12 de fevereiro de 2016

Fartar vilanagem

A propósito deste artigo, e da forma como os trabalhadores têm vindo a ser, ao longo dos anos, cada vez mais mal tratados e despidos dos seus direitos, lembrei-me de duas lindas histórias passadas neste lindo quintal à beira mar plantado, de que me apercebi recentemente, e que ilustram bem a aldrabice que por cá reina.

Cá por coisas fui-me apercebendo de anúncios de emprego por parte de certa empresa, anúncios esses mencionando sempre experiência de pelo menos 3 (!!!) a 6 (!!) meses como factor eliminatório. Ora, serei certamente estranha por achar que 3 meses de experiência não é lá grande coisa e não muito diferente de falta de experiência, que ninguém entra para um novo emprego totalmente ensinado e que havendo capacidade de aprendizagem e formação por parte da empresa, nada impede que alguém sem experiência possa vir a desempenhar competentemente as funções num curto espaço de tempo. Mais, se nunca mas nunca vi anunciadas posições naquela função sem a exigência de experiência de nem que seja 3 meses, como será possível começar a trabalhar na área? Começando por lavar escadas na empresa até nos darem uma oportunidadezita? Enfim, dúvidas, dúvidas. Até que me apercebi do esquema. Afinal há forma de poder começar a trabalhar naquela empresa, não é fácil, mas é possível. Basta ter 1500€ e pagar a formação de 50h, numa turma de 20 pessoas. E depois, se tivermos a sorte de estar entre os 3 melhores alunos, poderemos ter a fantástica oportunidade de fazer um estágio profissional do IEFP na mesma empresa, que entretanto sacou 30000€. Estágio esse pago em parte (metade?) por todos nós. E também pelo estagiário que pagou para ter a formação que à partida uma empresa deveria fornecer aos seus trabalhadores. Não é absolutamente espectacular?

Também espectaculares são os cursos de formação profissional para desempregadas na indústria têxtil, que consistem de facto em cerca de um mês de formação, para aprenderem a trabalhar com os teares e coiso, seguidos de 8 meses de trabalho a tempo inteiro lá na fábrica - mas está lá um formador! A fábrica ganha mão de obra à borlix, enquanto nós pagamos o subsídio de desemprego das "formandas" até acabar o curso e ir outra fornada. É tanta espectacularidade que nem sei bem por onde começar.

18 comentários:

  1. Em Portugal, não se encontram condições de trabalho... faz-se os possíveis para lixar o trabalhador e contornar os seus direitos. E essa merda do IEFP não serve para nada, são só mais uns chulos.

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  2. E entretanto vai-se reduzindo a taxa de desemprego e fingindo que isto está a melhorar.

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  3. A partir do momento em que se criou o "incentivo" à contratação, que são os estágios subsidiados pelos IEFP, pumbas, apareceram logo uns espertos prontos para sacar umas massas valentes ao erário público e trabalho de borla ao estagiário. A maioria dos "empregos" que se anunciam têm como requisito essencial a inscrição no centro de emprego e elegibilidade para estágio subsidiado. Maravilha, pá. Passados uns meses vão estes estagiários para a rua e vai outra fornada, e assim por diante. É o empreendedorismo.

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  4. Tudo isto que referes é somente a ponta do iceberg.

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  5. É vergonhoso o aproveitamento do desespero das pessoas. Claro que pode imaginar-se a qualidade dos estágios...

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    1. Há coisas que eu acho que nem devem ser bem legais, mas também não sei como se pode denunciar.

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    2. O problema começa na cobertura que as próprias leis dão a esse tipo de vigarices. Vale tudo para baixar as estatísticas do desemprego.

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  6. Autoridade para as condições de trabalho? Tribunal do trabalho? N sei bem. Há uns anos, qd saí da fac indignavam-me os "estágios curriculares", já me soava a escravidão disfarçada. Mas isto e outras porcarias q vou vendo hoje ultrapassam tudo o q vi na altura. É repugnante. E o q mais repugna é a ausência de fiscalização para caçar mais máfias destas, mesmo depois de aparecer nas notícias.

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  7. Primeiro, a partir do momento em que se paga para as empresas fazerem o favor de aceitar pessoas a trabalhar para elas e a produzirem, corremos todos os risco de ver aldrabices e xico-espertismo. Segundo, para mim, um estágio não é um emprego. Por isso, não percebo por que razão estágios entram para as estatísticas da taxa de desemprego. Um estagiário parece estar num nível de precariedade totalmente novo no contexto da precariedade portuguesa.

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  8. Bem, agora percebi como a taxa de desemprego tinha descido, algo que vi recentemente ter aumentado novamente.
    Primeiro pensava que era por ter havido tantas pessoas a sair do país e procurar fora o que não encontravam cá. Aliado a isso, estavam as pessoas (às quais me insiro) que não recebendo qualquer ajuda do Estado se teriam cansado de ser chamadas para supostas "formações" para arranjar mais facilmente emprego. Agora entendi que além destas duas realidades que conhecia também temos os estagiários (quase escravos) a diminuir a taxa de desemprego. Este é o país vergonhoso (e tenho muita pena de dizer isto) que temos e ainda vai piorar nos próximos meses vendo as medidas que este governo está a tomar (sem pensar nas consequências).

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  9. Já passei por algumas dessas situações. Nunca paguei para trabalhar, mas já trabalhei 12h a ganhar 150€ por mês e fiz estágios a 300€. Há para aí muita escravatura camuflada...

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  10. Bem vinda ao mundo de f-d-p s, tanta porcaria que tenho por conhecimento direto e de amigos, que não vale a pena falar. deste um caso de escola e que infelizmente é real.

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  11. Parabens por ter acordado. O soninho foi bom?
    (vá, digam agora que isto são consequências da austeridade, da governação da coligação e tal)

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  12. Epah...esse primeiro caso, se não é de uma empresa que em tempos também pensei que seria um bom local de trabalho, pelo menos tem o mesmo modus operandi...
    Então e uma pessoa desempregada, que não recebe absolutamente nada (e por isso não tem obrigações para com o IEFP), que se inscreve numa formação ministrada pelo IEFP a pensar que ia realmente aprender alguma coisa e depois das 2 primeiras aulas (dá-se sempre um desconto à primeira) vê que aquilo é uma autêntica bandalheira?!

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    1. Uma empresa começada por E e acabada em L? Pois, só depois de mandar várias candidaturas (a anúncios no portal do IEFP) é que percebi como funcionava.

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    2. Ai que só agora é que me lembrei de vir aqui!
      A empresa a que me refiro acaba em S (está no plural). Se for uma CRO é de certezinha a mesma...
      Eu já me convenci que emprego na nossa área em Portugal só se formos filhos/afilhados de alguém importante. Notas acima da média? Isso não serve para nada...

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    3. Sim sim, é no plural. :)

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