28 de fevereiro de 2005

Síndroma Bridget Jones


De entre tantas heroínas cinematográficas inesquecíveis, capazes de mover mundos só com um pestanejar, suscitar paixões arrebatadoras à beira da loucura, de personalidades fascinantes e misteriosas, protagonistas de tramas e intrigas Shakespearianas, tinha logo de me identificar com a muito longe de perfeita da Bridget Jones!

Desde a primeira cena do filme, em que Bridget canta esganiçadamente uma canção da não menos esganiçada Celine “tou-a-gritar-assim-pra-vocês-perceberem-que-tenho-um-aparelho-vocal-potentíssimo” Dion, ressacada, desgrenhada e entre beatas de cigarros que logo senti uma enorme empatia com aquela personagem tão humana.

Continuando o filme fui-me revendo vezes sem conta em várias situações, principalmente na lei de Murphy que se verifica sempre no azar e falta de timing que a acompanha. Imagino-me nas situações embaraçosas, como chegar a uma festa de máscaras com uma completamente despropositada* porque ninguém se lembrou de avisar, ou a falar descontroladamente devido a verborreia nervosa despoletada por situações de stress agudo e uns copos a mais.

E lembro-me de mim, a espetar-me numas escadas enquanto tentava um ar sensual e acenava a um tipo que achava interessante, a ter um furo às 5 manhã no meio da auto-estrada no único dia do ano em que resolvi vestir mini-saia e saltos altos, ou encontrar o gajo que minutos antes entrou sem querer na casa de banho das mulheres, enquanto me equilibrava na típica posição gaja-em-casa-de-banho-pública, a contar animadamente o sucedido aos meus amigos, sentado no meu lugar na mesa. Não há charme que resista!

Mas se até uma Bridget, histérica compulsiva de cuecas à mãe com padrão de leopardo encontrou o seu príncipe encantado da camisola de lã com renas oferecidas pela avó nem tudo está perdido. Até porque a Julieta morreu e a Scarlett acabou sozinha, parada no tempo à espera do amanhã.


*Só duvido que alguma vez me mascarasse de coelhinha da Playboy, já que costumo adoptar posturas mais low profile – aliás todas as amigas da minha mãe passam a vida a aconselhar-me a andar mais descascada “Ai filha, se tivesse esse corpinho andava sempre de mini-saia”, para ver se arranjo homem, disfarçando mal a preocupação de que fique para tia no avanço dos meus 25 anos.

8 comentários:

  1. Má sorte a minha não seres mais uma Mina…

    ResponderEliminar
  2. O importante de tudo da vida da Bridget é que faz o lhe dá na real gana e no meio da sua psicose é feliz...
    E tu ficarás s dúvida bem mais sexy dentro daquele quecão maravilha!

    ResponderEliminar
  3. Vampire XII, felizmente não sou vocacionada para trágica heroína romântica.

    M, por momentos temi que viesses juntar pormenores escabrosos ao furo no meio da Crel... ;) Omitimos certas partes, tá?

    ResponderEliminar
  4. Alguém escreveu isto:
    1) «De entre tantas heroínas cinematográficas inesquecíveis, capazes de mover mundos só com um pestanejar, suscitar paixões arrebatadoras à beira da loucura, de personalidades fascinantes e misteriosas, protagonistas de tramas e intrigas Shakespearianas, tinha logo de me identificar com a muito longe de perfeita da Bridget Jones!»

    2) «(...) nem tudo está perdido. Até porque a Julieta morreu e a Scarlett acabou sozinha, parada no tempo à espera do amanhã.»

    E depois isto:
    «Vampire XII, felizmente não sou vocacionada para trágica heroína romântica.»

    Importa-se de repetir?

    ResponderEliminar
  5. Também ninguém disse que era coerente! ;)

    Apesar das heroínas mais humanas, menos idealizadas, serem menos interessantes, são normalmente mais felizes...

    Espero ter sido mais clara.

    ResponderEliminar
  6. «Apesar das heroínas mais humanas, menos idealizadas, serem menos interessantes, são normalmente mais felizes...»

    Aqui é que eu discordo. São essas que mais interessantes são. E, curiosamente, as menos felizes.
    Veja-se a Mãe Eva, que, humanamente, lançou sobre os Homens o exílio eterno (abençoada seja) e é uma personagem tão secundária quanto a matéria de uma costela pode ser.
    Humana e infeliz.
    E, ao mesmo tempo, tão genuinamente grande, pois proporcionou aos seus descendentes a possibilidade de provar a verdadeira felicidade, que só existe na medida em que a infelicidade tem lugar. No Eden não havia felicidade nem liberdade, apenas sombras.

    Recorde-se Pascoes, que no seu Regresso ao Paraíso coloca Eva a falar assim para Adão:

    «-Tens a força de amar; tenho a fraqueza
    De ser amada. És homem, sou mulher;
    E essa força perdeu-te...

    Eu sou a Tentação,
    Que havia de fazer senão tentar-te,
    Para que visses, face a face, a Vida
    E o mistério das cousas e o da morte?...»

    ResponderEliminar
  7. Tudo é subjectivo e passível de discussão. No post referia-me heroínas ficcionais. Na verdade as da vida real são as mais interessantes e por vezes infelizes, porque a vida real supera sempre a ficção em injustiça e crueldade.

    ResponderEliminar
  8. « Na verdade as da vida real são as mais interessantes e por vezes infelizes, porque a vida real supera sempre a ficção em injustiça e crueldade.»
    As reais são sempre mais trágicas, sempre mais infelizes, que humano não é mais do que tragédia. Porém, a realidade supera sempre a ficção também em felicidade.
    Mais: proponho que se passe a chamar à realidade, a partir de agora, superação.

    ResponderEliminar