16 de setembro de 2009

Limitações

Sei que com o que irei confessar de seguida deitarei por terra qualquer pretensão de vir a ser minimamente respeitada intelectualmente, além de certamente desiludir alguns amigos que até me tinham em consideração, mas, a verdade, é que não consigo ler Lobo Antunes. E olhem que eu queria muito, mas não dá. Não falo das crónicas, obviamente, também não sou assim tão limitada, mas dos seus livros, onde não consegui nunca chegar a mais de meio sem desistir. Dada a minha frustração com esta incapacidade, procurei indagar opiniões junto à minha família, no Natal passado, para vir a descobrir que não, mais ninguém lhe tinha conseguido meter o dente, e olhem que não somos propriamente uma cambada de iletrados. Para meu descanso, intuí então tratar-se de uma deficiência genética qualquer, impeditiva de nos deixar entrar naquela escrita intrincada e aparentemente desconexa, levando-nos a perder o fio à meada, e que por ser inata nos ilibava de qualquer responsabilidade no assunto.
É certo que eu deveria ter desconfiado quando há anos, sintomaticamente, também não consegui levar avante a empreitada estóica da leitura de O Som e a Fúria, de Faulkner, de quem Lobo Antunes confessa beber o estilo. Lembro-me de, com esforço, avançar naquela primeira parte narrada por Benjy, o atrasado mental, e pensar que havia de conseguir, que o pior já estava a passar, que certamente haveria de melhorar assim que passasse para o irmão normal, na esperança de que de repente se fizesse luz. Mas não, Quentin em nada me ajuda, e acabei por desistir, esgotada mentalmente, e desiludida, assim como quando em Mulholland Drive se espera ansiosamente pela revelação final que afinal nunca chega e se sai do cinema na incerteza de se era ou não suposto ter-se percebido.
Desde então que tenho vivido conformada com esta impossibilidade, pensando que talvez tenha razão quem diz que ou se gosta de Lobo Antunes ou de Saramago, e que gostar tanto deste último talvez justificasse a incompatibilidade estilística.
Até que um dia me deparo com este brilhante texto de Rita F. e fico assim meia sem saber se valeria a pena ter continuado, tentado mais umas páginas, ter-me esforçado mais, que só faltava um bocadinho assim. Ou se, pelo contrário, simplesmente não estou habilitada para ganhar o brinde.

11 comentários:

  1. Eu uma vez pensei escrever Lobo Antunes. Mas não era o mesmo. A ideia era um livro para crianças. A historia de um lobo que se chamava Antunes. O pessoal que compra livros por causa do nome dos escritores para enfeitar a estante lá de casa chegava à FNAC e perguntava: "Tem Lobo Antunes?" e os gajos pum espetavam com aquilo. Enfim ia ganhar uns trocos jeitosos. Mas depois passou-me.

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  2. Estou aqui a ter um ataque de riso. Se eu não voltar, é porque me engasguei e morri.

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  3. Eu partilho dessa limitação. Gostava muito, comprei vários livros dele na esperança de conseguir chegar à pastilha gorila, mas é isso - simplesmente não dá.

    :)

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  4. Eu também não consigo. É-me impossivel, de todo!

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  5. Reconheço-me completamente. tenho ali o "Que farei quando tudo arde?" a acumular pó desde o natal de... hmmm não sei mas já foi há uns natais jeitosos, que a minha avó se resolveu a espetar-me com o seu Lobo Antunes. Tentei, juro. Não consigo.

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  6. http://fixedwords.blogspot.com/2009/02/serei-normal.html A mim acontece-me o mesmo!

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  7. A mim o Lobo Antunes cansa-me. Fisicamente. Fico sempre com a sensação de que escreveu a correr, sem pausas, sem pontos, sem pensar que nós talvez gostássemos de parar para respirar, aqui e ali, para saborear ou simplesmente para perceber bem o que é que ele disse. Mas não, é uma correria, da primeira à última página.
    Cansa-me. Por isso também não o leio.

    *
    mariana

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  8. Eu sofro exactamente da outra limitação: Saramago. Gosto dos livros do Lobo Antunes, e adorei o texto da Rita porque ilustra mesmo o que sinto ao lê-lo, no entanto, não consigo ler Saramago. Mesmo. E tentei, se tentei! :)
    Beijinhos

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  9. Também sofro do mesmo mal, este verão bem que tentei, mas não dá. Mas posso dizer que já li um livro do Lobo Antunes, mas do outro, do Nuno. beijinho*

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  10. Luna...quem me ensinou a gostar do ALA foi o meu marido...comecei com as crónicas...depois continuei com o 1º livro que ele editou...li-os a todos sempre por esta ordem (do 1º ao último)...entrei nele...consegui...não quero outra coisa...para mim, ele é um génio e entrar dentro daquela escrita,daquele emaranhado de histórias que se entrelaçam são momentos sublimes.
    um conselho: para o ler é necessário estar bem...serena e calma. E de preferência, numas férias calmas ou, num findi alone. Lê-lo, tipo romance de cabeceira à espera do sono ...não dá.
    tente...vai ver como vai ser bom
    Gabriela

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  11. Antonio Lobo Antunes, Saramago, e Umberto Ecco (The Island of the day before) podem se juntar e criar um clube so deles, pq nao ha paciencia.
    Catia

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