Sei que com o que irei confessar de seguida deitarei por terra qualquer pretensão de vir a ser minimamente respeitada intelectualmente, além de certamente desiludir alguns amigos que até me tinham em consideração, mas, a verdade, é que não consigo ler Lobo Antunes. E olhem que eu queria muito, mas não dá. Não falo das crónicas, obviamente, também não sou assim tão limitada, mas dos seus livros, onde não consegui nunca chegar a mais de meio sem desistir. Dada a minha frustração com esta incapacidade, procurei indagar opiniões junto à minha família, no Natal passado, para vir a descobrir que não, mais ninguém lhe tinha conseguido meter o dente, e olhem que não somos propriamente uma cambada de iletrados. Para meu descanso, intuí então tratar-se de uma deficiência genética qualquer, impeditiva de nos deixar entrar naquela escrita intrincada e aparentemente desconexa, levando-nos a perder o fio à meada, e que por ser inata nos ilibava de qualquer responsabilidade no assunto.
É certo que eu deveria ter desconfiado quando há anos, sintomaticamente, também não consegui levar avante a empreitada estóica da leitura de O Som e a Fúria, de Faulkner, de quem Lobo Antunes confessa beber o estilo. Lembro-me de, com esforço, avançar naquela primeira parte narrada por Benjy, o atrasado mental, e pensar que havia de conseguir, que o pior já estava a passar, que certamente haveria de melhorar assim que passasse para o irmão normal, na esperança de que de repente se fizesse luz. Mas não, Quentin em nada me ajuda, e acabei por desistir, esgotada mentalmente, e desiludida, assim como quando em Mulholland Drive se espera ansiosamente pela revelação final que afinal nunca chega e se sai do cinema na incerteza de se era ou não suposto ter-se percebido.
Desde então que tenho vivido conformada com esta impossibilidade, pensando que talvez tenha razão quem diz que ou se gosta de Lobo Antunes ou de Saramago, e que gostar tanto deste último talvez justificasse a incompatibilidade estilística.
Até que um dia me deparo com este brilhante texto de Rita F. e fico assim meia sem saber se valeria a pena ter continuado, tentado mais umas páginas, ter-me esforçado mais, que só faltava um bocadinho assim. Ou se, pelo contrário, simplesmente não estou habilitada para ganhar o brinde.
Eu uma vez pensei escrever Lobo Antunes. Mas não era o mesmo. A ideia era um livro para crianças. A historia de um lobo que se chamava Antunes. O pessoal que compra livros por causa do nome dos escritores para enfeitar a estante lá de casa chegava à FNAC e perguntava: "Tem Lobo Antunes?" e os gajos pum espetavam com aquilo. Enfim ia ganhar uns trocos jeitosos. Mas depois passou-me.
ResponderEliminarEstou aqui a ter um ataque de riso. Se eu não voltar, é porque me engasguei e morri.
ResponderEliminarEu partilho dessa limitação. Gostava muito, comprei vários livros dele na esperança de conseguir chegar à pastilha gorila, mas é isso - simplesmente não dá.
ResponderEliminar:)
Eu também não consigo. É-me impossivel, de todo!
ResponderEliminarReconheço-me completamente. tenho ali o "Que farei quando tudo arde?" a acumular pó desde o natal de... hmmm não sei mas já foi há uns natais jeitosos, que a minha avó se resolveu a espetar-me com o seu Lobo Antunes. Tentei, juro. Não consigo.
ResponderEliminarhttp://fixedwords.blogspot.com/2009/02/serei-normal.html A mim acontece-me o mesmo!
ResponderEliminarA mim o Lobo Antunes cansa-me. Fisicamente. Fico sempre com a sensação de que escreveu a correr, sem pausas, sem pontos, sem pensar que nós talvez gostássemos de parar para respirar, aqui e ali, para saborear ou simplesmente para perceber bem o que é que ele disse. Mas não, é uma correria, da primeira à última página.
ResponderEliminarCansa-me. Por isso também não o leio.
*
mariana
Eu sofro exactamente da outra limitação: Saramago. Gosto dos livros do Lobo Antunes, e adorei o texto da Rita porque ilustra mesmo o que sinto ao lê-lo, no entanto, não consigo ler Saramago. Mesmo. E tentei, se tentei! :)
ResponderEliminarBeijinhos
Também sofro do mesmo mal, este verão bem que tentei, mas não dá. Mas posso dizer que já li um livro do Lobo Antunes, mas do outro, do Nuno. beijinho*
ResponderEliminarLuna...quem me ensinou a gostar do ALA foi o meu marido...comecei com as crónicas...depois continuei com o 1º livro que ele editou...li-os a todos sempre por esta ordem (do 1º ao último)...entrei nele...consegui...não quero outra coisa...para mim, ele é um génio e entrar dentro daquela escrita,daquele emaranhado de histórias que se entrelaçam são momentos sublimes.
ResponderEliminarum conselho: para o ler é necessário estar bem...serena e calma. E de preferência, numas férias calmas ou, num findi alone. Lê-lo, tipo romance de cabeceira à espera do sono ...não dá.
tente...vai ver como vai ser bom
Gabriela
Antonio Lobo Antunes, Saramago, e Umberto Ecco (The Island of the day before) podem se juntar e criar um clube so deles, pq nao ha paciencia.
ResponderEliminarCatia