30 de novembro de 2015

A Fernanda explica


"Mas, li ontem várias vezes e vindo de várias vozes, falar na cor de Van Dunem é errado e reforça a discriminação: o que interessa é a qualificação para o cargo. O mesmo foi dito em relação aos secretários de Estado Ana Sofia Antunes e Carlos Miguel, ela cega e ele de ascendência cigana. Percebo a preocupação, mas não concordo. Sim, deveria ser natural e normal ver negros no governo, como deficientes e ciganos; deveria ser normal termos muitas mulheres nos executivos. Mas não tem sido; não é. Daí que faça sentido relevar quando sucede; daí que seja tristemente inevitável contar o número de mulheres. Sabendo distinguir entre a absoluta grosseria de um Correio da Manhã que titula "Costa chama cega e cigano para governo", reduzindo as pessoas a uma classificação puramente discriminatória e até chocarreira, e os jornais que fizeram jornalismo. E fazer jornalismo é dizer, proclamar, festejar isto: ontem fez-se história. E foi muito bom."

Uma coisa é os meios de comunicação relevarem o facto de pela primeira vez na nossa história terem sido chamadas ao governo pessoas de diferentes etnias, cor, ou mesmo portadoras de deficiência, sinal claro de evolução (nossa, enquanto sociedade, não deles). O que é completamente diferente de as reduzir unicamente à sua "diferença" e dizer que foram chamados ao governo uma preta, uma cega e um cigano. E não perceber esta diferença, é, enfim, prontos, muita poucachinho.

13 comentários:

  1. Sim, é isso. E é perfeitamente possível distinguir a intenção de quem usa a cor ou característica para reduzir a pessoa a essa única característica, a diminuir ou festejar o facto de diversidade ir dando os seus passitos.

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  2. O que é ainda menor é perceber a diferença mas fazer demagogia para que quem não percebe continue sem perceber e vir dizer que pois sim, claro que é tudo a mesma coisa.

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  3. Faltou dizer que (bem) haja quem ainda se dá ao trabalho de tentar explicar aS diferençaS, eu já não tenho paciência, infelizmente.

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    1. Eu também ando um pouco cansada, especialmente quando as pessoas não percebem porque não querem perceber. Mas achei que este artigo da Fernanda Câncio estava certeiro.

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  4. Pois é que o CM entrou logo a matar, parecia que estavam a tentar começar a anedota: um cego, um cigano e uma preta entram no governo..

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    1. A bem da verdade eles não chegaram a dizer a preta, mas deve ter sido quase.

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    2. Não disseram por um milímetro.
      Esses estão lá descaradamente pelos cliques, é de não lhes dar qualquer atenção.

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  5. Fui daquelas que demonstrou a sua indignação. Quanto ao motivo, o teu último parágrafo acerta na mouche! Acho que se todos os meios de comunicação tivessem abordado a questão como deve ser, (sim, totalmente de acordo com a Fuschia quando diz que a parangona do CM parecia uma daquelas anedotas), acho que nem se teria levantado esta tempestade.

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  6. O título do CM foi inacreditável.

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  7. Só faltou acrescentar "qué frô".
    Lamentável. Mas nada que me espante para um jornal como o CM.

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  8. Não exista nada mais facil do que falar mal, é o mundo que temos
    Mark Margo
    www.markmargo.net (entretenimento e cinema)

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  9. Eu sou uma pessoa horrível e um com sentido de humor....indomado, digamos.
    Desde que li a parangona do CM que me farto de rir a imaginar um Presidente da Assembleia que coordenasse uma sessão de hemiciclo nos seguintes termos, ao melhor estilo CM:
    - Foi a vez da cega. Passemos agora à intervenção do cigano. Aviso o deputado míope que deverá fazer silêncio. A preta quer usar o direito de resposta? Passo a palavra ao betinho das hemorroidas! E agora, era a vez do gay ou do gago? Passo a palavra ao monhé!
    Eu sei, eu sei. Tão incorrecto! :P

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