22 de janeiro de 2016

Discurso do método

Sempre que nesta nossa blogosfera aparece uma nova polémica, uma nova discussão, basta uma pessoa defender mais convictamente um ponto de vista, para imediatamente começar a ser apelidada de radical, entre outros nomes fofinhos. Independentemente da causa ser mais ou menos simpática, mais ou menos nobre, há sempre de aparecer quem apele a uma abordagem mais "moderada", que é preciso educar, consciencializar, por forma a não hostilizar em vez de agregar, de modo a mudar mentalidades gradualmente. Que há quem até defenda as causas, mas não o método. E é aqui que eu fico sempre um bocado confusada com essa coisa do método. Mas qual método?

É que com a chegada das redes sociais e o acesso cada vez mais global à internet, o método passa essencialmente por falar do assunto, criticar, indignar-se, denunciar aquilo que se considera errado ou injusto através do twitter, facebook, artigos de opinião em revistas online, posts e comentários em blogs. E é aqui que eu não percebo onde entra a tal postura moderada de educar e consciencializar. É que mais moderado que isto, não estou a ver. Como é que é possível educar e consciencializar sem falar do assunto? Como chamar a atenção para certas desigualdades, sem dizer que no século XXI nos parece inaceitável a falta de inclusão e representação em certos eventos e provas? Sem dar a nossa opinião? 

Qual a alternativa a este método? Comer e calar? Não falar no assunto? Encolher os ombros e ignorar para não maçar as pessoas? Dizer que se concorda, mas só um bocadinho? Quando é que começa a ser legítimo reclamar e começar a falar dos assuntos sem se ser acusado de radical? A partir de que momento é que se pode exercer o direito à indignação e usar da liberdade de expressão ainda que haja quem não tenha paciência para ouvir? Haverá sempre quem não tenha paciência para ouvir. Haverá sempre quem prefira uma atitude reaccionária e perante as queixas de uma comunidade escolha ridicularizá-las, diminuí-las, desvalorizá-las.

O que fazer? 

Não reagir? Ficar calado para não incomodar? Que mudança até hoje se deu sem incomodar? Se é um risco ostracizar grupos antagónicos discutindo activamente os assuntos, como agregar sem nunca os discutir publicamente?

Perante qualquer causa, mais ou menos digna, haverá sempre quem a considere menor, sem importância, não prioritária. Que não tenha paciência. Que considere a constatação de um facto vitimização. Que ache irritante. Que ache risível.

O que fazer?

Esperar até que todo o mundo concorde que aquela é uma causa válida antes de começar a lutar por ela? Esperar resolver todos os problemas mais graves antes de se dedicar aos menores? Certamente muita gente de bem considerou ridícula a questão dos assentos nos autocarros, e uma fantochada a preocupação com assuntos menores como onde sentar o rabo, havendo tantas questões prioritárias. Para Rosa Parks foi uma questão de honra. E fez diferença.

Eu confesso que não sei qual é o melhor método, mas sei que não é ficar calada.

59 comentários:

  1. Bom, concordo com quase tudo (tenho algumas dúvidas sobre se "esta" blogosfera tem realmente "discussões", daquilo que vejo, gosta mais de falar para o ar). Só disputo essa interpretação que o acto da Rosa Parks foi algo "ligeiro" numa primeira instância, ou até mais "simbólico"... a segregação era uma manifestação clara, e legal, do racismo, ao resistir a isso ela faz uma afirmação social e política bastante forte e sofre consequências imediatas graves por isso. Eu sei que tu entendes isso, mas não é bem a mesma coisa que andarmos nas redes sociais a tentar explicar a pessoas o que é white privilege ou uma sociedade patriarcal. :)

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    1. André, estás certíssimo, mas este post veio como desenvolvimento de uma discussão noutro lado (http://tinyurl.com/gv2zq4k), em que invariavelmente se desvalorizam protestos em questões consideradas "menores" quando comparadas com outras como a pobreza, e em função disso "se perde a paciência".
      Eu, entretanto, por escrever aqui umas coisas no meu tasco, já descobri que sou uma radical que hostiliza em vez de agregar, errando no método, assim, tipo, como se andasse a lançar cocktails molotov na rua para defender a minha causa. :P
      O que vale é que já estou habituada.

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    2. p.s. havias de ter visto o que foi quando defendi a criminalização do "piropo"...

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    3. Ah, e claro que o acto de Rosa Parks foi tudo menos ligeiro. Mas na relativização da discussão, da falta de importância de certas questões face a outras, consigo imaginar que no passado tenha havido semelhante desvalorizar de outras questões, tendo-me lembrado deste exemplo concreto.

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    4. Entendo, é muito frustrante. Não a discussão em si sobre estes assuntos (eu próprio estou em permanente discussão comigo mesmo, o caso Gervais / Jenner foi o último em que demorei um par de dias até conseguir formar uma opinião), mas a maneira como certas pessoas insistem em desviar ou não endereçar certas questões.

      Não ajuda que a plataforma de muitas destas teorias seja de facto radical, e implica criticar a sociedade a uma profundidade que muitas pessoas "desliga" logo. Não sei se é possível dissociar isso, mas imagino que sim, tenho amigos politicamente a atirar para o conservador e que conseguem perfeitamente ter noção de privilégio.

      E, indo noutra tangente, faz-me imensa confusão que pessoas com aparente sensibilidade humanista, insistam em menosprezar o poder das ideias e da sua representação na cultura, nas percepções culturais, etc. Nunca percebo bem se é ignorância ou má-fé.

      Bom, entrei aqui com uma picuinhice, retiro-me com as minhas dúvidas - mas não tenho dúvidas que é bom levantar estas questões, como vocês fazem, citar, escrever, bater na tecla. :) E para cada nove pessoas que diz "lá vêm estes com os disparates", se calhar há uma que fica a pensar. Aconteceu comigo (aqui há uns anos). keep up the good fight!

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    5. Olha, estás melhor do que eu, ainda não me consegui decidir na questão Gervais/Jenner.

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    6. Na questão Gervais/Jenner, com franqueza, achei graça, porque a piada não era à custa do facto de ser transexual, ou queer, ou queen, que é a tecla onde normalmente se bate e, boring. Como sou mazinha, confesso que me ri. Mas estou receptiva a outras opiniões e sensibilidades.

      A Rosa Parks teve uma importância que acho que nem a própria imaginava. Nem estaria perfeitamente ciente, acho. Era uma mulher muito cansada, ao fim de um dia de trabalho, e sentou-se. Teve a coragem de dizer não a uma regra injusta, e que lhe negava um conforto mais que merecido. Uma vez li um artigo que se focava nesse pequeno gesto de insubordinação de uma mulher normal, não activista, e até tímida, como sendo algo grandioso, mas para a própria, na altura, deverá ter parecido um simples gesto de teimosia, quase infantil, de reposiçao da justiça e normalidade. De qualquer forma foi preciso uma coragem do caraças. Para se sentar, e para se negar a levantar, quando lho ordenaram.

      E pronto, é preciso gente assim, que diga não. O poder de um não, não concordo, não aceito, e não me calo nem obedeço, é mais poderoso que se possa imaginar.

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    7. Já li em vários sítios pessoas a disputar essa ideia da Rosa Parks como uma "mulher normal e cansada", não-activista, que "apenas" fez o que parecia certo. Isto porque ela já trabalhava com o movimento de direitos civis, já tinha tido contactos com outros activistas, etc. Gosto mais dessa versão de uma Rosa Parks, com alguma consciência da afirmação que está a fazer (ainda que sem ideia do impacto na sociedade), incluindo o facto de isso a levar à prisão. Mas claro que concordamos no essencial, é preciso uma coragem do caraças!

      Em relação à cena do Gervais (que eu acho um dos melhores comediantes do início do século), acho que ele não fez um conjunto de piadas conscientemente transfóbicas mas parece estar ali subjacente uma certa ideia de que mudar de sexo é algo engraçado, que alguém ser homem num dia e mulher no dia a seguir é hilariante. Nem estou a falar da piada do carro, mas sim do tom do início do bit. Não é tanto uma questão de intenção do Gervais, logo que ouvi eu também não achei que a piada fosse sobre "homens que de repente tem vagina = lol!", mas depois de ter discutido isso com algumas pessoas, percebo que é uma leitura válida, sobretudo pelo aspecto simbólico da CJenner na representação de uma minoria muito reprimida, ainda desumanizada, etc (ao contrário dos outros alvos da cerimónia). Ainda se a piada fosse realmente boa...

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    8. Nem achei a piada má, mas o set up concordo que foi. Podia ter feito melhor. O Gervais está a evoluir, ainda assim. E perdoo-lhe muito porque é mais crítico e venenoso consigo do que com qualquer outra pessoa. Não há muitos que tivessem a vontade para publicar fotos suas ridículas com a legenda " fat cunt"

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  2. Mea culpa também, porque é-me inato, (e quanto tenho reparado nisso em todas as esferas), que tenho espírito de pacificadora, mediadora. Deixá-lo de o ser ser-me-ia contranatura, forçado, pouco natural. Da mesma forma, que te pedir para deixares de ser como és o seria. Acredito que isso não impede, pelo contrário, que pessoas com várias naturezas e aptidões trabalhem, embora de formas distintas, para o mesmo fim.

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    1. Ana, eu acredito que a única forma de chamar a atenão a certos problemas é falando neles, independentemente da resistência. É apenas isso que eu faço, falar nas coisas. Que haja quem ache isso pouco moderado? Não sei outra forma de o fazer.

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  3. Como li uma vez algures na internet: 'Keep up the good work. You never know who you are inspiring'. Não te cales, Luna.

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    1. E tu deixa de ser egoísta e vai continuando a partilhar informação com a gente. :=)

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  4. A Luna continua a considerar que vale a pena discutir com o Pipoco. Não passa de um troll que sabe escrever. Se a Luna visitar o facebook da Feminist Frequency, verá por lá outros Pipocos.

    Em relação a esta questão, não é preciso ir a Hollywood ou França. Foi preciso a Isabel dos Santos injectar dinheiro na TVI para vermos actores negros em telenovelas e para haver um concorrente negro num reality show, mencionando ainda a Kelly Medeiros.

    O argumento da NBA quase justifica partir para a agressão.

    Uma actriz como a Marillion Cotillard veio com uma treta semelhante: falar de feminismo afasta os sexos.

    Só dá vontade de se ser radical a sério.

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    1. Filipa, se eu não fosse uma utópica há muito que me tinha deixado de dar ao trabalho. É engraçado que tal como a Filipa menciona a tirada da NBA eu recebi em privado ao mesmo sobre maratonas de brancos. Mas acho sempre que vale a pena discutir quando achamos que do outro lado há uma pessoa inteligente - que é o meu caso.

      Mas sim, há argumentos de tal forma inválidos e desonestos que uma pessoa se passa um bocadinho.

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  5. Lembro-me de uma blogger que se gaba de detestar mulheres, causas de esquerda, e tudo o que é reinvidicação, mas, depois, sentiu-se discriminada ao não lhe permitirem entrar no Cascaishopping, juntamente com outros roqueiros. Escreveu uma carta em que acusava o centro de discriminar com base na roupa. O centro abriria dali a uma hora.

    O Pipoco escreve que uma blogger só deveria escrever o que a mãe aprovasse, mas, depois, lista um (suposto) blogger que fala dos prazeres de se vir na cara da namorada.

    Não os considero parvos, apenas com falta de ética.

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  6. O título contém a resposta. O método que algumas pessoas criticam, incluindo, nalguns casos, eu própria, é precisamente o discurso.
    A experiência ensinou-me que não há nada que mais arruíne a defesa de uma causa do que o exagero. Na minha opinião, que não vale muito, falta à defesa de algumas causas um esforço de objetividade.

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    1. Haverá sempre quem ache qualquer coisa exagerada, seja afirmar que existe violência de género ou que existe disparidade salarial, por mais que os números o provem claramente. Definir onde começa o exagero é algo tão subjectivo que se torna impossível defender seja o que for.

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    2. A causa feminista deveria ser por inerência a causa de todas as mulheres. E no entanto todos sabemos que há muitas mulheres que ficam com os cabelos em pé só de ouvir a palavra feminismo. Porquê? Porque o feminismo não se sabe vender. Porque a cada iniciativa palerma feita em nome do feminismo (refiro-me áquelas que supostamente pretendem chocar) afasta as mulheres de uma causa que é legítima e que lhes é essencial.
      Eu concordo contigo quando dizes que é preciso falar nos assuntos, mas é preciso falar deles de forma objetiva e imparcial, apresentando mais dados e menos opiniões. E, sobretudo, evitando o discurso demonizador dos homens e desculpabilizador das mulheres (que, por exemplo, em meio laboral não são menos discriminadoras das outras mulheres do que os gestores ou empresários do sexo masculino).
      É sobretudo um problema de discurso. É preciso mudá-lo.

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    3. O problema é que mesmo que se mostrem dados, há sempre quem os negue, por mais claros que sejam - e ainda há dias isso aconteceu numa caixa de comentários quando se falava em desigualdades de género. Há uma postura negacionista que impede que se fale das coisas com seriedade, e de se ser levado a sério por mais objectivo que se seja.

      Eu não demonizo os homens, e muito menos os infantilizo ou menorizo com os típicos "ai eles são mesmo assim, não se controlam" que vejo como justificação para certos comportamentos se perpetuarem, acho profundamente desrespeitoso e condescendente, e raramente o vejo da parte de feministas, mas pelo contrário. Da mesma forma, ainda há dias partilhei um estudo em que se referia que a discriminação com base no género ao avaliar CVs idênticos, favorecendo e oferecendo maiores salários ao sexo masculino, era igualmente praticada tanto por homens como por mulheres. Aliás, o blogue mais machista da blogosfera é escrito por uma.

      Há iniciativas que eu considero desnecessárias, tal como nunca defenderia formas violentas de protesto, mas acho que há demasiado medo de se assumir aquilo em que se acredita, em mostrar convicção, porque se num homem isso é visto como assertividade, numa mulher passa logo a ser a chata e a esganiçada, e isso tem de mudar. E acho que não é um problema só de discurso, mas de como é interpretado e na maior parte das vezes grosseiramente deturpado para o ridicularizar. Viu-se isso com este post do pipoco, por exemplo. Tal como se viu com o tema do "piropo", quando aqui há 2 anos militantes do BE quiseram discutir o assédio verbal enquanto violência de género.

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    4. O caso do piropo é o mais flagrante exemplo de um erro de discurso que começou logo por serem os próprios a chamar piropo ao assédio verbal demorando demasiado tempo a explicar às pessoas que o que pretendiam era a criminalização do assédio sexual.
      O post do Pipoco é um não caso. Um blogger manifestou a sua discordância com os protestos sobre Angouleme sem ofender ninguém. Fazer disto um caso já entra no tal do exagero no discurso de que falava em cima.

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    5. Agora não percebi.
      (a segunda parte, com a primeira, totalmente de acordo, o termo piropo é péssimo)

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  7. Luna, usurpando parte do comentário à Cuca eu também acho que a questão está no exagero do discurso mas não no sentido em que me parece que interpretaste.
    (E já tivemos esta conversa aquando daquela cena da barbearia e de um post que fizeste com umas fotografias de cartazes do apartheid. Agora sinto exactamente o mesmo.)
    Sendo o ponto de partida um concurso de BD (ou os óscares ou outra situação pontual qualquer que até pode não ser resultante de um contexto de discriminação) em dois comentários está-se a falar do Apartheid. É uma escalada desproporcional. Acho eu.

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    1. NM
      como disse ali em cima à Cuca, acho que pior que o discurso, é a deturpação do mesmo, que leva muitas vezes a que a simples constatação e discussão de certos fenómenos seja interpretada ou propositadamente deturpada e exagerada exactamente para a desacreditar.
      É importante tentar perceber porque é que entre 30 nomeados para um prémio são todos homens e/ou todos brancos, e se isso é desejável. Devemos perguntar-nos se é desejável maior inclusão, diversidade e representação. E questionar-nos se isso é um problema de desigualdade de acesso, oportunidade, e bias, mesmo que de forma inconsciente.

      (quanto aos sinais do apartheid "negros não entram" e os sinais à porta da barbearia "cão entra, mulher não" continuo a achar que são comparáveis, e foi de facto a primeira coisa de que me lembrei quando o vi)

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    2. (Aí foi pior. São comparáveis à propaganda nazi usada contra os judeus. Só que a comparação acaba aqui. O dado objetivo é: os senhores da barbearia usaram cartazes que se assemelham aos utilizados na propaganda nazi. Não: as mulheres estão a ser tratadas como os judeus na II guerra mundial).

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    3. Ena! Uma pessoa demora um bocadinho mais e quando chega quase que, pronto, só lhe resta meter a viola ao saco, que já pouco ou nada tem a acrescentar...

      A minha questão com as fotografias na altura da barbearia teve a ver com a sua contextualização. Uma coisa seria dizer: "Este cartaz fez-me lembrar estes outros antigos." (Ok, fair enough, dá que pensar...), outra é dizer: "Hey! Cuidado! Por este caminho, e se não nos pomos a pau, estamos aqui estamos a viver o mesmo que estes outros viveram... Agora uma barberia, depois outra, depois mais uma..." (E eu a pensar: "Hey! Calma! Foram só uns idiotas que tiveram uma ideia de marketing... Verbalizar esse possível desenrolar de acontecimentos é um desrespeito pela história tão grande é a inverosimilidade.

      Agora a questão é mais ou menos a mesma (ainda que incomparavelmente mais meritória de debate). É muito estranho, de facto, a inexistência de não caucasianos nos nomeados. É importante tentar perceber, como bem dizes. Agora, trazer à discussão o Apartheid (ainda mais passando-se o episódio nos EUA)... Sinto sempre que me estão a "convencer" que para caçar borboletas é preciso ir armado de bazuca.

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    4. Não sei onde me viste falar do apartheid, mas admito que esteja a sofrer de alzheimer... de resto, convém não esquecer que os direitos dos negros nos estados unidos têm 50 anos, os greensboro sittings foram em 1960, selma e o voting rights act é de 1965, é tudo muito recente e há ainda um longo caminho a percorrer.

      (as razões são várias, tais como falta de diversidade entre os membros votantes - estima-se que 90% sejam brancos, 70% homens; falta de igualdade de acesso a bons papeis e mais diversificados - já reparaste que boa parte dos nomeados o foram a fazer de escravos? ou criados? ou gang leaders?; falta de papeis como protagonistas - só uma mulher já ganhou o de melhor actriz principal (e 4 homens), e por aí fora...

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    5. (Ui, pois não falaste, desculpa! Devo ter visto noutro lado; ou então sou eu que já estou na fase do défice cognitivo ligeiro...)

      Obviamente que há discriminação e que a linha de partida não é mesma para toda a gente. Não ponho isso em causa, só não tenho a certeza que tenha sido este o caso (mas não me custa a acreditar que sim). O que eu digo é que não se deve sobrevalorizar o episódio (até por ser no país que foi). Tenho a certeza que não vai voltar a acontecer, mas acho que será muito mau se disto resultar as pessoas começarem a ser "falsamente" agraciadas (não pelo seu talento mas pela sua raça, género...). Será contraproducente. Acho que o fosso entre as pessoas tenderá a aumentar ao invés de diminuir.

      Verdade que é tudo muito recente Luna, mas não me parece razoável achar que pode haver um revés ou que tudo se pode resolver "à força" e de um dia para o outro. E eu acho muito bem que se fale e discuta isto (e por alguma razão parece-me mais evidente a questão nos óscares que aquilo na BD mas admito que possa ser ignorância minha), só acho que há frequentemente um exagero na argumentação, tal é a vontade de provar um ponto de vista.

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    6. NM, mas quem é que quer resolver as coisas à força? Viste motins? Viste exigências de quotas? O exagero é o quê? Actores/realizadores mostrarem indignação por só haver brancos nomeados pelo segundo ano consecutivo? Por acharem por bem denunciar essa situação? Por acharem que realmente quando os membros votantes são 90% brancos, é capaz de haver algum bias? Tal como no acesso a pepeis principais? Que haja quem use "whitesplaining" para justificar tudo isto com "as pessoas sentem-se mais identificadas com brancos" num país onde 13% da população é afro-americana, 16% hispânica/latina e 5% asiática*? Estas pessoas não têm que se sentir identificadas e representadas? É exactamente por se ter passado no país que foi que se deve valorizar este episódio.
      (*sem falar do resto do mundo, para onde o cinema americano é exportado, e que não é maioritariamente branco)

      Mas lá está, há sempre de haver quem ache é tudo exagero e paranóia, e mesmo supondo que é exagero reclamar de falta de diversidade nos Oscars, também achas que é exagero falar do abate de crianças negras enquanto andam na rua porque "se as pessoas discutissem os assuntos com a seriedade que alguns assuntos merecem não faziam de Tamir Rice, bandeira, é que a situação pode mesmo não ter tido nada que ver com racismo"? Caramba, se o abate de crianças e jovens devido ao preconceito enraizado "negro=criminoso" não é suficiente para ser tomado como bandeira, o que será?

      O racismo nos estados unidos está muitíssimo enraizado, ao ponto de me ter acontecido, ao convidar pessoas com quem trabalhava para uma festa que eu e uns amigos portugueses íamos dar em casa, duas pessoas me perguntarem se "seriam as únicas pessoas brancas na festa?". Se isto se passou comigo, em são francisco, supostamente a cidade mais "mente aberta" dos states, com pessoas formadas e a trabalhar na genentech, imagina como será com a população negra a viver no sul...

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    7. Luna… Exagero é responderes-me a um comentário sobre a frivolidade dos óscares mencionando o “abate de crianças negras enquanto andam na rua” e a um triz de me pores palavras na boca… É mesmo a isto, a esta atitude, que me refiro.

      (Quanto ao resto… Estás a falar exactamente de quê e porquê? Eu comentei um post em que referes explicitamente a “nossa blogosfera” e é unicamente a esse contexto que eu me refiro. Honestamente, disse-te que o que não gosto (e me cansa, lamento, imagino que te custe ouvir porque vejo o quanto te esforças por passar a mensagem, mas cansa-me) na tua (por exemplo) abordagem a alguns temas é o exagero do discurso (a tal escalada desproporcional na argumentação). É o que sinto. Não é para concordar, nem discordar, é assim. É o que sinto e que quis partilhar contigo porque tu abordaste o tema, é a minha opinião (que vale o que vale e que podes embrulhar muito bem embrulhadinha e deitar ao caixote do lixo.). Não comentei por mal.)

      (Ainda sim, como deves calcular o “à força” não é para ser levado à letra nem eu me estava a referir à atitude dos diretamente envolvidos (que, como quase sempre, são bem mais moderados do que os que lhe tomam as dores). Não vi em lado nenhum (cá no nosso burgo, bem entendido) ninguém dizer que foi muito injusto porque nem A, nem B, nem C, todos “negros” , foram nomeados nas categorias 1, 2, 3…. Não. O que vi foi gente indignada porque nenhum “negro” fora nomeado para os óscares. Ponto. Ora, que eu saiba ser “negro” não é critério para a nomeação na indústria cinematográfica. E se esta abordagem não é, implicitamente, exigir quotas… Bom, se não é, está lá muito perto.)
      Finalmente, sei que há racismo nos EUA, nem ponho isso em causa. Há-o em qualquer parte do Mundo e, sim, há que combatê-lo. Nunca me verás a dizer ou a sugerir o contrário. Há é métodos (e discursos) mais eficazes para agregar que outros.

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    8. NM, não pretendi pôr-te palavras na boca mas exemplificar como há sempre alguém para quem é tudo exagero - e fi-lo com recurso a um exemplo concreto durante este debate, a desvalorização do abate de uma criança face a outras prioridades, e negação da sua causalidade, e que não vi ninguém "moderado" criticar. Isto porque me parece que não ha causa que nao vos mace, independentemente da proporção. Poderei estar a ser injusta, mas só vejo combate activo quando discordam, e nunca uma palavra de apoio quando concordam.

      (Quanto aos possíveis nomeados, o texto que postei do George Clooney refere alguns; li outro do Michael Caine que desvalorizava a cena mas que achava que o Idris Elba estaria nomeado; no video que postei parodiam a nomeacao de stallone em creed, e a nao nomeacao de idris elba em beasts of no nation; o que nao faltam sao exemplos de possíveis nomeações por quem se manifestou sobre o assunto. Por cá é natural que ainda não se possa dar esse tipo de opiniões pq nem todos os filmes estrearam ainda, se não me engano.)

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    9. Fogo, mas eu já aprendi muito contigo. E leio o que escreves e reconheço-te valor e, principalmente, generosidade na partilha daquilo que sabes. Só que às vezes vejo que as pessoas te reagem mal pelo mesmo motivo que eu reagi em tempos idos. (Acho, acho hã! - opinião, que é aquela coisa de entrares logo a pés juntos que cria animosidade no outro e que dá vontade de responder de volta com três caneladas e um murro seco no estomago, e em menos de nada entra-se numa conversa de surdos em que já não se sabe muito bem o que é que o outro efectivamente disse, até porque se leu na diagonal o que ele escreveu tal a ânsia de responder). E custa-me, porque também já eu te apontei uma arrogância que agora acho mesmo que não tens. Acho que é só a tua forma de te expressares que para quem não te conheça pode soar tremendamente dura e sobranceira (opinião, obviamente e outra vez).

      (De resto, eu também tenho as minhas causas. Não é por não falar nelas no blogue que significa que não as tenha. Agora, por exemplo, tenho o blogue parado porque estou a 110% activamente envolvida numa. Na minha. Naquela que eu escolhi. Não podes interpretar o silêncio, no teu raio de acção, como indiferença. Não é, de todo, justo.)

      Fica bem.

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    10. Para terminar, deixa-me só fazer um esclarecimento de algo que foi mal interpretado e referido várias vezes: eu nunca comparei a cena da barbearia ao apartheid, disse diferentes coisas em resposta a diferentes comentários que estão a ser fundidas num só: 1) disse sim que foi o que me fizeram lembrar os cartazes; 2) ao aventar que poderia "abrir mais uma, depois outra" respondia a um comentário que dizia que não deveríamos ligar, e eu perguntava a partir de que numero seria legítimo reclamar.

      (Acho muito bem que tenhas as tuas causas, e que não possas abraçar todas - eu também não consigo. Mas há uma diferença grande entre eu, pessoalmente, não abraçar a tua causa, ou criticar e activamente combater a dedicação à mesma. E é isso que eu vejo acontecer. Eu percebo que haja quem ache que a barbearia é um não assunto, que são uns imbecis a quem não vale a pena ligar. Já percebo menos que essas mesmas pessoas que acham que não vale a pena criticar imbecis desvalorizando a sua horrenda sinalética, activamente critiquem e ridicularizem quem ache o contrário e os resolva criticar mais a sinalética.)

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    11. Mas Luna, esse é o preço de se querer mudar o Mundo. Com palavras. Escritas. Unicamente escritas. Se tens a certeza que o teu caminho é esse, terás de endurecer a couraça. É o caminho mais difícil de todos. Porque somos muitos. E cada um com a sua razão. E passado.

      Eu sinto-me mais útil a mudar o “meu bairro”, vejo as coisas a acontecerem logo. Tenho outras armas além das palavras. Sei que se me empenhar faço a diferença. Logo ali. Intervenho a uma nano escala, é certo, mas sei que consigo fazer a diferença. É uma escolha e tenho a certeza que se todos olhassem para e pelo vizinho tínhamos um Mundo melhor.

      É um bocado aquilo de pôr o foco no problema ou na solução.

      Enfim, escolhas.

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  8. Luna,
    Pessoalmente, quando me refiro à "forma", faço-o porque sinto muitas vezes que a postura é arrogante (e repara que não acho que tu, pessoalmente, sejas arrogante), como se os outros outros, por pensarem de forma diferente ou por agirem ou expressarem de forma mais moderada, o fizessem apenas por ignorância. No fundo passam sistematicamente um atestado de burrice a quem ainda não "viu a luz"... e isso, como é óbvio, afasta. Como se aquele que contribuísse com cinco euros para uma causa fosse indigno face ao que contribui com quinhentos. E quando eu, pessoalmente, falo em agregar vontades, faço-o no sentido de juntar os cinco com os quinhentos, que sempre passam a quinhentos e cinco, mas a verdade é que, nestas discussões que se têm gerado, quem dá os cinco quase se sente indigno, tendo, aliás, de se defender de tamanha vilania. É que uma coisa é falar dos assuntos, trazê-los à colação, dar-lhes visibilidade, outra, muito diferente, é atacar os outros (vide a troca de comentários com a Cláudia Sofia, no blog do Pipoco...), os que eventualmente vos podiam acompanhar (a trote, em vez de a galope...), mas que, ao invés, são activamente menorizados. E ninguém gosta de ser menorizado. Aqui também podia dizer "isto devia ser óbvio, mas não é".

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    1. Palmier, já no outro dia no teu blog, quando disseste algo semelhante, pensei no que te vou agora responder e depois passou-me. Da mesma forma que tu achas que quem é mais moderado é desprezado, eu vejo o oposto, uma constante necessidade de afastamento e diferenciação relativamente a quem é mais activo, um gozo constante, uma atitude muito mais hostil, e que se reflecte por exemplo na necessidade de se afirmar que se acredita em igualdade de direitos, mas não se é feminista, referindo-se de forma quase sempre pejorativa "às outras". E parece-me uma atitude muito mais radical nesse sentido, e os ataques geralmente muito mais "violentos", como poderás constatar por certos episódios passados e não tão passados assim.
      E depois, por vezes, há mesmo ignorância, desconhecimento de números, dados, etc. por trás de certas opiniões, pelo que a discussão passa necessariamente por fornecer informação para que do outro lado se possa decidir em posse dos dados - dando um exemplo fora da temática feminismo/racismo, já tenho tido imensas discussões com pessoal anti-vacinas, cujos pressupostos e opiniões são fruto de profunda ignorância e baseados em informação completamente falsa, sem qualquer base científica. Como acho que só muita ignorância pode levar a que alguém afirme não existir disparidade salarial entre sexos, baseando-se em teorias de mercado tão simplistas que dá dó, ignorando dados, estudos, e factores tão importantes como percepção de competência, etc., porque em certos casos, para que se afirmem certas coisas, a alternativa à ignorância só pode ser pura má fé. E não acreditando que do outro lado haja má fé, não vejo o dar exemplos e fornecer informação como forma de menorizar, mas antes de pôr o outro em pé de igualdade no que respeita ao conhecimento e informação sobre determinado assunto.
      De qualquer forma, não acredito que se consiga agregar os negacionistas, independentemente do método, porque estão demasiado empenhados em negar.

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    2. Acredito que sim, que te sintas muitas vezes atacada (mas eu , deste "lado" - e estou convencida que não sou a única-, também sinto. Quase como se fôssemos piores pessoas...), e admito que, talvez por isso, acabes por pôr todos quantos não galopem à tua velocidade, no mesmo saco, que nos rotules a todos como negacionistas e que, conforme dizes no teu ultimo parágrafo, não acredites que valha sequer a pena tentar agregar. No fundo não deixa de ser irónico... é que, na busca da inclusão, acabam muitas vezes por ser as primeiras a excluir...

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    3. Não acho essa tua conclusão justa, não acho que sejamos nós a excluir. Acho sim que há pessoas que é impossível agregar porque simplesmente não querem e se recusam. E não podemos obrigar ninguém - aliás, somos presos por ter cão e por não ter: por um lado acusam-nos de tentar obrigar, por outro de excluir. E neste grupo estão os negacionistas. Como é que podes chamar alguém a uma causa, se nega que seja uma causa?

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    4. Luna, é um circulo vicioso. Alguém tem de o quebrar :)

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    5. Não é possível quebrar quando há recusa a diálogo factual e discussão séria, e não nos podem acusar de recusar debate, pelo contrário. Acontece que também o debate é contrapoducente, porque é visto como "bater na mesma tecla" e isso também afasta. Dar opiniões não chega, dar exemplos concretos, também não chega, mostrar estatísticas, não são fidedignas, apresentar dados inequívocos, é demais, porque se está a insistir. Simplesmente não há forma de acertar.

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    6. Pronto, então não há solução... (mas é pena).

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    7. Acho que é preciso haver mais abertura (de ambos os lados). E que do lado dos "moderados" haja postura mais activa quando concordam, e não apenas de combate e distanciamento e falta de paciência quando discordam.

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    8. Yay! Voto nisso - mais abertura de ambos os lados! Acho que é de facto o que faz falta :)))

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  9. Discordo, Palmier. Eu, como mulher e feminista, não tenho de tolerar os dislates sexistas. Quem quer ver mudanças, não tem de tolerar imbecilidades como "na NBA não há brancos".

    A Palmier afirmava que o feminismo não era necessário, já que o progresso é imparável. Basta ver o que sucedeu em Colónia, basta ver o que Rajoy queria fazer com a lei do aborto, basta saber que, nos anos 60 e 70, as mulheres andavam de saias curtas no Afeganistão, no Irão, etc. O progresso não é irreversível, desde 2001 que tal deveria ser claro.

    A Disney considera que um homem que realizou um filme serve para a Marvel, mas não uma mulher, mesmo que esse filme seja sobre o nascimento de uma flor.

    A realizadora do primeiro Twilight foi despedida, já que consideraram que a mulher que transformou a franquia num sucesso não era boa o suficiente.

    Em 2015, temos duas candidatas presidenciais. Os histéricos do costume já vieram menorizar as candidatas.

    Uns e umas idiotas gozaram com a lei do assédio, afirmando que quem não quer ser assediada, não mostra as mamas, mas, depois, criticam o mesmo pensamento nos muçulmanos.

    A Claudia não foi menorizada. Menorizada seria se fosse chamada de imbecil por defender que as mortes de homens negros não aconteceram por eles serem negros. Em vez disso, a Izzie e a Luna argumentaram.

    Já agora, o que seria uma postura moderada parante alguém que, do alto da sua arrogÂncia, manda as feministas puta que as pariu? Deveríamos explicar-lhe com gentileza que as nossas mães não eram putas?

    Lamento, reagi como uma selvagem e também a mandei puta que a pariu.

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    1. Filipa, é claro que a Cláudia não foi menorizada. A arrogância não diminui terceiros, apenas o seu portador. A Cláudia foi tratada com arrogância, sim. "vou só dar-lhe duas palavras...", "Já ouviu falar em...","Cláudia, temas para pesquisar: ...", "Até lhe vou dar um trunfo...", "a bem da abertura do debate...", "Já agora, food for thought...". Só faltou dizer-lhe aprende que eu não duro sempre.
      A própria Izzie reconheceu que, depois de ler o que escreveu, percebeu que podia ser interpretada nesse sentido.
      Diz que a Izzie e a Luna só argumentaram. Aqui, novamente, se coloca a questão do método de que a Luna fala. Há uma diferença muito grande em dizer, por exemplo, "Li este artigo e..." ou "Há um artigo que reflecte o meu ponto de vista/que considero muito pertinente..." e dizer, "Já agora, leia isto..." ou "por acaso conhece/já leu/ouviu falar...". As primeiras são, a meu ver, atitudes de quem quer abertura e inclusão, as últimas serão de quem, com desdém, se arroga de superioridade intelectual em relação ao interlocutor.

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    2. Bem, se a Marta considera food for thought arrogante, então não sei, parece-me dos termos mais inclusivos que conheço, vamos lá pensar nisto, e usei-o com esse intuito. Mas cada um vê o que quer, e como já se sabe, a arrogância é só de um lado, porque do outro é só rosas, e sem espinhos. Aliás nem há melhor maneira de mostrar abertura do que começar logo por dizer que não se tem paciência. Só que não.

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    3. Luna, quando alguém diz que lhe falta a paciência está a reconhecer um handicap próprio, não o está a apontar a terceiros. É como dizer "não me consigo fazer entender" e "não percebes". Em ambos os casos estamos perante uma falha na comunicação, numa mensagem que não está a passar, mas reflectem posturas diferentes. Eu até posso estar perante uma pessoa "burra como os calhaus", mas é menos hostil dizer que não me estou a fazer entender (porque, por exemplo, não estou a usar um discurso adequado às capacidades cognitivas, e não se trata de condescendência, trata-se apenas de nos adequarmos à capacidade/realidade do nosso interlocutor), do que dizer-lhe "não percebes nada".
      No mais, sobre métodos e discursos, cada um com o seu. Até agora não ando insatisfeita com resultados que no dia-a-dia tenho obtido com o que uso, como acredito que a Luna use o que considera mais adequado. São estilos, como na natação, diferentes, uns mais complexos outros mais simples, todos me permitem chegar ao outro lado da margem.

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    4. Não percebo o que é que a Filipa quer dizer com "não tem de aturar" nem quais são os "dislates sexistas" a que se refere. Mal estaríamos nós no dia em que as pessoas não pudessem manifestar as suas discordância sem serem chamadas de imbecis ou acusadas de dislates sexistas que os outros não têm de aturar. (O que ainda por cima é falso, já que, efetivamente, tem mesmo de aturar. É a vida e essa chatice de uma outra causa não menos válida que é a liberdade de expressão)

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    5. Filipa, se quer passar a sua mensagem atirando um pano encharcado à cara do seu interlocutor, pois que está no seu direito...

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    6. É este tipo de discurso (da Filipa) que impõe ao invés de negociar e debater, assente em premissas que eu acho altamente questionáveis, ao invés de ser assente em dados objectivos, que me faz revirar os olhos. Não tenho paciência, lamento.
      (e é uma pena o movimento ser conotado com este tipo de mensagem, na minha opinião, claro)

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  10. No que respeita ao tópico dos oscares, não sei se é racismo ou não porque tenho ido pouco ao cinema e ainda não percebi quais são os filmes que deveriam estar nomeados e não estão. Há um passado recente em matéria de atribuição de oscares a actores negros e esse passado faz com que não seja lá muito justo partir imediatamente do princípio que este ano há uma discriminação que não parece ter havido em anos anteriores.
    Quanto ao tema do post, propriamente dito, há uma coisa que me parece importante dizer: é muito difícil a quem está mais informado sobre um determinado tema (ou crê estar mais informado) expô-lo numa caixa de comentários de um blog, sem parecer arrogante. Já constatei esse tom nalguns comentários meus e foi completamente involuntário. Por outro lado, também que me parece da natureza das coisas que quem assume um combate por uma mudança, seja ela qual for, tenha um discurso que aos outros, por comparação, soa a radical. Como disse, é a natureza das coisas.
    A crítica que fiz acima prendia-se apenas com os movimentos feministas e com a sua inabilidade para vender uma ideia que todas as mulheres deveriam querer comprar. Não estava a criticar a Luna, de quem muitas vezes discordo - sobretudo nos episódios onde lê sintomas de discriminação - mas a quem reconheço o mérito de gastar energia a manter um blog que utiliza para defender aquilo em que acredita. É mais, muito mais, do que faz a generalidade das pessoas. Reconheço-lhe ainda o mérito de ainda supor que estas discussões blogosféricas têm alguma eficácia. Não é a minha convicção, que nunca consegui converter ninguém a nada numa caixa de comentários, mas admiro-a quando a vejo nos outros.
    No que respeita, novamente, ao assunto feminismo no geral, quem quiser ver resultados práticos e avanços civilizacionais nessa matéria, tem de começar por dissecar a natureza da discriminação e assumir que, no mundo ocidental, as próprias mulheres (educadoras dos filhos) têm um elevadíssimo nível de responsabilidade na discriminação de género. A própria violência doméstica, para ser resolvida, necessita de uma abordagem em que se possa discutir, sem pudores nem tabus, a contribuição da própria vítima e a dinâmica de violência verbal e psicológica em que assenta a comunicação entre muitos casais.

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  11. Luna, declaração de interesses: aprecio a energia que coloca na discussão e surpreendo-me sempre com a sua generosidade para com tipos como eu, que aligeiram a conversa e nem sempre estão na discussão com a mesma urgência de resultados com que está a Luna.

    O que eu aprendi nisto da argumentação é que a energia deve ser toda colocada no resultado a que queremos chegar e não na intensidade da doutrinação. O foco no resultado é muito mais difícil, implica o trabalhar da mensagem, implica negociação, o que é muito mais trabalhoso que recolher estatísticas e informação mais ou menos densa e dispará-la para quem queremos ajudar a ver a luz, dizendo-lhe "toma lá isto, aprende".

    É isto que lhe falta, foco no resultado em vez do foco no problema em si. A meu ver, claro...

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  12. Luna, parece-me que este seu desabafo me é, pelo menos em parte, dirigido. Pelo menos encontro aqui algumas expressões que eu própria usei recentemente, peço desde já desculpa se estou errada.

    Antes do mais acho que se pode e deve falar sobre tudo. Ainda bem que vivemos numa sociedade onde tal é possível, sem medo de represálias ou ameaças físicas (pelo menos perante a lei).

    Em segundo lugar asseguro-lhe que acho a discriminação com base na cor da pele, sexo ou orientação sexual intolerável. Asseguro-lhe também que tenho plena consciência da vantagem que a sorte me deu, em ter nascido mulher europeia ao invés de saudita, por exemplo. Em ter nascido Lisboeta central e branca de pele ao invés de negra no bairro 6 de Maio ou nas Marianas. Está a ver a ideia, certo? A vida foi-me muito mais fácil por isso. Pura sorte. Do mesmo modo, acho o assédio sexual inaceitável.

    O que lhe queria dizer é que partilho de muitas das suas ideias e convicções. Mais... admiro a forma persistente como a Luna luta pelos seus ideais. A Luna tenta mesmo deixar o mundo um bocadinho mais justo do que o o encontrou e usa o seu tempo nisso. Já é mais do que aquilo que eu faço, não tenha dúvidas que lhe reconheço esse mérito.

    Agora o que nos afasta. Ou melhor dizendo, o que me afasta do discurso feminista e que me faz revirar os olhos é, como a Cuca disse lá atrás, o exagero e radicalismo que vejo frequentemente em muitas acçções. A falta de parcialidade e o recorrer a números que me parecem do mínimo pouco objectivos. Caramba, isso afasta-me, perco imediatamente a paciência e o meu primeiro pensamento é "lá estão outra vez aquelas com a cassete da vitimização"
    Agarrem em causas objectivas e terão todo o meu apoio. Mas por favor não exagerem porque perdem toda a credibilidade. Isto é mesmo o que penso e olhe que há mais gente, muita gente, a pensar como eu. Não seria melhor agregar esta gente em vez de lhes provocar um revirar de olhos?

    Vou dar-lhe exemplos práticos de método errado (na minha opinião, que vale o que vale):
    1- Protestos que podem perfeitamente ter outras causas cuja explicação não seja a discriminação:
    A) Vide o caso da BD. Eu não percebo nada de BD. Ainda assim tenho variadíssimos livros de BD. Todos escritos por homens. Não me espanta mesmo nada que ao quererem distinguir um prémio de carreira só tenham escolhido homens. A Luna pergunta se não há nenhuma mulher que tenha feito algo pela BD, que tenha de alguma forma contribuído para a melhorar. Estou certa de que há. Acontece que eu pergunto "quais os 30 que mais fizeram pela BD?". Sem género. Estou a fazer-me entender? Pode perfeitamente não ter sido discriminação...

    B) Idem para os Oscars. Confesso que ainda não vi a maior parte dos filmes mas, olhando para o passado, já vi gente negra ser nomeada. Vejo negros em leading rolls. Lembro-me de Morgan Freeman, Denzel W., Will Smith... Lembro-me de séries com imensa audiência como a Anatomia de Grey ou Private Practice onde gays e negros têm papeis principais. E isto só mesmo para dar alguns exemplos.
    É racismo? Ou será que este ano não houve nenhum negro com um papel merecedor de nomeação?

    2- Generalizações que eu considero abusivas:
    A) Comparar os cartazes feitos pelos imbecis da barbearia ao apartheid. Caramba Luna! Ao apartheid? Onde os negros tinham menos direitos que os cães? Dizer que depois desta, poderia abrir outra? E Outra e outra?
    Não bastaria dizer que os tipos eram uns imbecis? Ou melhor ainda... Ser mais inteligente e não dizer rigorosamente nada porque o que eles queriam era publicidade, que obtiveram em larga escala graças não a eles, mas aos protestos?

    (continua...)

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  13. (continuação...)

    2- Generalizações que eu considero abusivas:
    A) Comparar os cartazes feitos pelos imbecis da barbearia ao apartheid. Caramba Luna! Ao apartheid? Onde os negros tinham menos direitos que os cães? Dizer que depois desta, poderia abrir outra? E Outra e outra?
    Não bastaria dizer que os tipos eram uns imbecis? Ou melhor ainda... Ser mais inteligente e não dizer rigorosamente nada porque o que eles queriam era publicidade, que obtiveram em larga escala graças não a eles, mas aos protestos?

    3- Discursos errados
    Chamar piropo ao assédio sexual. Querer pôr do mesmo saco um "ó boa" (simplesmente mal educado) e um "lambia-te essa c** toda". Se falassem em assédio toda a gente diria sim. Assim a coisa foi só ridicularizada.

    Estou a conseguir explicar porque é que eu acho que o discurso hostiliza em vez de agregar?

    Depois há o modo como algumas coisas são ditas. Sinceramente não gostei de ver a maneira como a Cláudia foi tratada da caixa de comentários do Pipoco. Ela foi sempre correctissima, em sempre uma postura humilde e foi tratada com soberda e arrogãncia, de tal maneira que a Izzie lhe foi pedir desculpa à posteriori.
    Mas eu também sei que o discurso escrito é passível desta interpretação, sem gestos e tom de voz as coisas podem soar mais duras e agressivas apesar de não ser essa a intenção. Mas às vezes soam e isso é um problema quando a intenção e agregar pessoas. Pura e simplesmente não vai funcionar, o outro lado pode sentir-se ofendido por estar a ser tratado como o ignorante que ainda não viu a luz.
    (e atenção que não estou a dizer que vocês são agressivas, estou a dizer que o discurso escrito pode parecer arrogante, é diferente).

    Acho que é isto. Bom fim de semana.

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  14. Confesso que tenho alguma dificuldade em entender de que forma é que o feminismo se deveria saber vender. Não sendo uma marca (e portanto não tendo serviço de marketing) nem tão pouco um partido político, a quem é que caberia o papel de o marketizar para as massas? Se nem o próprio feminismo é unitário e se existe tanto debate interno (por vezes aceso, que existem certas correntes feministas que partem de pressupostos incompatíveis em certos temas como a pornografia ou a prostituição, ou questão da inclusão de homens no movimento) não sei mesmo quem é que deveria saber "vender" o feminismo e que tipo de versão feminista deveria ser vendida.

    O problema em tornar uma ideia apelativa para metade da população é que ela tinha que ser despida das suas complexidades todas e do tal debate interno (que a meu ver não é de todo uma coisa negativa, o feminismo é aliás um dos movimentos mais auto-refletivo que existe) e restar só o mínimo denominador comum capaz de agregar todas as mulheres. Sendo que muitas mulheres contribuem também para a discriminação (porque internalizaram as coisas como elas são), sendo que muitas nelas negam sequer que haja um problema, sendo que outras tantas nunca pensaram a sério sobre se existe ou não problema, esse mínimo denominador comum seria uma coisa muito insípida e sem força nenhuma para mudar o que quer que fosse.

    Acho que o caminho é mesmo continuar a falar das coisas, não partir do pressuposto de que há coisas óbvias - porque cada pessoa tem o seu próprio caminho de auto-informação e auto-aprendizagem e todos temos que começar por algum lado -, e não ir aprendendo as formas mais eficazes de passar a mensagem.

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    1. DS, pois se ainda não percebeu porque é que o feminismo tem necessidade de se vender como ideia, não serei eu que conseguirei explicar-lhe.

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  15. Epá. Um gajo deixa uns comentários, é um gajo subscreve. Entretanto um gajo vai à sua vida, e de repente um gajo tem um horror de mails de notificações. Um gajo lê, um gajo nota que lhe andam a gastar o nick, e nem por isso para dizer coisas fofas. Um gajo pensa "vou lá partilhar uma coisa mesmo muito pessoal, uma história que nunca contei, uma cena que se calhar explica porque um gajo se zanga tanto com certo tema", mas depois um gajo tem de sair para ir votar e, de caminho, almoçar umas pataniscas com arroz de feijão num tasco familiar de bairro. Entre pedir e esperar o prato, um gajo dá uma olhadela ao mail e espanta-se, que continuam a gastar-lhe o nick, e isto gente com quem um gajo não se dá, não conhece nem faz gosto em conhecer, mas que tem tantas certezas sobre as qualidades pessoais de um gajo. Um gajo pensa que se calhar não é este o público com quem partilhará bocados de si. Um gajo entretanto vai aviar umas cenas ao lidl, de onde um gajo sai em estado zen, porque o ritter sport estava com 50% de desconto, e pensa que se calhar até sim, mas antes um gajo arruma as compras, calça as galochas e vai maturar a ideia enquanto mangueira o pátio e apanha mais uma frutinha. Finalmente um gajo descalça as galochas, volta a ver o mail e fica assim num aifodase, e antes que decida está ali um indivíduo a enfiar o bluray do mad max, daqui a nada já falamos. Um gajo passa duas fantásticas horas, um gajo fica de barriguinha cheia e a pensar putaquepariu que um septuagenário ensinou muito michael bay como se faz, e sim, um filme de acção pode ter miúdas, é um gajo agora tem de ir ali por umas coisas ao lume e na bimba, logo que acabe isto é o cigarro. E entretanto passou-me. Vontade, o tema, etc, porque se continua a discutir pessoas e as suas menos excelsas qualidades, a necessidade de contratar directores de marketing para movimentos de defesa e promoção de direitos humanos (epa, alguém se meta numa máquina do tempo e dê um heads up ao MLK e Ghandi, talvez sejam mais cordatos e evitem um balázio), e nestas condições não vale a pena explicar porque um gajo entende tão bem a fúria de certos grupos de pessoas, quando ainda há quem pense e defenda que pode haver uma boa explicação para um polícia abater uma criança com uma arma brinquedo, ou ninguém acredita que um tipo muito bem disposto violou tantas mulheres com recurso a roofies, ou acham que não há motivo para indignação perante um Oh boa. E a arrogante sou eu. Na boa, que ao menos está arrogante ainda é capaz de voltar atrás e reconhecer que pode ter transmitido uma ideia de forma errada, ou ter se excedido. Tomara aqui muitos dos que gastam o nick à arrogante poderem dizer o mesmo.

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    1. Dado que eu fui uma das duas pessoas que referiu o seu nick sinto-me compelida a reafirmar que não teci qualquer consideração a seu respeito ou acerca das suas qualidades ou falta delas.
      Limitei-me a falar de um tom de discurso que me soou arrogante, dizendo logo em seguida que o discurso escrito se pode prestar a estas interpretações ainda que não seja essa a intenção do autor.
      Não sei se era ou não e para falar com franqueza estou-me completamente nas tintas. Mas, quem tenta fazer os outros mudar de opinião, deverá ter a sensibilidade suficiente para os convencer ao invés de os rebaixar.
      As minhas desculpas por ter incomodado um gajo.

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  16. A Cuca percebeu bem o que eu quis dizer, mas apeteceu-lhe dizer que não.

    Quando digo que não tenho de tolerar dislates, refiro-me ao direito de não reagir com graça e gentileza quando alguém me manda puta que pariu outras quando um homem decide emitir comentários falaciosos e paternalista.

    Ironicamente, quem manda puta que pariu não é questionado, mas o meu discurso é que é usado como exemplo de radicalismo.

    Muito me apraz que a Picante não aprove o que digo. Ficaria preocupada se o fizesse.

    Apontei exemplos de discriminação. Se não os querem ver como tal, é uma escolha. Só não podem exigir que os factos concordem com a vossa escolha.

    E volto a dizer: a Luna e a Izzie aguentam muita idiotice, muito man-explaining e, mesmo assim, respondem com educação. Admiro-as, mas acho que respeitam quem não merece.

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