17 de fevereiro de 2005

Jet Lag


Jet Lag - Anglicismo. Fenómeno que exerce efeitos sobre o sono, verificado após um vôo em que se atravessaram vários fusos horários.

Sofro de um gravíssimo efeito de Jet Lag desde o início desta semana. Até hoje nunca tinha sentido os seus efeitos, nem dava grande importância quando ouvia alguém falar dele, pensando secretamente para mim mesma que a sua referência se tratava apenas de uma forma dissimulada de mencionar uma viagem a terras exóticas ou tropicais com grande diferença de fuso horário. Estava na moda: “Ai, tou de rastos com o Jet Lag, mas a viagem às Maldivas foi super gira! Um must!” e era uma forma de esfregar subtil/descaradamente na cara dos pares sociais o poder económico e as viagens de sonho, bem ao estilo da Caras.

Nunca, nas viagens que fiz, sofri de semelhante sintoma. Talvez pela vida desregrada e sem horários que levei nas mesmas, talvez pela idade, ou simplesmente por não pensar nisso. Até quando fui à viagem de pseudo-finalistas a Cuba, com -5 horas de diferença de fusos e após horas absurdas de viagem (cerca de 24 entre avião e autocarro – mais de 8 horas para poupar 10 contos! – no regresso), não senti nada em particular além do cansaço normal, nada de sonos trocados ou quaisquer que sejam os sintomas da coisa. Cheguei, dormi e fiquei fresquinha e pronta para outra.

Até esta semana, em que o cansaço se apoderou de mim, onde as horas de sono se confundem com as horas despertas, e os dias parecem virados do avesso, apesar de não ter mudado de meridiano nos últimos tempos. A causa? A vida ociosa, sem horários nem despertadores, vivida deliciosamente nos últimos tempos, em que era tão normal dormir depois das 4 da manhã como acordar depois da 1 da tarde.

Contando o tempo de desemprego, desde o final do curso, 3 meses. O tempo de escrita do relatório de estágio, feito principalmente à tarde e à noite, mais 2. O estágio, ah… contei-vos que fiz estágio em Erasmus? Pois é, logo de início perguntaram-me no laboratório: “Cosa vuoi fare, vuoi lavorare o fare l’Erasmus?” – escolhi fazer Erasmus. Mais 5 meses. Antes o projecto, tinha de ir à faculdade 1 vez por semana, outros 6 meses. Contando com férias e afins, há cerca de ano e meio que não uso despertador regularmente e durmo conforme a vontade e a ronha. Vida (quase) tropical, desfasada da realidade.

Resultado: o ar de zombie e olheiras profundas de manhã – de que nem a pomada das hemorróidas* me salva – após o toque maldito às 7 em ponto, o bocejar contínuo durante todo o dia e uma irritante espertina à noite, quando deveria estar a dormir o meu sono de beleza. Espero sobreviver à prova sem me tornar uma pessoa completamente insuportável, que o bom humor também não tem abundado. Mais cafeína, por favor!

E agora, se isto não é o tal do Jet Lag, o que é?


*Segundo as revistas de beleza femininas, e também a reconhecida obra-prima do cinema Miss Detective (aquele com a Sandra Bullock no papel de polícia brogessa que se infiltra e torna Miss, acabando por concluir que as louras burras são um poço de sensibilidade e chegando mesmo a chorar de emoção no final), a pomada para o hemorroidal é tiro e queda para os papos nos olhos – todos!

4 comentários:

  1. Compreendes agora o supremo suplício de "unna vitta di lavoro"... E ainda estás no prelúdio da amputação do Ego que constitui a Rotina 9 to 5.
    Como me identifico com o grito de desespero "mais cafeína, por favor"!
    "Arbeit macht Frei"? Libertem-se vocês, seus tratantes !!!!!!!!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. É mais um dos dissabores de quem tem ou quer entrar à força na vida dita "adulta"...
    Vai passar o desespero e o habituação surgirá como mais um factor incontornável...
    Força nas canetas e bola para a frente!

    ResponderEliminar
  3. Se isto é assim na versão part-time das 8 às 14h nem quero imaginar a rotina 9 às 6h (5 era antigamente)! Prefiro continuar "pita" pra sempre,que a vida adulta é muito chata!
    Arbeiten sie? Ich arbeite nicht! Ich bin studentin.
    É assim? Só frequentei o 1º nível e já esuqci tudo...

    ResponderEliminar
  4. P.S- Como podem observar na tentativa falhada de escrever "esqueci", a dislexia começa já a atacar. Socorro, começam os efeitos secundários!

    ResponderEliminar