13 de novembro de 2006

A sociologia da blogosfera I

Há uns tempos que desejo escrever sobre esta nossa blogosfera, após quase dois anos de experiência, ainda que em solavancos de assiduidade, mas a falta de tempo tem levado a melhor e as minhas pertinentes conjecturas têm sido adiadas por diversas vezes.
Mas hoje, dispensada dos afazeres domésticos pós-jantar (lavar a louça) e abdicando da novela e do conforto do sofá, resolvi dedicar um tempinho ao blogue e justificar as simpáticas nomeações que tenho recebido - se bem que uma delas é um bocadinho batota porque ela é minha amiga, mas a fingir que eu mereço mesmo.
Bem, como eu ia dizendo, a blogosfera, esse mundo paralelo à sociedade e onde à partida vigorariam princípios de igualdade e democracia, mas que acaba por reproduzir uma espécie de sociedade hierarquizada, tão cheio de normas e classes, que quase se pode comparar a uma sociedade feudal em regime de monarquia absolutista.
Sim, é isso mesmo, boa analogia. Ando a ficar boa nestas coisas dos exemplos. Agora imaginem aquela pirâmide - lembram-se? - que se dava nas aulas de história no ensino básico (não me lembro do ano), e que servia para explicar a organização de uma sociedade estratificada.
Ora, lá no topo dessa pirâmide, está o rei Abrupto, que dita as leis e distingue os bons dos maus, pelo que quase todos lhe prestam vassalagem, fazem vénias e dizem ámen, menos na esperança de lhe caírem em graça que não caírem em desgraça, que bom rei não dá confiança à toa, mas benevolentemente escolhe uma corte e forma a nobreza, e nela não consta quem não vai ao beija-mão.
Recentemente, o rei decidiu que 90% pertencem ao povo, pelo que 10% se distribuirão entre a elite e a classe média burguesa. Eu, que por acaso sou republicana, confesso que não gosto do Abrupto, acho chato, não tenho paciência, é assim como a minha relação com o Yoga: apesar de lhe reconhecer imensas qualidades passados 5 minutos estou cheia de vontade de começar a saltar, embora acredite piamente que irei gostar muito aos 65 anos.
Logo abaixo do rei está a nobreza, um grupo muito selecto que se relaciona a um nível superior, sempre educada e cordialmente, trocando gentilezas e manifestando admiração mútua através de inúmeros links, que se repetem com frequência e invariavelmente dentro do mesmo grupo. Para entrar para esta elite não é fácil, e, se bem que ser bom ajude, não basta - doutra forma não se explica a total ausência de referências ao Bitaites dentro desta elite, um blogue completo, bem escrito, com uma constância invejável, e um dos mais lidos de Portugal sem ser de gajas nuas. Para tal é preciso conhecer-se as pessoas certas, de preferência pessoalmente, e passar pela aprovação dos mais conceituados bloggers, verdadeiros barómetros de popularidade, de quem uma referência elogiosa ou de desdém podem fazer toda a diferença e deitar por terra qualquer oportunidade de se ser brasonado.
Esta classe, geralmente situada numa faixa etária entre os 35 e os 50 anos, é também conhecida pelo seu bom gosto, classe e minimalismo, pelo que a estética do blogue não deve ser descurada, e tal como a meia branca é proibida se não quisermos ser parolos, fundos demasiado coloridos e com flores cor de laranja, por exemplo, são meio caminho andado para se ser banido da lista de links. Neste ponto existe apenas uma excepção: a Rititi, que é assim uma espécie de duquesa excêntrica que pode fazer tudo o que lhe apetece porque se está perfeitamente a cagar e nem se importa de meter umas músicas pirosas pois sabe que uma boa gargalhada não implica falta de neurónio ou de classe.
A fotografia no perfil é também dispensável, no entanto uma imagem estilizada de qualquer coisa pode ser utilizada como um sinal de sensibilidade estética e artística. Também a abundância de adereços decorativos de html é perniciosa, a sobriedade deve imperar se não quisermos ser considerados tontos. É assim como dizer lábios e vermelho, não tem mal, mas dá para distinguir.
No geral os homens são pessimistas, melancólicos e permanentemente frustrados com a miséria da sua vida sexual, enquanto as mulheres são muito abertas, modernas e desinibidas, com uma sexualidade vivida plenamente, o que nos leva a crer que não se relacionam entre si mas procuram parceiros fora - ou então são todos uns grandes mentirosos, o que me parece mais provável.
(continua)*
*já estou a morrer de dores nas costas

12 comentários:

  1. Chama-me tudo o que quiseres, pessimista é que não! :)

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  2. Gostei muito deste post. Menos da parte que me inclui (estatisticamente) no lote dos mal... enfim, tu sabes...

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  3. "Ora, lá no topo dessa pirâmide, está o rei Abrupto"
    Acho uma piada enorme quando as pessoas vêm falar mal do Abrupto e esquecem-se que são vocês próprios que o colocam no pedestal ao desdenhar violentamente a sua presença na blogosfera. É uma merda, é chato, é irritante mas não deixam de falar nele. Pessoalmente não gosto do Abrupto pela forma rude e pretenciosa como aborda os assuntos e por isso simplesmente não frequento o local nem lhe dou sequer tempo de antena na minha consciência. Quanto ao Bitaites é um blog bem escrito, com curiosidades q.b. por semana, divertimento e acho que no fundo deviam manter-se à parte dessas disputas (quase sempre sarcásticas) por um trono que nunca será deles. Simplesmente não precisam porque são MUITO bons.

    Quanto à sociologia da blogosfera, podemos verificar em muitos dos casos certas particularidades no comportamento dos blogadores tais como a inveja, pedantismo e soçobra. Muitos deles seguem estas "qualidades" como se fossem autênticos patamares de uma aprendizagem.

    No fundo não podemos esquecer que somos nós os humanos (no meu caso masculino melancólico, pessimista e frustrado sexual) quem alimenta a blogosfera e que acabamos por fazer dela o que nós somos.

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  4. Vinha só desejar as melhoras (das dores nas costas, esqueci-me há bocado), mas aproveito para me solidarizar com o colega Keyser (outro melancólico, pessimista e frustrado sexual que se assume, como eu. É bonita, a solidariedade de classe...)

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  5. Por acaso, e ás vezes até me esqueço disso, sou socióloga. Gostei desta tua abordagem. Voltarei para ver a continuação!

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  6. "Esta classe, geralmente situada numa faixa etária entre os 35 e os 50 anos..." ou "uma espécie de duquesa excêntrica"... Mas eu só tenho 31 anos, pá! Questamerda, ó menina Lua, então estas-me a chamar velha??
    Agora um bocadinho mais a sério, está muito engraçado o post, apesar de eu achar que só estou nesse tal grupo por puro acaso.
    Uma beijoca fofa!

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  7. Estou a gostar de ler.

    Naturalmente não concordo com a dicotomia masculino/feminino. Acho que é perigoso fazer essas generalizações, e o mundo não é a preto e branco. Mas como dizes "no geral"... Ok. pode ser! Eu nunca fiz esse estudo, por isso não posso emitir uma opinião fundamentada. ;)

    Ao ler a tua visão da blogoesfera, também me lembrei do fenómeno "eu comento o teu blog, tu comentas o meu", ou do "eu linko o teu blog, tu linkas o meu", assim à laia de pagamento de favor, e "uma mão lava a outra". Mas os blogs são feitos por pessoas, por isso é natural que esses comportamentos passem para este lado. E que quem não entre no jogo (que ofensa! que falta de etiqueta!) fique de fora.

    Fico à espera da continuação.

    ps: Já agora, as "Web Pages referring to this page", ficam em cima do post (no Firefox). Vê lá se tratas disso, senão não se percebe nada do post! :)

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  8. Rititi:
    É uma generalização, nunca me passaria pela cabeça chamar-te velha, mesmo que já tivesses 70 anos. ;) Quanto ao duquesa excêntrica, é uma forma de ilustrar quem, por mérito próprio, se pode dar ao luxo de mandar à merda as convenções e fazer o que lhe dá na real gana.

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  9. Venha a 2º parte, este blogue dá aos 90% da cadeia alimentar dos leopardos abruptos aquela subtileza do tristemente feliz. Gostei deste local (que deriveia conheçer via Bitaites). Boas horas ;)

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  10. Ai que bom saber que não sou a única plebeia que se aborrece a cada tentativa de ler o Abrupto e ainda que tendo um blogue com um fundo colorido (apesar de não ter flores laranja ;) pelo menos não sou velhadas (estou fora do clube dos 35).

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  11. Lolol! Este retrato está muito engraçado, ainda para mais porque não deve de facto andar muito longe da verdade!

    Gosto particularmente da reflecção final :D

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