27 de janeiro de 2014

Eu (não) ia dizer umas coisas sobre praxes

Mas a Helena já diz tudinho.

24 comentários:

  1. Eu ainda só ia a meio...
    A quem interessar possa, o marcador é este:
    http://conversa2.blogspot.pt/search/label/apontamentos%20sobre%20a%20praxe

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  2. Too much. Não é que não haja muita razão, mas eu estudei em Coimbra e não tenho nada a apontar à Praxe, que em Coimbra se chama Tradição, e faz-me muita confusão ver outras faculdades sem a mesma (tradição, entenda-se) a anunciar "praxe". Nunca deixei que me chamassem, nem chamei a ninguém besta ou animal. Recusei-me a por-me de 4 em qq situação. Nunca me pintaram a cara ou atiraram porcarias. Sempre tirei caloiros a gente estúpida que eu considerava não ter noção dos limites numa praxes. Vi um jogo de snoocker jogado entre "caloiros e doutores" que podia ser bem um jogo da Candeia, foi giro, foi uma brincadeira, não se insultou nem magoou ninguém. A praxe não é isto de que a Helena fala, a praxe, como eu disse no blog da Izzie, é cantarem-me uma serenata debaixo da janela e eu não poder agradecer falando, apenas acendendo e apagando as luzes 3 vezes. A praxe é só poder traçar a capa na noite da serenata das Queimas das Fitas. A praxe é ter ajudado as minhas duas caloiras a ultrapassar as dificuldades do primeiro ano. A praxe é ter roubado um nabo minúsculo a uma senhora no mercado, senhora essa de cabo de vassoura em punho a correr connosco. Eu compreendo que vocês não saibam o que é a praxe = tradição, porque não vêem nem nunca viram a verdadeira integração do caloiro. E acho muito bem que combatam a estupidez humana e os limites, mas não metam tudo no mesmo saco, até porque não se fala de algo que não se viveu. Eu não acho normal que haja silêncios de praxe, isso é uma imbecilidade, em Coimbra quem fugir ao código e entrar em excessos é altamente penalizado, e não há código pra ninguém. Tudo com bom senso, por favor. Eu fui praxada e praxei, miseravelmente pq nao lhe achei grande graça, e não me vou sentir abjecta ou criminosa por isso. Isto porque eu sou a favor da praxe, a tradição é das coisas mais bonitas que há, tradição em tudo, até a de casar de branco e com flor de laranjeira. E não tenho que me sentir mal por gostar de tradições.
    Aquilo que a Helena descreve nos posts não é tradição, é a exponencialidade provocada pela m... do tratado de bolonha que reduziu o tempo de estadia na faculdade a 3 anos, que encolheu os códigos, que permitiu que fosse dada a canalha a capacidade de actuar impunemente e chamar-lhe praxe. Se calhar é pq estudei em 94/99, o facto de os putos de hoje em dia serem mto mais agressivos, nao tem nada a ver. Nao sei, eu realmente não compreendo pq é que se hao-de reduzir tradições espectaculares como ir no carro da queima, ir ao parque até o sol raiar, ir à porta férrea pra madrinha nos por o grelo na lapela, ou até o trajar, a coisas dispensáveis.

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  3. Ah, e já agora, eu não papo grupos, que tu conheces-me bem, mas fiz o rasganço do meu traje com muito gosto e muito orgulho. Tanto que não me lembro do dia em que saiu a minha última nota, mas lembro-me muito bem do dia em que o meu traje foi rasgado pelas minhas amigas, que me deixaram de mini mini saia, e com o casaco, pq se fica com o casaco, casaco esse cujas mangas os meus amigos foram rasgando ao longo da noite e levaram os pedaços pra casa, tal como eu levei e ainda tenho bocados da camisa e do traje de amigas minhas. Porque aquele traje contém pedaços da minha história, risos, cheiros, memórias e dias que eu não quero esquecer e relembro de forma tão primária. Go ahead and shoot me.
    Queres saber porque é que faz um rasganço? Pq é o fim. Rasgar o traje é o fim da vida académica, é desfazer em pedaços aquilo que nos ligou à instituição e salvar a única coisa importante, que é a capa.
    A minha capa académica ainda hoje é religiosamente guardada, e só não a tenho emoldurada porque é demasiado grande. Porque a minha capa foi rasgada, consoante a tradição, e os meus Pais rasgaram do lado esquerdo primeiro, do lado do coração, e o meu irmão e a os meus Tios também. Eu sei que te parece idiota, mas foi a penúltima vez que falei com a minha Tia, foi no dia em que ela rasgou a minha capa, era eu caloira.
    Fico contente que tenhas estudado no Técnico, porque te livraste do horror, da tragédia, do drama de pertencer a uma academia. Tenho pena que tenhas ido pra universidade e tenha sido uma mera continuação do teu liceu, com novos amigos. Porque a universidade Ana, não serve só pra empinar informação ou pra se ser a melhor aluna. Serve pra aprender o que é a pertença a uma instituição. But then again, fala a gaja que se auto-intitula IBMer, como se a empresa fosse dela.
    Repito, com muito gosto e muito orgulho, sou a favor da tradição, não de barbáries ou merdas a que hoje chamam praxe. E agradeço MUITO que não se acabe com a tradição que eu tive oportunidade de gozar.
    Um dia destes eu mostro-te o álbum de Coimbra que tenho. Não é que vás entender, mas pelo menos vais poder visualizar o porquê de eu defender tal "coisa".
    Agora vou trabalhar q nao me pagam pra isto. beijos

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    1. Desculpa lá, mas essa condescendência do "Tenho pena que tenhas ido pra universidade e tenha sido uma mera continuação do teu liceu, com novos amigos. Porque a universidade Ana, não serve só pra empinar informação ou pra se ser a melhor aluna." fica-te mal, e achares que eu não sei o que é a universidade, nem que "vá entender" só porque não andei em coimbra ou a vivi da mesma forma que tu é de uma arrogância enorme.
      Mas de facto eu não necessito de pertencer a instituições e estou-me bem cagando para a maior parte das tradições.

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    2. Eu sou arrogante :) e tu também minha amiga. A Universidade compõe-se de muitos factores socio-culturais e que fazem dela uma escola também pra vida. Eu tenho preferência, quando contrato pessoas, por malta que tenha feito parte de algum tipo de associações, nem que seja o rancho folclórico da associação académica de Coimbra. Pq há faculdades e capacidades que não se aprendem nos livros. E o que eu disse, arrogância ou não, é algo que digo desde que entrei pra Coimbra: há todo um processo de sair de casa, ver-se sozinho sem conhecer ninguém, estar num sítio onde não te conhecem de todo, partilhar casa, etc, que faz o que eu considero a experiência universitária. E as tradições também. E repito, tradição não é o que chamam por aí de Praxe. A praxe é uma coisa mto diferente.
      Eu nunca "precisei" de pertencer a instituições, mas se me adoptam, adopto-as, foi um processo natural e não pensado e racional.
      As tradições também incluem as de família, e tu não te estás a cagar pra elas, basta o facto de seguires as receitas da tua Avó. Isso é tradição Ana. E dá-te sentido de pertença.
      Coimbra tem tradição e dá sentido de pertença. Isto sim talvez seja arrogância em barda, mas está dito e não retiro.

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  4. Andorinha, sobre essas "tradições" há um passagem interessante num trabalho do Miguel Cardina: "Marcadas por uma forte carga essencialista e mitográfica, estas exposições tendem a adequar-se àquilo que Richard Peterson (1992) designou de “fabricação da autenticidade” e a que, alguns anos antes, Eric Hobsbawm e Terence Ranger (1983) haviam chamado, num texto já clássico, “invenção da tradição”. Debruçando-se sobre a ancestralidade ficcionada de alguns signos nacionais, estes historiadores demonstraram como as “tradições inventadas” se caracterizam por terem sido criadas num pretérito nem sempre longínquo, apesar de conservadas por meio da sua simulada colocação num locus inicial e hiper-significado.3 A manutenção desta presumível originalidade vai sendo garantida por uma panóplia de efemérides, lendas e símbolos que se encarregam de dar lugar à afirmação de uma ideia de continuidade histórica, aquilo a que Rouanet, na linha de Michel Foucault, chamou criticamente “desenrolar previsível do mesmo” (Rouanet, 1996: 111)."
    ( http://rccs.revues.org/654)

    Sobre eu exagerar: o simples facto de dizer "Nunca deixei que me chamassem, nem chamei a ninguém besta ou animal. Recusei-me a por-me de 4 em qq situação. " já é sinal de que há algo de muito podre nessa tradição. Num mundo normal, ninguém precisa de "não deixar" que o insultem, e de recusar a pôr-se de 4, porque pura e simplesmente não é normal que alguém se sinta no direito de insultar os outros ou mandá-los pôr-se de 4. Eles tentaram, a Andorinha não deixou. Óptimo. Mas o que lhes dá a eles o direito de sequer tentarem insultar e dar ordens indignas? Que mundo à margem das mais elementares regras de civismo é esse?

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  5. Helena, quanto às tradições não me vou estender, vou só explicar que o código da praxe onde estas tradições estão descritas data do século XVI e era chamado de investidas. Não há uma invenção da tradição, a tradição nasce com o princípio de uma actividade que vai sendo repetida e considerada benéfica, como por exemplo, o traje académico ter sido introduzido como traje para que não houvesse disparidades sociais visíveis entre os estudantes. Há muita coisa que suporta a tradição de Coimbra, entre elas a revolução de 69 que veio mais tarde dar origem ao 25 de Abril.
    Isto é só pra lhe dizer, do ponto de vista do argumento, que a Helena não compreendeu que eu me refiro a tradições que nada têm a ver com o que a Helena pensa que é a praxe e como tal desmitifica o termo tradição, também chamado de Praxe em Coimbra, basta ler o código, está disponível online. Não tenho vergonha nem me sinto mal por ter orgulho em ter estudado onde estudei e ter seguido as tradições. Aliás, as únicas duas coisas que não fiz em Coimbra, com muita pena minha, foi fazer parte duma Tuna e duma Troupe. Adorava. Sem medos, sem problemas, pq há sempre quem leve a tradição muito a sério e os exageros são punidos.
    E não sou, nem aceito movimentos anti-praxes, assim como acho os movimentos pró-praxe uma estupidez. As pessoas não são pró-tradição, as pessoas ou gostam ou não gostam de tradições, e repito, isto tanto vale pra Universidade como pro País onde vive por exemplo. Pode ou não gostar das tradições Alemãs. Eu por exemplo não acho piada às Holandesas. Logo não as adoptei. As de Coimbra, adoptei-as, porque gosto. E disso não faz parte humilhar pessoas. Ninguém é mais feliz a fazer outros infelizes.
    E não é tradição chamar-se animal ou por alguém de 4, essa é a parte em que eu ponho o travão, como ser dotado de inteligência que sou, perante aquele que tenta submeter-me ao que não está escrito no código. Sim, pq eu li o código da praxe assim que entrei, dão um a cada caloiro, e sabemos muito bem o que podemos e o que não podemos fazer. E o maior controlador em Coimbra sempre foram os veteranos, que já agora esclareço, não são os gajos que andam lá há 7 ou 8 anos ou mais, são aqueles que estão no quarto ano. Ai, desculpe, agora já nao há quarto ano por causa de Bolonha, chamo-lhe o quê? Passo a ser veterana quando?
    Bem, adiante, dizia eu que as pessoas mais velhas são as que têm por obrigação não permitir que os mais novos "se esqueçam" do que está escrito pra bem deles e do bom nome da Academia. E eu fiz o meu papel muito bem feito, e além de não ter deixado que passassem das regras comigo, tb não deixei que passassem das marcas com as minhas afilhadas.
    Ninguém tem o direito a insultá-la, e isso está absolutamente proibido. Mas é tudo uma questão de bom senso que no mundo de hoje não existe. E o facto dos miúdos serem pobremente educados em geral, não é da praxe, é de quem os educa e da sociedade em geral.
    Já viu o Jackass alguma vez na televisão? Depois daquele esterco ser considerado o máximo pelos adolescentes, espera o quê? E pq é que se pensa sempre que os caloiros são uns desgraçadinhos sem vontade ou personalidade própria? Se eu não fizesse o que eles queriam iam-me fazer o quê? Bater? Excluir? Deixar de usar traje? Era o que mais faltava!
    Sabe o que é que eu tenho em comum com a Ana? É que eu também me estou bem cagando pro que os outros pensam.
    Cumprimentos ;)

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  6. (parece que o meu comentário se perdeu, pelo que tento repetir o que escrevi antes:)

    Andorinha, se "se está bem cagando para o que os outros pensam, não precisa de ler o que se segue.

    Luna, não percebi bem: tu "estás-te bem cagando para o que os outros pensam", ou afirmas que não vais em fenómenos de carneirada?

    A quem interessar possa,
    no comentário anterior da Andorinha há algumas imprecisões.
    As investidas, do séc. XVI, foram proibidas em 1727 por D. João V ("Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos." - e é uma boa síntese do que hoje se critica à praxe, e, em minha opinião, uma boa ideia para o que se devia fazer a qualquer estudante que por obra ou palavra ofender um novato, ainda que seja levemente.)
    Sobre a praxe ser uma tradição considerada benéfica: o que mais há é episódios de crítica acesa, inclusivamente entre os próprios estudantes, e períodos em que a praxe é interrompida. Eça de Queirós e Ramalho Ortigão criticam-na duramente no princípio do séc.XX, e nos anos 50 há um novo debate que divide a Academia. Desde 1980 até hoje, também não me tenho dado conta de grande unanimidade sobre os alegados valores positivos da praxe. Não há unanimidade nem na Academia nem na sociedade.
    Sobre "o traje académico para não haver disparidades visíveis entre os alunos": lembro-me perfeitamente de quando foi reintroduzido, em princípios dos anos 80. O país em crise, as famílias aflitas para conseguirem fazer o dinheiro chegar até ao fim do mês, os estudantes vestidos com calças de ganga, t-shirts, camisolas e "Kispos" (esse sim, era o traje igualitário dos estudantes nos anos 80) - e aparecem uns queques de fato e capa, roupas que representavam um enorme sacrifício financeiro para a maior parte das famílias.
    Sobre a tradição de Coimbra estar na origem da revolução de 69 e até do 25 de Abril: a nostalgia é uma coisa muito bonita, mas infelizmente os factos nem sempre a sustentam. Nos anos 60 a sociedade portuguesa mudou muito, e essas mudanças foram levadas para dentro da Universidade - a revolta estudantil ocorreu mais apesar da praxe que por causa dela, e mudou a própria tradição. O Miguel Cardina explica isso muito bem (passo um excerto no fim deste comentário).
    Quanto ao código da praxe de Coimbra (http://www.forumcoimbra.com/codigopraxe2007.pdf) gostei especialmente dos artigos 163º a 170º.

    Há tradições e tradições. Raramente são imutáveis (a praxe não o foi nunca) e não é por serem tradições que devem ser consideradas automaticamente algo positivo e a preservar.
    Eu, por acaso, também gosto de algumas tradições, e em especial de uma que começou a surgir em 1789, cujo mote é "Liberté, Egalité, Fraternité" - convenhamos que é bastante mais evoluído que "Dura Praxis, Sed Praxis".
    Essa tradição, que já vinha a germinar há mais tempo, com o Iluminismo, dá origem a um processo social que conduz a conquistas tão básicas como a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Que, por sua vez, fazem com que seja simplesmente aberrante no séc. XXI haver códigos de praxe que prevêem castigos corporais como "unhas e colheradas" e "rapanço".

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    1. Helena,
      eu, como antiga aluna da Universidade de Coimbra, é essa realidade que conheço, e vou naturalmente concordar com tudo o que a Andorinha disse, esclarecendo-a a si Helena, no entanto, que:

      - sim, o Código da Praxe de Coimbra foi (e tem vindo a ser) alterado sucessivamente, de modo a adaptar-se às mudanças sociais (tanto que a última versão é de 2007);
      - quantos casos de Praxe acabam mal por ano, Helena? Sabe? E, por oposição, quantos milhares de estudantes terminam os seus cursos com saudosas recordações do seu ano de caloiros? Vamos acabar com as praxes pacíficas, integradoras e bem sucedidas, só porque um número residual corresponde a abusos e a humilhações? Então mais vale acabar também com a carta de condução para os jovens, já que anualmente morrem tantos nas estradas;

      - é verdade que existem muitas aberrações nas praxes, mas o problema não é da praxe em si: é da interpretação e da aplicação desrespeitosas da mesma. A praxe pode ser uma experiência positiva e integradora: dou o (bom) exemplo de Coimbra (onde quem não quiser, declara-se Anti-Praxe e ninguém mais lhe toca);

      - são normalmente as pessoas de Lisboa (e as que pertencem a universidades/institutos recentes sem qualquer tradição) que dizem mal da Praxe: eu compreendo. O que se passa em Lisboa e arredores é selvajaria, brutalidade, praxe vingativa. Mas o que se passa em Lisboa não tem que ser grosseiramente generalizado para o resto do País. As praxes de Lisboa e afins são tentativas de imitação e reinterpretações abusivas da praxe original (que é a Praxe Coimbrã); Não é por acaso que os casos mais humilhantes surgem mais noutros pontos do País e são raros na UC.

      - Coimbra não é Lisboa: eu estudei um semestre em Lisboa e vários anos em Coimbra. Em Lisboa senti-me perdida num meio académico frio, indiferente, onde ninguém ligava a ninguém, e onde uma vez me pintaram a cara, o que foi ridículo. Em Coimbra, encontrei, graças a uma praxe DIVERTIDA, LEVE, RESPEITADORA, um ambiente fraterno e acolhedor, gente que me ORIENTOU e que me fez sentir completamente em casa e à vontade;
      - em Coimbra a Praxe não se resume à Semana do Caloiro: esta é a grande diferença. A Praxe em Coimbra é um MODO DE VIDA, durante 4 anos. Seja a participar num Rasganço (o último e comovente ritual do estudante), seja a assistir à Serenata Monumental, seja na nobre causa da Venda da Pasta, para recolher fundos para uma instituição para crianças desprotegidas. E sim, também envolve copos e divertimento, isso é saudável;

      - eu praxei e fui praxada em Coimbra, dentro dos limites da brincadeira e do convívio salutar, e nunca: nunca(!!) umas brincadeiras inofensivas que quebram o gelo, seguidas por um jantar nas cantinas Amarelas e um copo no Pratas fizeram mal a ninguém, que eu saiba! E conheço centenas de pessoas que diriam o mesmo;
      - fui apanhada por trupes e fiz parte de trupes (Andorinha tenho um ponto a mais!! ;))) e nunca ninguém morreu ou ficou traumatizado por isso: tudo depende se seguirmos o Código e termos respeito uns pelos outros.


      E agora para a Andorinha: minha querida, só me resta ficar feliz por nós termos tido a experiência maravilhosa, positiva e integradora que tivemos na nossa Praxe e na nossa Academia. Quem não passou por lá, NUNCA COMPREENDERÁ.

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    2. Assino e subscrevo todas as letras. Não há como explicar, pura e simplesmente é outro mundo. É um modus vivendus que no meu caso e pelos vistos no teu, nunca teve nada de dura no dura praxis, sed praxis. E há ainda as tertúlias nas Repúblicas, e coisas que vi e me fizeram ir às lágrimas de tanto rir como a República em frente à minha casa que pôs a mesa pra almoçar no meio da estrada e pôs uns sinais de trânsito pros carros se desviarem :D Enfim, não se vive, não se compreende.
      PS: Não sabia que se vendia a pasta! Olha que óptima ideia, vou tentar fazer isso. Ainda vou a tempo! E malandra, fizeste parte de trupes e eu não, tens vários pontos a mais! :D

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    3. Em Coimbra a praxe é "divertida, leve, respeitadora"?
      Estranho. Um professor de Coimbra (Rui Bebiano) afirma: "O que vejo na minha universidade, com miúdas aos berros e a espumar fazendo colegas lamber o chão ou forçando-os a gritar barbaridades até à exaustão (todos os anos vejo centenas de casos), ou com alunos impedidos de frequentarem as aulas para serem incorporados em rituais bárbaros e humilhantes, é, a meu ver, absolutamente inaceitável."
      (neste vídeo tem exemplos interessantes de "leveza" e "respeito" em Coimbra: http://www.youtube.com/watch?v=bl90LGNnc8c)

      É verdade que num artigo escrito Setembro de 2013 esse professor de Coimbra dizia que na sua Universidade a praxe não era tão bárbara como nas outras, e mesmo assim...

      "Por outro lado, as formas que têm tomado, cada vez mais violentas nos processos e nas linguagens – embora em Coimbra nada se passe de comparável aos exageros chocantes, tantas vezes criminosos, levados a cabo noutras universidades e escolas superiores – tendem a representar e a enfatizar alguns dos aspetos mais criticáveis e negativos dos tempos que vivemos, como o regresso do conformismo (a aceitação, de cabeça baixa e olhos no chão, do exercício arbitrário da autoridade), do elitismo (a presunção da condição estudantil como «própria», privilegiada e dissociada do todo social), da despolitização (a vivência deste tipo de experiência como preocupação central em tempo de crise gravíssima do país, das famílias e da própria academia), e do autismo cívico (exercendo-se sem qualquer ligação ou empatia real com a cidade, o meio circundante e até os outros setores da academia, que invariavelmente a ignoram ou desprezam)."
      (http://aterceiranoite.org/2013/09/28/ainda-as-praxes/)
      Do mesmo professor há um post recente, muito interessante, sobre os mitos ligados às praxes:
      http://aterceiranoite.org/2014/01/26/cinco-mitos-em-torno-das-praxes/

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    4. Helena,

      A Helena quer diabolizar toda a Praxe à força toda, indiscriminadamente, já todos percebemos.

      Sabe quantos alunos tem a Universidade de Coimbra por ano? Vinte e tal mil. Multiplique este número por todos os anos lectivos dos últimos 20 anos, vá. Tem noção do número irrisório de casos de abusos de praxe que estamos a debater??

      A sua perspectiva sobre a praxe é tão válida como a minha, que é a contrária, e eu respeito-a. Mas parece-me que citar sistematicamente um tal de Rui Bebiano não legitima que se deite abaixo a toda a praxe pelo país fora (e muito menos a da UC). Aliás, as citações e os argumentos teóricos baseados em estudos do Rui Bebiano e outros fazem-me compreender que a Helena tem um profundo desconhecimento prático das coisas que estão aqui em causa. Eu compreendo-a. Realmente, é preciso viver certas coisas para compreendê-las. E por isso também eu já cheguei à conclusão que falamos línguas diferentes, e falamos de universos diferentes.

      Aliás, o Rui Bebiano fala em autismo: eu também me parece que há muito autismo da parte dos detratores da Praxe: só veem uma parte da realidade.

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    5. Andorinha,
      alguns dos meus melhores momentos académicos foi com os meus (muitos) amigos de tunas, de grupos de fados, da Pitagórica e, sim, também das repúblicas: Ay-Ó-Linda e Solar dos Symbas, sobretudo. É indescritível a alegria, a irreverência, a camaradagem, a generosidade que eu presenciei em todas as repúblicas, onde sempre fui bem recebida. Os centenários das repúblicas são sempre inesquecíveis.

      Fiz trupes de veteranas :)) Experiências únicas!

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    6. "um tal de Rui Bebiano" - hahahaha

      Pensa que eu não vivi nada disso?
      No ano anterior ao meu, quando a antiquíssima tradição da praxe estava a começar de forma incipiente, os caloiros tiveram direito a uma aula dada por um aluno mais velho.
      No meu ano, tivemos direito a uma aula dada por um aluno mais velho, e a água suja atirada para cima de nós - a água que estava num balde de limpar o chão.
      No meu segundo ano, as caloiras já tinham de fazer poses sexy no palco do maior anfiteatro, com orelhas de coelhinhas da Playboy. A seguir vieram as pinturas, a farinha, os casacos estragados, os cabelos cortados. Quando eu saí da universidade, já os via a serem obrigados a simular relações sexuais no relvado da faculdade.
      O meu irmão, dois anos mais novo que eu, combinou com uma amiga minha ser apadrinhado por ela, para ter a certeza que não lhe faziam barbaridades. Safou-se, não é? E os outros, que não tiveram a sorte dele?
      E por aí foi. De ano para ano, a violência subia de grau.
      Foi isto que eu vivi. Realmente, é preciso viver certas coisas para compreendê-las.

      Pergunto: o que a incomoda tanto em retirar dos códigos da praxe os insultos (chamar "bicho" a um grupo é um insulto), a tralha paramilitar, os tiques autoritários, os castigos corporais? Porque é que a praxe não é transformada em processo de acolhimento dos estudantes mais novos baseados, antes de mais, num profundo respeito?

      Não tenho absolutamente nada contra convívios, sessões de informação, tutores (padrinhos) para os estudantes recém-chegados. Mas é preciso mesmo que tudo isso se baseie em tiques de autoridade e submissão?

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    7. A Helena estudou em Coimbra? Se não, não viveu na mesma academia que nós, e como tal nunca vai compreender do que nós estamos a falar. E quando eu lhe dei a bicicleta e os pedais, foi porque este é o tipo de argumentação que não leva a nada, porque nós nunca lhe vamos conseguir explicar algo que para nós é verdade e que, não tendo estudado em Coimbra, não compreende e não vai nunca compreender.
      Só a título de explicação, em Coimbra os homens não podem ter madrinhas, só padrinhos, e as mulheres madrinhas, nunca padrinhos. Exactamente para prevenir abusos e situações pouco ortodoxas. Eu fui madrinha de duas raparigas e se há coisa que fui, foi tutora de ambas. Fui com elas escolher os horários, ensinei-as a fazer um calendário de exames e dei-lhes os meus apontamentos e as aulas gravadas que tanto me custaram a desgravar. Foram comigo a jantares de curso, brincaram e conheceram pessoas da idade delas e da minha, e ainda hoje são minhas amigas. Eu compreendo que esteja traumatizada, mas continua a não compreender que Coimbra não é Braga, Lisboa ou o Porto, Aveiro ou a UTAD. E não conhece as regras da praxe de Coimbra, senão saberia que é estritamente proibido desde sempre deitar o que seja pra cima dum caloiro ou sequer um homem dar ordens a uma mulher, seja ela caloira ou não, e vice-versa.
      Nunca ninguém foi autoritário comigo, nem eu sou nem nunca foi submissa, e a Zôzô tão pouco.
      Como disse a Zôzô, pode citar quem quiser, continua a ter um profundo desconhecimento do que é a praxe académica de Coimbra.

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    8. Bem, o "tal Rui Bebiano" fala a partir de dentro: conhece a praxe como aluno e como professor. E também há um tal de Elísio Estanque, professor em Coimbra, que estuda isto a sério em vez de mandar umas bocas à luz das suas recordações nostálgicas, conta casos muito pouco dignificantes a que assistiu em Coimbra (http://www.publico.pt/sociedade/noticia/as-praxes-e-o-poder-1621286) e acrescenta: "Muitos estudantes alegam que os abusos nada têm a ver com a “verdadeira” praxe, que é integradora e se oferece como oportunidade de socialização dos caloiros, sendo que muitos destes argumentam que o ritual da praxe é onde se geram as amizades mais sólidas. Em favor dessas opiniões, importa reconhecer que nem todas as praxes são violentas e humilhantes, e que continuam a existir brincadeiras inteligentes, que veiculam uma irreverência juvenil saudável que importa preservar no meio estudantil. Receia-se, porém, que esses casos sejam hoje a exceção e que o processo de perversão seja imparável."

      Portanto: posso citar quem quiser. Podem ser estudantes ou professores de Coimbra, não interessa. A única realidade que existe é a da Zôzô e a da Andorinha. Então está bem.

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    9. Helena, eu fiz-lhe uma pergunta: a Helena estudou em Coimbra? Não estudou pois não? Por isso sabe lá bem se o Rui Bebiano ou o Elísio Estanque estão certos ou errados. A Helena não viveu lá, não sabe. Não sabe, não sabe..... não se pode fazer nada, agora já não tem idade para para lá voltar :)

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    10. Ah ah ah ah! Andorinha, só tu para me fazeres rir nesta tarde cinzenta!! Andorinha, a Helena não está a perceber que o que ela chama de “convívios, sessões de informação, tutores (padrinhos)” foi tudo o que nós tivemos, com umas brincadeiras pelo meio. Alguma vez viste farinha? Tralha paramilitar? Castigos corporais? Eu também não, era o que mais me faltava.

      E não, Helena, não me incomodo nada que me tenham chamado bicho, besta, e afins. Porque tenho a clareza mental e o hábito salutar de saber distinguir uma brincadeira colectiva de uma ofensa pessoal. A minha integridade física sempre esteve intacta (nem sequer é permitido pintar a cara aos caloiros), e o meu Eu, a minha individualidade, é suficientemente forte para não se deixar afectar com coisas desse género. Senão… bem, senão não teria chegado ao que sou hoje, tinha ficado pelo caminho. Não é Andorinha? :)

      Ah, a Helena agora também fala de "um tal de" Elísio Estanque. (Olhe que ainda há tantos estudos científicos que ainda pode citar sobre a praxe coimbrã, e eu posso recomendá-los todos.) Que giro, por acaso (!) o Elísio Estanque foi meu professor, e conheço-o perfeitamente. Como docente e como pessoa, é alguém que muito admiro e uma pessoa bastante impecável. Conheço-lhe os estudos e também a sua opinião pessoal sobre a praxe. Mas não vamos agora embarcar nisso, senão nunca mais daqui saímos.

      Será preciso pedir aos meus amigos e colegas que venham aqui garantir à Helena que não sofreram horrores em Coimbra? Olhe, só não chamo para aqui antigos colegas meus para comentar porque eles devem ter certamente mais do que fazer. Têm entre 30 e 40 anos, estão ocupados nas suas vidas pessoas e profissionais (bastante bem sucedidas, em alguns casos). A terrível Praxe, por incrível que pareça, não os tornou delinquentes, nem pessoas traumatizadas para sempre. São pessoas normalíssimas e saudáveis, imagine. E ainda hoje nos reencontramos todos anualmente para recordar muita coisa boa e positiva que vivemos nesses tempos.

      Olhe, Helena, fora de brincadeiras: se viveu tormentos na sua praxe (com farinha à mistura e tudo), lamento muito. Sinceramente. Mas, infelizmente, não será essa experiência triste que apaga ou distorce a boa experiência que a Andorinha, eu e centenas de outros tiveram. Como sempre disse desde o início: praxes estúpidas e inúteis, não. Concordo consigo. Querer fazer generalizações e tornar a praxe em Coimbra naquilo que ela não é, isso é que também não.

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    11. Zozô, se na praxe que viveu não houvesse hierarquias, nem tiques de autoridade e obediência, mas apenas convívio bem disposto e sempre fundado no respeito de todos, a praxe que viveu ficava melhor ou pior?
      Quer dizer: pode-se tirar a componente "hierarquia" e "prepotência" da praxe, sem lhe alterar o carácter útil e lúdico, ou tirar-lhe a componente "submissão dos mais fracos" tira-lhe uma parte essencial? E porquê?

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    12. (E um pequeno esclarecimento, para o caso de o prof. Elísio Estanque ler isto: quando eu escrevi "um tal de Elísio Estanque" estava apenas a citar ironicamente o "um tal de Rui Bebiano" da Andorinha.)

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  7. Miguel Cardina (http://rccs.revues.org/654):

    "Dão-se, ao mesmo tempo, importantes variações nas vivências estudantis. A incapacidade de harmonizar os fundamentos de um discurso fortemente politizado com práticas que, por atenuadas que fossem, dificilmente deixavam de ser elitistas em relação ao exterior e hierárquicas no seu interior, leva a que, após o luto académico de 1969, a praxe apareça posta em causa com maior profundidade, eliminando-se resquícios que, mesmo que não contivessem já o lado punitivo e hierárquico de outrora, mantinham ainda um timbre paternalista ou “iniciático”. Na abertura do ano lectivo de 1970/71, consolidando o corte com a “retrógrada e tradicional perspectiva de integração praxística” (“Semana da Recepção aos Novos Alunos”, DG, 12-11-70), a DG promove uma iniciativa na qual, em vez da “inferiorização despersonalizante”, se aposta numa série de “colóquios e debates sobre os problemas actuais do estudante e da sociedade portuguesa” (ibidem). Nesse mesmo ano, o próprio Conselho de Veteranos trata de abolir o “rapanço”, como é então noticiado na revista Capa e Batina (CB, 1970, 35).

    35Um outro sinal desta alteração ocorre no âmbito das Repúblicas. Se, em 1948, a carta constitutiva do CR declarava que estas se encontravam “unidas pela praxe” e que a sua actuação estava circunscrita ao espaço académico coimbrão “salvo quando o que estivesse em causa fosse a defesa da praxe” (apud Alves e Roldão, 1985-86: 13), durante a década de 1960, a clara imbricação entre um movimento estudantil em afluxo contestatário e as Repúblicas, enquanto lugar relevante deste processo, provoca uma rotação na concepção destes espaços e no tipo de práticas internas (Carreiro, 2004). Em lugar de focalizarem na sua vertente mais boémia e jocosa, as Repúblicas passam a autodefinir-se como “centros de formação cultural do estudante, agrupamentos regidos pelo princípio democrático da autogestão, gozando de independência económica e ideológica, libertas de qualquer género de tutela” (OB, 05-1966, s.n.). Nos símbolos das Repúblicas recém-criadas, a moca, a tesoura e a colher de pau, são substituídas por outro tipo de representações. Em 1972, o aparecimento da República Rosa Luxemburgo, casa estritamente feminina, rompendo desta forma com um universo até então exclusivamente confinado ao sexo masculino, mostra bem como estes espaços se encontram já distantes da imagem que possuíam uns anos antes.

    13 A 11 de Dezembro, a República Bamus-Ó-Bira subscreveria o comunicado da ruptura. A República Pim-P (...)
    36Divergências quanto à estratégia proposta para a luta estudantil e o aprofundamento da crítica à “tradição académica” levam a uma cisão no seio do CR. Em comunicado datado de 28 de Novembro de 1970, três Repúblicas – Mil‑Y‑Onários, Trunfé-Kopos e Pim-Pim-Nelas – distanciam-se da estrutura, que consideram dominada por sectores reformistas que não põem “em causa as contradições sociais nas suas últimas consequências – a luta de classes” (“Requiem pelo Conselho de Repúblicas”, 28-11-70).13 Se bem que as repúblicas não fossem já os “baluartes da praxe” de outrora, permaneciam ainda vinculadas a um certo imaginário que é objecto de nota irónica por parte dos signatários: “O que restará ao CR será conservar a sua faceta tradicionalista, imbuída de um certo casticismo de fados, copos de vinho, campeonatos de matrecos e suecas com um fundo negro de capas e batinas. Enfim abandonamos!...” (“Requiem pelo Conselho de Repúblicas”, 28-11-70).

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  8. Helena, fique com a bicicleta que eu fico com os pedais. Efectivamente o mundo divide-se em dois, quem estudou em Coimbra, e o resto.

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    1. Nem mais, Andorinha! Eles não sabem nem sonham! :)

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    2. E é pregar aos peixes :) Sorte a nossa :)

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