Sim, é trabalho

Depois das mais de 500 perguntas "mas afinal vais trabalhar ou fazer doutoramento" por amigos, conhecidos, comentadores e afins, eu explico: fazer doutoramento é trabalhar. Pelo menos aqui na Holanda, em termos legais, onde o estudante de doutoramento é considerado empregado da universidade e tem contrato de trabalho como qualquer trabalhador a tempo inteiro. Nos outros sítios todos também é trabalho, mas com estatuto de estudante, o que dá azo a muitas confusões e à pergunta que me faz revirar os olhos e visualisar catanas enquanto respiro fundo e conto até dez e que é "então e trabalhar, não?" quando digo o que faço, como se fosse uma parasita da sociedade e lhes andasse a pedir dinheiro para me sustentar.
Portanto vamos lá a ver se nos entendemos de uma vez por todas: doutoramento = trabalho. Ou pensam que é ir às aulas, tirar apontamentos, e depois fazer uns exames no fim, como na licenciatura? Pois que não, que não é. Ou quem é que acham que anda aí a descobrir coisas e fazer ciência pelo mundo fora? Nas outras áreas não sei como é, mas na área científica fazer doutoramento é trabalhar 8 horas por dia - no mínimo, a grande maioria trabalha bem mais - no laboratório, fazendo investigação sobre um dado tema - que no meu caso é drug delivery em imunoterapia de cancro -, é chegar a casa e ter de ler 4575 papers sobre o assunto, é dar aulas de laboratório e eventualmente orientar uns estudantes de licenciatura ou mestrado, é escrever e publicar artigos com os resultados obtidos, é escrever a tese. E claro, estudar, estudar muito. E acabar sabendo mais, de preferência. E poder então dizer que se é cientista, que é uma coisa que dá muita pinta, embora acabe com qualquer conversa de engate.