coisa que os autores desse relatório referem nas limitações do estudo).
      Aliás, no estudo que a UE lançou o ano passado sobre a violência contra mulheres e crianças na Europa, fiquei pasmada por Portugal apresentar dados de mulheres vítimas de assédio sexual na rua bastante inferiores à Dinamarca ou outros países onde empiricamente se esperaria percentagens menores. Acho que tem precisamente que ver com o facto de mais mulheres nesses países verem esses comportamentos como assédio, enquanto que em Portugal são mais normalizados.

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    6. Exacto. Aliás já dei montes de vezes o meu próprio exemplo: quando fui para a Holanda estranhei ter deixado de ser assediada na rua, chegando a questionar-me se estaria mais feia ou assim. :P

      Depois de 5 anos a viver num país onde o assédio na rua não é prática comum, e me sentir infinitamente mais segura e livre a andar na rua sozinha independentemente da hora, percebi que isso sim deveria ser o normal e não o contrário.

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  7. Basicamente o polícia dissr-lhe que um homem que se queixa de ser assediado por mulheres, deve ser pane.... e por isso não gosta. E quanto muito, se se sentisse ofendido, que as pusesse no lugar. Onde se viu um homem queixar-se...

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    1. Pronto, e agora que me fez o desenho, percebi.

      Não percebi antes porque não é de todo a minha posição ou reacção relativamente a um homem que seja vítima a assédio, e como tal nem me passa pela cabeça essa posição.

      But then again, é uma reacção baseada em estereotipos de género, que não só prejudicam mulheres como homens, porque um homem a queixar-se é identificado com uma queixa associada ao género feminino e a fraqueza, e como tal ridicularizado, quando enquanto ser humano deveria ser respeitado tal como o seu direito a andar na rua sem ser incomodado. E não, um homem ser assediado por mulheres não é um privilégio, é tão incomodativo como a uma mulher.

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